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"Sou uma intérprete mais visceral, não sou para trio elétrico", diz Marina de la Riva

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Fotos: Carlos Lustosa Filho/CidadeVerde.com
 
Se fosse possível medir o sucesso de um show no Festival de Inverno de Pedro II, numa escala de zero a 10, levando-se em conta a quantidade de pessoas que tentam chegar até o artista após o show, provavelmente a cantora Marina de la Riva, atingiria a nota máxima. Apesar de ser pouco conhecida pelo público em geral e o piauiense em particular, esta cantora carioca de ascendência cubana conquistou a multidão que se aglutinou na praça Manoel Nogueira Lima no último sábado (13). Com um repertório de músicas brasileira e de clássicos da Ilha e uma desenvoltura cheia de expressão no palco, de la Riva arrebatou os corações da audiência que, após a apresentação, tentou de toda forma tirar uma foto, dar-lhe os parabéns, pessoas às quais ela atendia com solicitude e entusiasmo. Após a euforia da apresentação, a cantora conversou com o CidadeVerde.com e falou sobre sua carreira, a dificuldade de gravar o primeiro disco - que leva seu nome, lançado em 2007 – e “sus raíces latinas”.
 
Como música cubana aflorou em sua vida e por que gravar um disco mesclando Brasil e Cuba?
Felini diz que a arte é autobiográfica. Eu passei muito tempo procurando o meu repertório e percebi que estava procurando ele fora. Na minha casa, meu avô falava espanhol, eu respondia em português, talvez só na adolescência eu tenha percebido que eram dois idiomas. Era a língua da minha casa. a música foi vindo pra mim de todos os lados e se formando sem bandeira. Não era “Marina, esto es una habanera” ou “olha Marina, isso é bossa nova”, não. Era Secos e Molhados junto com Ernesto Lecuona com Chico Buarque, com o que você imaginar de música.

Então a mistura surgiu normalmente...
Eu tenho uma memória afetiva muito forte. O meu avô é uma referência emocional muito grande para mim. A minha avó eu não conheci. As poucas coisas que ela trouxe de Cuba foram discos, fotografias, um casaco e um quadro. Há uma história de que ela colocou uma faca, pôs no casaco e saiu. Eu a conheci através das escolhas dela. Então na hora que eu fui fazer o repertório e olhei para dentro, eu vi isso tudo.

Como foi o processo de gravação do disco e a participação do Chico Buarque?
Como eu não tinha gravadora, ninguém entendeu meu trabalho a princípio. Mas eu tive que fazer dar satisfação para mim. Demorei três anos (para gravar. De 2004 a 2007). Tudo o que deveria soar como Brasil, foi gravado aqui. Tudo que deveria soar como Cuba, eu gravei lá. Então eu andava com um HD, “caminante” que iria para lá e para cá. Então eu tive a benção do Chico Buarque ter aceito (o convite) e ainda cantar dentro desta minha proposta de cantar uma música no ritmo que eu tinha escolhido, um bolero.

Mas ele tem um histórico com a música latina...
Mas eu era ninguém, era não, eu continuo sendo ninguém! (risos)

Você acha que a música cubana já influenciou mais a música brasileira?
Nos anos 50, se ouvia música cubana no mundo inteiro. Tem até um artigo da Célia Cruz falando como surgiu o termo “salsa” - porque “salsa” não existe, né? Salsa é de comer – por conta disso, eles foram perdendo espaço e a revolução. Mas acho que a mãe África nos une. Meu avô falava que o único lugar que ele poderia ser feliz fora do país dele, seria o Brasil. E eu entendo o porquê hoje. Nós temos muitas afinidades.

A primeira vez que você foi a Cuba foi durante a gravação do disco, não é verdade?
A primeira vez que eu fui fisicamente, porque minha casa era Cuba. Tinha toda uma informação desde pequena que era muito forte. Eu não morava numa cidade grande, nem era cidade, era o terceiro distrito de Campos dos Goytacazes (RJ), morava em Baixa Grande da Leopoldina. Eu tive espaço para ser influenciada pela música, não tinha tantas informações urbanas. Essa coisa de morar todos juntos, falar espanhol e português, não tinha o que me tirar daquilo. Como está crescendo o meu filho em São Paulo. Ele se distrai com tantas informações. Eu não tinha nada pra fazer e ia ouvir música. Eu morava como aqui em Pedro II só que mais perto do mar.

Mas esta viagem mudou você de alguma forma?
Mudou, porque como eu fui trabalhar, eu tive inúmeras dificuldades. O gráfico emocional ia lá em cima e voltava. E tudo isso impregna na música. Já fui mais duas vezes e estou voltando na semana que vem para participar de um festival de bolero.

Embora você tenha gravado músicas mais animadas como “Tin tin deo”, você gosta muito de um bolero, uma música mais lenta e a música cubana nos remete muito à salsa...
Ah, (nesse estilo) tem também “La Caminadora”... Eu sou uma intérprete mais visceral, não sou pra trio elétrico (risos). Amo Ivete, mas não é do meu ser, eu não tenho esse pulso de estar dançando o tempo inteiro. Uma coisa é o estúdio, no vivo é outra coisa. As músicas do disco quando vão para o palco sofrem uma modificação de andamento e a vibração das pessoas.

Por falar em disco, quando sai o seu próximo?
Estou me preparando para gravar o DVD (do primeiro disco) com músicas novas. Estou trabalhando pra ele.
 

Ele vai sair quando?
Só Deus sabe. (risos) No meu an-da-men-to... de três em três anos (risos).  Se Deus quiser, vai sair este ano. Acho que não tem tempo, não estou fazendo uma coisa pra estar encaixada. Espero que saia, como deve sair, este ano, se não sair, tudo bem.

Fale um pouco sobre a sua banda
Banda, brasileiros e cubanos. Duas percussões, uma brasileira e outra cubana. Na parte brasileira tenho um baiano, nos teclados, tenho um pernambucano, na guitarra, um paulista e no baixo, às vezes um japonês. É a banda da Onu. (risos). Minha banda tem essa estética que é bem a cara do meu trabalho.
 
Carlos Lustosa Filho
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