Cidadeverde.com

Candida auris: saiba o que é o ‘superfungo’ que preocupa o mundo

Imprimir

 

Foto: Pixabay

 

Conhecido como "superfungo", o Candida auris (C. auris) tem causado preocupação em escala global devido à sua disseminação e resistência aos medicamentos antifúngicos. Somente entre maio e junho deste ano, nove casos foram confirmados em Pernambuco. O registro mais recente no Brasil foi reportado em 8 de junho em Campinas, envolvendo um bebê prematuro. 

No Brasil, a primeira infecção foi identificada em Salvador, em 2020. A superlotação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, juntamente com a redução da capacidade dos serviços médicos de seguir as boas práticas de controle de infecções, facilitou o surgimento do fungo. Ao todo, desde então, foram registrados pelo menos 77 casos de Candida auris no país.

Segundo o infectologista Arnaldo Lopes Colombo, na época da identificação desses primeiros casos, nenhum dos pacientes tinha histórico de viagem.

"Era uma época de pandemia, então concluímos que foram casos autóctones, ou seja, os pacientes entraram em contato com o fungo que estava presente no ambiente. Retidos no ambiente hospitalar, com todas as complicações já mencionadas, eles passaram de colonizados para infectados", explica o professor titular da disciplina de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

De acordo com a Agência de Vigilância Sanitária, em dezembro de 2021, foi confirmado um novo caso em Salvador, na Bahia. Pouco tempo depois, em janeiro de 2022, um hospital em Recife, Pernambuco, notificou uma nova suspeita. Ao todo, foram 47 casos, ou seja, o terceiro surto de C. auris no Brasil.


Infecção de difícil controle

O Candida auris não faz parte da microbiota humana, mas está presente no ambiente e representa perigo porque pode causar surtos em estabelecimentos de saúde.
 
Segundo Colombo, é possível que o fungo sobreviva na pele ou nas mucosas de uma pessoa saudável sem causar problemas à sua saúde. Dessa forma, ele pode ser transportado do ambiente para os hospitais. 

"No ambiente de terapia intensiva, aproximadamente 20 a 25% dos pacientes que entrarem em contato com o fungo serão infectados", afirma Colombo. Outros fatores de risco incluem o uso de imunossupressores, antibióticos de amplo espectro ou antifúngicos, cirurgia recente e doenças crônicas como diabetes e doença renal crônica.

Outra característica que torna o C. auris super-resistente é a sua capacidade de aderir tanto a tecidos vivos quanto às superfícies inertes, como dispositivos médicos. 

Segundo infectologista Filipe Prohaska, do Complexo Hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE), a presença de dispositivos médicos permanentes que perfuram a pele, como cateteres venosos centrais, pode atuar como uma porta de entrada para o fungo na corrente sanguínea dos pacientes.

Caso o fungo alcance o sangue, ele pode se espalhar para outros órgãos e causar candidíase invasiva, ou seja, uma infecção generalizada. 


Diagnóstico é difícil

A prevenção da colonização e a vigilância são fundamentais para monitorar pacientes com risco de infecções por Candida auris. A maioria dos infectados já está doente e, por isso, o diagnóstico é complexo. Os sintomas comuns da candidíase invasiva, de acordo com o CDC, são febre e calafrios que não melhoram após o tratamento com antibióticos, além da ausência de infecção bacteriana.

No entanto, apenas um teste de laboratório pode diagnosticar a infecção por C. auris. Colombo explica que hospitais com casos suspeitos que não possuem a tecnologia necessária para fazer as análises devem procurar laboratórios de referência para realizar o diagnóstico.  

Caso haja suspeita de colonização ou infecção por Candida auris, os pacientes devem ser mantidos isolados, em quartos individuais sempre que possível.


Tratamento 

“Quando há infecção, o risco de letalidade é alto porque você não tem muitos medicamentos disponíveis e o paciente já tem fatores de risco envolvidos. O que a gente faz para tratar são combinações de antifúngicos diferentes, mas o problema é que esses medicamentos são muito tóxicos para os seres humanos. Imagine a combinação de dois? Então, estamos sempre colocando na balança o benefício da terapia com a toxicidade do tratamento”, diz o infectologista Filipe Prohaska.

Uma boa notícia é que, segundo o infectologista, no último Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, que aconteceu em Copenhague este ano, foram apresentadas duas novas classes de antifúngicos ainda não comercializadas, cujas pesquisas mostraram sucesso no tratamento de Candida auris.

"Há muito tempo não se via o surgimento de novas classes de antifúngicos e este ano fomos apresentados a duas novas, que devem ser desenvolvidas. É uma boa notícia, mas também nos leva a pensar que, quando essas duas classes chegarem, pode ser que controlem a Candida auris, mas qual será a nova espécie resistente que surgirá em seguida? Com bactérias é assim, um novo medicamento é lançado, utilizamos, mas logo surgem bactérias resistentes. Não deve ser muito diferente com fungos, esses microrganismos se adaptam muito rapidamente", pondera.

 


Da Redação com informações da Agência Einstein
[email protected]

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais