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Pais e mães tóxicos usam manipulação emocional e depreciação com filhos

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Foto: Eduardo Araujo / AgNews

 

Ao mesmo tempo em que se populariza a educação positiva entre novos pais e mães nas redes sociais, mais filhos relatam que tiveram familiares "tóxicos" durante sua criação.

O termo "tóxico", que foi escolhido como palavra do ano pelo dicionário Oxford em 2018, é usado de forma popular para identificar situações de violência psicológica em diversos relacionamentos, inclusive o parental.

Nele, xingamentos, gritos, manipulação emocional, falas depreciativas e chantagens são comuns, segundo a psicóloga da família Manuela Moura, professora do Cefac Bahia (Centro de Estudos da Família da Bahia).

"Durante muito tempo a gente encarou agressão familiar como algo que tinha cunho físico. Depois a gente percebeu que existem outras modalidades de violência que não deixam marcas visíveis", diz a psicóloga.

Segundo ela, muitas vezes as crianças submetidas a esse tipo de criação se tornam adultos que não acreditam que podem ser amados.

Ainda na infância, há relatos de depressão desenvolvida em meio à violência familiar, afirma a psicóloga Belinda Mandelbaum, coordenadora do Lefam (Laboratório de Estudos da Família), da USP (Universidade de São Paulo).

A criança não identifica a violência psicológica por não ser explícita, diz Moura. "O problema é que o sujeito realmente acredita que ele vale pouco. Ele só vai perceber [a violência] quando tiver condição de enxergar os pais como pessoas com qualidades e defeitos, o que geralmente ocorre na adolescência".


COMO IDENTIFICAR UM PAI OU MÃE TÓXICOS

Nem toda desavença se enquadra como violência familiar. Alguns casos podem ser mal-estar provocados pelas diferenças entre as pessoas, como é comum em todos os tipos de relacionamento.

Um alerta que pode diferenciar algo natural de um ambiente tóxico, porém, é o medo, diz a psicóloga Moura.

"Medo de falar, de dizer o que pensa, de sustentar suas opiniões, de se vestir como quer", afirma. "Ou quando você se vê induzido a fazer algo que não quer, em nome da garantia do amor da figura parental".

A OMS (Organização Mundial da Saúde) define violência intrafamiliar como "toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de outra pessoa da família".

Já a violência psicológica é definida como "toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem".


QUAL A HORA DE SE AFASTAR?

Antes de pensar em cortar relações, as especialistas recomendam que seja avaliado se a situação familiar é uma dinâmica constante ou um momento específico que ela está atravessando -como luto ou separação. No segundo caso, aconselham esperar o período passar.

Caso seja constante e os pais não estejam abertos a uma reparação, pode ser a hora de se afastar, diz Moura. "Em alguns momentos, a gente precisa entender que não dá. O amor não é garantido só porque é pai ou mãe".

Ela alerta, porém, que muitas vezes a pessoa pode até mudar de país, mas a dinâmica familiar continua com ela. "Não necessariamente a distância física garante proteção, porque você passou anos da sua vida se relacionando dessa maneira", diz a professora do CEFAC.

Segundo ela, a ruptura com o ambiente familiar tóxico está mais no processo de autoconhecimento do que no afastamento físico, apesar de a distância diminuir o contato com o sofrimento.


É POSSÍVEL HAVER RECONCILIAÇÃO?

Depois de afastamento e processo de autoconhecimento, é possível se reaproximar de pais considerados "tóxicos", mas isso não depende apenas do filho.

"Isso está muito direcionado à capacidade de reparação da família, do familiar perceber e refazer sua posição. Essa pessoa também precisa mudar. O filho se reaproxima se aquele outro não for o mesmo que era", diz Moura.

Mandelbaum afirma que os agressores também precisam de tratamento, porque muitas vezes foram vítimas na infância, e não devem ser demonizados.

 

Fonte: Folhapress

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