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Mãe que perdeu prova em 2022 por doença do filho faz Enem

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Foto: Paula Sampaio/Cidadeverde.com


Por Paula Sampaio

“Eu acredito muito no poder da mudança através da Educação”. É assim que Carmina Carvalho, 45 anos, mãe de dois filhos e dona de um pequeno comércio no bairro Santa Maria, na zona Norte de Teresina, começa a contar sobre sua história. Ela chegou, pontualmente, às 11h, à sede do Instituto Federal do Piauí (IFPI) para fazer a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo (05). 

“Eu quero Farmácia, mas não sei se vou conseguir nota o suficiente. É uma nota muito alta, quase igual a de Medicina. Eu já tenho um filho, então, fica um pouco difícil ter o tempo para se dedicar”, relatou enquanto observava a caneta preta que carregava em mãos. 

Com uma personalidade tímida, mas bastante acolhedora e decidida, a comerciante foi revelando mais detalhes do que a levou até aqui, na manhã deste domingo: “Foi o meu irmão que me incentivou a vir, inclusive, foi ele quem pagou a minha inscrição”, disse e completou descrevendo que o irmão citado é doutor em química pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). 

Relembrando que aconteceu em meados da gestão do ex-governador Alberto Silva, anos 80 e 90, Carmina contou que a família vem de origem humilde, do interior, e chegou a passar fome. 

No dias atuais, o apoio extra dado pelo irmão à Carmina Carvalho tem um motivo: ano passado ela chegou a inscrever-se para fazer o ENEM, mas, não pode vir porque o filho pequeno, de dois anos, ficou doente na data. 

“Ele estava vomitando muito e também não deu para ir, porque eu moro no bairro Santa Maria e eles colocaram para que eu fizesse lá na Vila Irmã Dulce. Era longe demais pra mim”, declarou. 

A força extra para que ela viesse fazer a prova esse ano também veio também de fora da família. A mãe chegou ao local da prova em uma motocicleta, de carona com um cliente de seu comércio: “Eu viria de mototáxi, quando ele apareceu por lá e perguntou para onde eu iria aí disse ‘bora, que eu te levo lá”, declarou. 

A vontade de cursar Farmácia vem de muitos anos e revela também sobre a personalidade da mulher e um pouco mais sobre sua história de vida.

“Eu cursei Análises Clínicas, trabalhei dois anos como voluntária, depois fiz estágio no Natan Portela, até conseguir entrar para o corpo de profissionais mesmo. Mas, depois que tive minha primeira filha, que tem 11 anos, tive que sair, fomos morar em um lugar diferente, não conhecia ninguém, e abri a minha venda e é de lá que tiramos o nosso sustento desde então. Um dos arrependimentos que tenho é de não ter ido logo cursar Farmácia, assim que conclui o técnico. Acho que é uma profissão que podemos ajudar as pessoas. Na época que trabalhava no hospital tinha tanta gente do interior que vinha no final de semana e estava fechado, mas mesmo assim eu fazia [a coleta do sangue] para não darem a viagem perdida”, contou. 

Hoje, além do próprio objetivo acadêmico, Carmina fala com sabedoria sobre a própria trajetória e sobre o futuro que projeta para a sua filha mais velha: “Eu digo é muito para ela ver o exemplo do padrinho dela, meu irmão. Somos cinco irmãos, a gente veio lá da roça e a tia ensinou pra gente que só a educação transforma a gente. Eu digo muito mesmo pra ela que não existe marido melhor no mundo do que um bom emprego. Pode até receber cartinha do namorado, mas é com a cartinha de um lado e o livro na outra mão”, brincou.

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