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Entenda por que alguns compostos presentes na pele podem atrair ou repelir o Aedes aegypti

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Foto: Freepik

Até o Aedes aegypti tem os seus preferidos. Segundo especialistas consultados pela reportagem, há algumas substâncias presentes no nosso corpo que podem nos tornar mais ou menos atrativos para o mosquito transmissor da dengue e de outras doenças.

Cada pessoa libera no ar uma composição única de substâncias voláteis. Embora já se soubesse que algumas são particularmente atrativas para o mosquito da dengue -em especial alguns ácidos carboxílicos, como o lático- novas evidências mostram que podem haver também compostos que afastam esse vetor, como terpenos.

Um estudo publicado este ano na revista científica Scientific Reports (do grupo Nature) revela que terpenos como o geraniol e até mesmo alguns ácidos carboxílicos, como os ácidos 2 e 3-metilbutírico, são menos atrativos para os mosquitos.

O Aedes é capaz de detectar essas substâncias através do seu sistema olfatório -ele possui receptores de odor nas suas antenas- e se sente repelido por elas. Colocados em uma caixa fechada e filmados, os pesquisadores contaram o número de pousos que cada animal fez sobre grades embebidas tanto nos compostos testados, quanto em ácido lático usado como controle.

O geraniol reduziu em 74,9% o número de aterrissagens do animal, enquanto os ácidos 2 e 3-metilbutírico reduziram em até 99,6%.

Mais interessante ainda é que as substâncias testadas são produzidas pela nossa microbiota, o conjunto de microrganismos que habitam a nossa pele. Para chegar até elas, os pesquisadores caracterizaram as substâncias voláteis produzidas por 39 diferentes cepas de bactérias encontradas no corpo humano. Depois, testaram a preferência e a rejeição dos mosquitos, até chegarem ao geraniol e aos ácidos 2 e 3-metilbutírico. Segundo os pesquisadores, através de estudos como esse é possível fazer a prospecção de candidatos a futuros repelentes naturais.

A microbiota contém uma combinação de bactérias e outros microrganismos diferentes em cada um de nós. Dependendo do conjunto de organismos que vivem em associação, é possível que seja produzida uma quantidade maior ou menor dessas substâncias atrativas para o inseto.

Os pesquisadores suspeitam que esse fator é fundamental para definir o nível de atratividade de cada pessoa para o Aedes. Pesquisas conduzidas com outras espécies de mosquitos apontam para uma forte relação entre ambos os fatores. Para Bárbara Chaves, bióloga e pesquisadora do ITpS (Instituto Todos pela Saúde), é plausível pensar que a mesma relação exista no caso do vetor da dengue.

Segundo ela, estudos como esses são importantes porque podem trazer resultados práticos para o nosso cotidiano. "Conhecendo os fatores que atraem o mosquito, podemos pensar em repelentes capazes de disfarçar a produção dessas moléculas", afirma. "Há muita pesquisa para ser feita até lá".

Desde 2022, sabe-se que alguns ácidos carboxílicos, em especial o ácido lático, são atratores para o Aedes. Uma pesquisa publicada na Scientific Reports fez a extração de um conjunto de substâncias da pele humana separou as moléculas ali presentes a partir da resposta dos mosquitos aos odores. No final, descobriram que uma mistura de ácido 2-cetoglutárico e ácido láctico favorecia o pouso dos insetos mesmo em doses muito pequenas.

No mesmo ano, resultados semelhantes foram publicados por outro grupo de pesquisadores na revista científica Cell. Ao mesmo tempo que mostraram que existe uma relação direta entre a quantidade de ácidos carboxílicos emanados pelos participantes e o número de picadas sofridas, os especialistas descobriram que mosquitos com modificações genéticas nos receptores dessas substâncias mantiveram a capacidade de encontrar seus alvos preferidos.

Apesar da preferência, Chaves alerta que ninguém está a salvo, uma vez que o A. aegypti precisa se alimentar de sangue, independente de suas preferências gustativas. Mesmo que ele seja mais impiedoso com aqueles que produzem ácidos como o lático, o mosquito tem a capacidade de picar várias pessoas em um curto espaço de tempo, e não deixa passar uma boa refeição.

Vale lembrar que são as fêmeas que sugam o sangue, necessário para a reprodução.

Além dos ácidos carboxílicos, o gás carbônico eliminado pela respiração e a temperatura da nossa pele também contribuem para a atração do mosquito. Estudos preliminares mostram que outras substâncias eliminadas pelo corpo podem servir de atrativo, como naqueles que consomem bebidas alcoólicas, a prática de atividade física, a gravidez e até fatores genéticos. Por outro lado, por conta de várias evidências contraditórias, os especialistas concordam que o tipo sanguíneo não está associado à preferência dos mosquitos.

Para Gabriel Berg, infectologista e professor da Unesp, esses vários fatores estão diretamente relacionados à emissão de dióxido de carbono e à temperatura do corpo. É o caso dos próprios pacientes com dengue, que acabam atraindo os mosquitos por conta da febre alta. Todas essas variáveis se combinam de forma complexa, portanto, ainda não é possível determinar quem são mais suscetíveis.

Atualmente, repelentes à base de icaridina (20 a 25%), DEET (10 a 15%) ou IR3535 são recomendados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia na prevenção ao Aedes. Seu uso é indicado durante o dia, especialmente no início da manhã e ao entardecer, quando o mosquito está mais ativo. Também é importante ficar atento para as reaplicações periódicas do repelente, que garantem o máximo de eficiência.

No combate à dengue, também é possível agir coletivamente, buscando reduzir as populações do mosquito através do controle dos criadouros. Isso pode ser feito, sobretudo, evitando manter água parada em recipientes e ajudando o trabalho dos agentes de saúde pública.

 

Fonte: Folhapress/Acácio Moraes

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