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Casos de violência psicológica contra mulher disparam no Brasil; veja como identificar e denunciar

Por SBTNews

Foto: Arquivo Cidadeverde.com

O registro de casos de violência psicológica no Brasil teve um aumento significativo: foram mais de 76 mil denúncias no 1º semestre deste ano, quase 60% a mais do que no mesmo período de 2023, segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Em geral, associa-se a violência contra mulher à agressão física, mas a psicológica está presente em todos os tipos de violência contra a mulher, que podem também ser sexual, moral (que envolve xingamentos) ou patrimonial, quando o homem impede a autonomia financeira da mulher.

É o que relata a balconista Renata Cristina Elfim, que sofreu diversos tipos de violência de seu ex-marido durante os seis anos de casamento, entre elas a psicológica:

"Ele falava que ninguém ia me querer, só ele; que eu sempre estava acima do peso, que eu não era formada, sempre mexendo com a minha autoestima, até dizer que eu estava maluca, que eu era louca e eu comprei essa ideia e fui ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)", relata.
Muitas vezes, é difícil para a vítima entender a violência psicológica como um problema. "Eu não entedia que aquilo era uma violência psicológica, achava que ele me amava", disse.

A psiquiatra Flavia Ismael ressalta que a mulher que sofre violência psicológica pode, de fato, adoecer e desenvolver um quadro depressivo e ansioso. Além disso, proteger as mulheres contra a violência psicológica também é uma forma de proteger seus filhos.

"Isso também evita que elas, as crianças, adoeçam na vida adulta e perpetuem a violência quando forem maiores", ressalta.
Dois anos após a separação e com medida protetiva contra o ex-marido, Renata (nome fictício) ainda faz acompanhamento psicológico em um ambulatório para as vítimas de violência doméstica, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

De acordo com Valéria Scarance, promotora de enfrentamento à violência contra a mulher, a violência psicológica é um crime previsto em lei desde 2021, e a responsabilização não significa necessariamente prisão, mas pode garantir a proteção da mulher.

Além disso, segundo ela, as medidas protetivas estatisticamente libertam a mulher da situação de violência e impedem a progressão de comportamentos violentos.

Como funciona a manipulação em uma violência psicológica?
Apesar de ser a mais comum, às vezes ela não é compreendida com facilidade, "já que nem sempre é agressiva e, sim, opera manipulando, humilhando e constrangendo", explica a advogada constitucionalista Luana Ãltran.

"Mesmo que o companheiro chegue dizendo que é para proteger, que se preocupa, isso pode estar disfarçando uma forma de violar a autonomia da mulher", afirma.
Os sintomas desse tipo de abuso podem vir com vigilância constante da/o parceira/o, violação da intimidade (ou seja, quando você deixa de fazer escolhas por vontade própria), além de ameaças e constrangimentos, que acabam sendo mais explícitos. Em todos os outros casos da violência, no entanto, há algum tipo de manipulação por parte do agressor.

Segundo a advogada, existem dois tipos principais de manipulação por parte dos homens:

Afeto – Utiliza o sentimento para controlar comportamentos e atitudes: "se você fizer isso, significa que não me ama".

Costumes sociais e crenças religiosas – Usar a religião para o controle de comportamento ou para exigir que só fique à disposição dos filhos e da família.

"Muitas vezes as pessoas dizem que enxergam as mulheres como seres humanos de direito, mas, na prática, agem como se ela fosse uma coisa feita somente para servir: o homem, os filhos, a família e etc", ressalta.

A violência pode acontecer e acabar?
A violência tem um ciclo. Segundo a psicanalista Vera Cristina, esse ciclo de manipulação tem três pilares: a tensão, a prática da violência em si e a reconciliação.

"É um ciclo considerado universal. A tensão pode aparecer por violências verbais, humilhações; depois vem a violência, seja ela qual for; e depois a tentativa de reconciliação, a chamada 'lua de mel', em que a pessoa tóxica faz de tudo para ter uma reaproximação e, na sequência, repete o ciclo", explica.

O que fazer se for vítima?
As mulheres podem solicitar medida protetiva indo até a Delegacia da Mulher ou a qualquer delegacia de polícia mais próxima. Ela pode ser solicitada em casos de violências psicológica, sexual, física, moral ou patrimonial.

Além disso, outras ferramentas jurídicas são o próprio divórcio e processar a/o agressor/a. Desde 2021, a violência psicológica contra mulheres é tipificada como crime no Brasil, com pena de 6 meses a 2 anos de reclusão e multa.

A especialista recomenda reunir prints de conversas, áudios e gravações como provas em um possível caso de violência.

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