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Relatório da FIA aponta que acusações são verdadeiras

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A investigação que a FIA conduziu sobre o caso Cingapura concluiu, após a denúncia de Nelsinho Piquet, dados da telemetria e (a falta de) declarações de Pat Symonds que as acusações do piloto brasileiro referente ao acidente deliberado é, "em larga parte, verdadeiras".

O dossiê detalha datas e dados, legenda telemetria e indica esboços de respostas de Symonds que acabam representando uma confissão indireta do plano que armou uma batida de Nelsinho na volta 14 daquela corrida para beneficiar Fernando Alonso, que acabou como vencedor.

Piquet foi convocado para ir à sede da FIA em Paris para prestar depoimento sobre o episódio cingapuriano quatro dias depois de seu pai, Nelsão, avisar Max Mosley do ocorrido. Nelsinho esclarece que participou de uma reunião com Flavio Briatore e Symonds em que ficou acordado o acidente proposital entre as voltas 13 e 14, fato que se daria depois da parada de Alonso nos pits para troca de pneus e reabastecimento.

Além do já divulgado dias atrás, Nelsinho explicou que, para perder o controle de seu carro na saída da curva 17, tocou o acelerador antes do previsto. Quando estava rodando, instintivamente tirou o pé do pedal e depois voltou a pressioná-lo, "quase 100%", até haver o choque no muro de concreto. "Os dados de telemetria mostram claramente isso", afirmou Piquet.

A telemetria abaixo aponta que o traço da aceleração, vermelho, aponta o dito por Nelsinho, que deu 100% no pedal antes do normal para induzir a uma rodada, a tirada de pé (A) e a reaceleração total para chegar no momento da batida (B).


De posse da acusação de Piquet, investigadores da agência especializada Quest, os comissários do GP da Bélgica — Lars Osterlind e Vassilis Despotopoulos, ambos membros do Conselho Mundial da FIA, e Yves Bacquelaine —, e Herbie Blash, observador da FIA, deram início às investigações, entrevistando funcionários da Renault e Alonso, e a posteriori chamaram Symonds.

Posto na parede em 27 de agosto em Spa-Francorchamps, o diretor da Renault foi questionado sobre a reunião e o que foi dito nela, a batida na volta 14 e o encontro com Piquet para definir o lugar específico do ato. Para nenhuma destas perguntas houve uma negativa, algo que seria comum se não houvesse participação no plano. Blash ainda comentou que a "falta de vontade" em colaborar poderia significar uma confissão, e Symonds rebateu que "esperava isso". No dia seguinte, Pat foi novamente convocado, e pouco acrescentou — após ter conversado com Briatore, que havia chegado à pista belga.

Briatore, então, foi o alvo. Negou tudo. Disse que ficou sabendo por um membro de sua empresa de gerenciamento de pilotos sobre a acusação da armação e que foi, tal como já dito, vítima de extorsão da família Piquet e que levaria o caso à justiça se este viesse à tona.Foi o que fez.

Só depois das entrevistas feitas que a FIA e a Quest tiveram acesso aos dados da Renault, em disco, e à transmissão de rádio. As informações da equipe apontavam as estratégias de corrida, que davam a Alonso a chance de parar duas ou três vezes. Em ambas, o espanhol largaria com uma quantidade de gasolina parca, de 63 kg, que o faria ir aos pits na volta 14. Para Nelsinho, a tática seria de duas paradas, com combustível considerado normal, nas voltas 28 e 44.

Symonds acabou, então, mudando o estratagema de Alonso durante a corrida, fazendo-o parar duas voltas antes do previsto.

As gravações de rádio mostram um Symonds nervoso por Alonso estar perdendo tempo sem conseguir superar um rival. "Enquanto estivermos atrás de (Kazuki) Nakajima, estamos fodidos", bravejou. Um engenheiro concordou, dizendo que "sim, vai foder nossa estratégia de três paradas completamente".

Symonds surpreendeu o engenheiro — e daí imaginar que ninguém mais na Renault sabia da conspiração — com a informação de que não seriam mais três paradas. O funcionário lembrou que, pelo desenrolar da corrida de Alonso, a ida ao pit poderia acontecer na volta 15 ou 16. Respondeu Symonds: "Não se preocupe com o combustível porque eu vou tirá-lo desse tráfego mais cedo."

Enquanto Symonds "lamentava" Alonso não passar Nakajima, o dirigente reclamava um suposto problema nos computadores. O japonês da Williams, então, passou Jarno Trulli. No giro seguinte, o espanhol fez o mesmo, mas permitiu que Kazuki abrisse 4s de vantagem.

Concomitante a isso, Piquet perguntava em que volta estava. Era a 8. A um engenheiro, que pensava que a dúvida de Nelsinho se dava por conta do consumo de gasolina, Symonds falou que "só fala para ele que está... está para completar... completar a volta 8". O brasileiro explicou que não conseguia ver a placa dos boxes.

Apesar de começar a andar quase 1s5 mais rápido que Nakajima, Alonso avisou que estava com problemas de aderência em seus pneus. Apareceu na história Briatore, que disse: "Não tem como passar Nakajima com esses pneus".

Aí Symonds "mudou" a estratégia. Apontou que Alonso pararia na 12, "porque parece que vai dar certo". Um engenheiro perguntou a Pat "se não era um pouco cedo", e Symonds "teimou". Briatore concordou com um "não temos nada a perder". Alonso, então, fez sua parada.

"Certo, vamos nos concentrar em Nelson", comentou Symonds. Piquet estava à frente de Rubens Barrichello e, apesar da pressão, conseguia se manter à frente. "Fala para ele pisar fundo", pediu Briatore. Symonds começou a observar o tempo de volta de Nelsinho. Trinta segundos depois, o brasileiro abria a 14.


Fonte: IG
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