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Criança de 1 ano morre em Piripiri; Família crê em negligência

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Perplexidade. Talvez esta seja a palavra que melhor se adeque ao sentimento vivido pela população de Piripiri (160 km de Teresina) atualmente. Tudo por conta da morte do garotinho Mário Vitor dos Santos Ferreira, de apenas 1 ano e 4 meses de idade, no último domingo (3). Ele foi levado pela família ao Hospital Regional Chagas Rodrigues para tratar de uma suposta gripe e após uma série de procedimentos e tentativa de transferência para a capital, acabou falecendo na ambulância, no município de Capitão de Campos.

De acordo com a tia da criança, Célia Ferreira, ainda há uma parte da história que está obscura. “Ele estava gripado, com o nariz entupido. A mãe dele foi ao hospital às 13h, mas como o estado não era grave e havia muita criança, disseram para ela ir para casa. Às 16h30, ela voltou novamente para ver o médico. O Mário Victor corria, mexia com as outras crianças que estava lá. Era menino muito saudável. Então o médico de plantão que era novato administrou um aerosol e depois hidrocortisona com aminofilina. Depois disso, o menino ficou agitado e começou a pirar”, descreve, emocionada.

Célia, que é técnica de enfermagem em Teresina afirma que com o quadro se agravou, a criança teve aumento de glicemia e pressão. “Mesmo que eles tenham tentado fazer o possível e o impossível, não tinha ambulância com suporte. Já eram 20h e ainda tinha muita burocracia para resolver. O SAMU não podia sair de Piripiri. Só às 21h é que localizaram o anestesista para fazer a entubação. Só por volta das 23h é que conseguiram trazer pra Teresina, mas em seguida ligaram para a mãe dele, dizendo que o Vitor não resistiu e morreu em Capitão de Campos”, lamenta a tia do garoto.

Ela diz ainda que a estrutura do hospital está deficiente e não consegue atender ao pacientes da cidade. “Queremos que as autoridades, o Ministério Público entre no caso, porque são vidas que correm perigo. Não foi só a do Mário Vitor. São crianças, idosos, jovens que buscam atendimento e o hospital não tá tendo suporte para resolver o problema das pessoas”, declara. Célia ressalta que o laudo do óbito entregue pelo hospital não apresentou a causa da morte e que o menino já foi sepultado. “Não sei se foi erro médico, mas a negligência foi alta até porque eles (médicos) não têm estrutura. Os pais dele estão arrasados. Toda a família está muito triste e a população de Piripiri, revoltada”, garante.

Luciano Cardoso, diretor do hospital, dá outra versão

Hospital
O diretor do Hospital Regional Chagas Rodrigues, Luciano Cardoso, explicou ao CidadeVerde.com que o procedimento medicamentoso para a criança foi o de rotina. “Segundo a equipe me passou, a criança chegou com uma crise asmática, muito cansada, dispnéica e foi tratada com a conduta normal. A gente espera que haja uma melhora, mas não houve. O quadro foi se agravando a ponto de ela ter insuficiência e depois falência respiratória”, explica.

Em seguida, a criança foi entubada e feita a ventilação manual. “Ela ficou no respirador durante um período de mais ou menos 30 minutos, até estabilizar o quadro para mandar para Teresina o que aconteceu às 21h30, no translado a criança não resistiu”, diz o médico, citando horário que diverge com o dito pela família. Segundo Luciano, o tempo para conseguir o transporte de Mário Vitor foi gasto para ligar para regulação do SAMU, conseguir a ambulância, arrumar leito em hospital.

Gravidade
“Esta é uma situação que ninguém gostaria de presenciar, a criança era minha cliente do consultório. É raro, mas há casos de asma que ficam graves e é difícil reverter. Nos meus oito anos como pediatra, vi apenas dois casos, um deles conseguiu sobreviver, mas permaneceu na UTI por vários dias”, declarou Luciano.

Sobre a crise da criança, ele explica que a agitação da criança após a administração do medicamento foi um sintoma da piora do quadro de asma. “É o estado de mal asmático, que é a asma grave. Uma criança pode apresentar a crise sem ter tido anteriormente”, explica o médico.

O diretor do HRCR admite que a situação do hospital é difícil. “Estou com um mês que assumi o hospital e já o encontrei em situação precária. Precisamos de investimento, principalmente no Pronto-Socorro, que é o que está precisando mais. Fizemos um diagnóstico da situação e estamos encaminhando à Secretaria de Saúde. Temos a propostas de colocar, por exemplo, dois plantonistas, mas é algo que depende de contratação”, pontua.

Cardoso explica que o hospital possui uma UTI pronta com sete leitos, sendo um deles para isolamento, mas que ainda falta alguns ajustes para que ela seja inaugurada. “É preciso treinamento dos médicos daqui ou que profissionais venham de Teresina e a compra de materiais de uso diário como tubos, máscaras de respiração. Esta é uma prioridade da nova gestão e estamos precisando muito”, declara.

Secretaria responde
A Secretária de Saúde Lílian Martins explicou por meio de sua assessoria que a abertura das UTIs do hospital de Piripiri devem acontecer até julho deste ano. Veja trecho da nota:

“A Sesapi informa que o hospital de Piripiri possui duas ambulâncias, sendo que uma está em manutenção e a outra estava com um paciente em Teresina, sendo inverídica a informação de que aquela unidade não possui veículos para atendimento e suporte aos pacientes. Cabe destacar ainda que apesar de se tratar de hospital regional e ser subordinado à Sesapi, o município possui autonomia para dar suporte àquela unidade, considerando que Piriripi é uma das poucas (no total são nove) cidades do Piauí que é Gestão Plena em Saúde, ou seja, recebe recursos diretamente para arcar com a manutenção de todo o sistema de saúde”.

Carlos Lustosa Filho
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