Duas semanas após ser alvo de ofensas homofóbicas por parte da torcida do Cruzeiro, Michael, do Vôlei Futuro, retornará hoje ao ginásio do Riacho, em Contagem (MG), palco da polêmica.

O duelo em quadra, que vale uma vaga na final da Superliga, dividirá as atenções com as reações das arquibancadas. Paira o temor de que Michael volte a ser hostilizado verbalmente pela torcida.

Os gritos de "bicha" em uníssono no ginásio, no dia 2, renderam multa de R$ 50 mil ao Cruzeiro. O Vôlei Futuro considerou a punição uma "pechincha" e criticou a decisão do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

Em nota oficial divulgada ontem, o clube questionou a decisão do procurador de fazer a denúncia com base em um artigo que previa apenas multa e não punições mais contundentes, como a perda do mando de quadra.

Anteontem, o procurador Fábio Lira disse à Folha que usou o artigo com punição mais branda por se tratar do primeiro julgamento de um caso de homofobia no esporte e pela possibilidade de o Cruzeiro fazer uma campanha educativa com sua torcida. Ele considerou "exemplar" a multa de R$ 50 mil.

O Vôlei Futuro, por sua vez, queria a punição com a perda do mando de quadra.

"Com essa decisão [do STJD], quem sofre é o Vôlei Futuro e seus atletas, que terão que voltar naquele mesmo lugar, com aquelas mesmas pessoas, com a organização exercida pelo mesmo clube, tudo dentro do mesmo quadro de constrangimento e pressão, com uma única diferença: a legitimidade desse cenário", disse, em nota oficial, o clube de Araçatuba.

No fim, o texto do Vôlei Futuro, cujo título é "No STJD a Discriminação Tem Preço", faz críticas mais ácidas. "Agora, senhores, preparem suas pencas de banana, ensaiem seus gritos de "macaco", "preto", "manco", "bicha" e tantos outros, afinal agora é uma questão de custo x benefício. Se isso serve para desestabilizar o outro time (...), R$ 50.000,00 é uma pechincha para chegar a uma final", disse a nota oficial.

Michael, protagonista de toda a polêmica, preferiu não se pronunciar depois do julgamento do STJD.

A reportagem tentou contato com o Cruzeiro após a divulgação da nota, mas não obteve resposta do clube.

Antes, a equipe mineira, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que entregará panfletos aos torcedores.

Os papéis trarão impressos quatro recomendações de conduta: "incentive nossos jogadores", "respeite o adversário", "não lance nenhum objeto em quadra" e "não prejudique o seu time".

De acordo com o capitão Gláucio Porto, responsável pelo policiamento da partida, será maior o número de policiais dentro e fora do ginásio. Haverá ainda escolta para o time de Araçatuba.


Fonte: Folha Online