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Bullying leva jovens a se submeterem a operação no estômago

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Em plena adolescência, aos 18 anos, Mariângela quase não sai de casa, tem poucas amigas. Por causa do excesso de peso, conviveu com as piadinhas dos colegas de escola desde os 7 anos, quando descobriu que sofria de uma síndrome metabólica.

Para fugir do bullying, chegou até a mudar de escola. Hoje, com 93 quilos distribuídos em 1,65metro, acredita ter encontrado a solução definitiva para o seu sofrimento: passar por uma cirurgia bariátrica.

Para o cirurgião bariátrico Roberto Rizzi, o sofrimento emocional está entre as razões que levam os pais de crianças e jovens obesos a procurarem as reduções de estômago. “Os gordinhos são presas fáceis para o bullying”, avalia.

“E o adolescente é muito prático, pensa que basta operar e o problema será resolvido, mas não é bem assim. Se o paciente não mudar seus hábitos, voltará a engordar”, completa. Além disso, o procedimento é caro: entre R$ 30 mil e R$ 50 mil, de acordo com o tipo de cirurgia. E também expõe o jovem a riscos.

Casos de adolescentes como Mariângela estão se tornando comuns nas clínicas, observam os médicos. Entre 2006 e 2010, o número de cirurgias bariátricas feitas no País mais que dobrou, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), passando de 29.500 para 60 mil.

A estimativa é de que 5% das cirurgias bariátricas do País sejam feitas em jovens menores de 18 anos, de acordo com o médico Thomaz Szegö, ex-presidente da SBCM. O índice é alto, especialmente considerando que o procedimento só pode ser feito em maiores de 16 anos que obedeçam a indicações bem específicas.

No Brasil, só podem ser operados adolescentes com mais 16 anos que tenham índice de massa corporal (IMC) a partir de 35 (isso, se houver comorbidades, como diabete e hipertensão). Se o jovem não apresentar problemas associados ao excesso de peso, é preciso ter IMC superior a 40.

E, antes dos 16, a cirurgia só é feita se o adolescente estiver sob risco de morte por causa das doenças relacionadas à obesidade. Há quatro tipos de operações aprovadas no País, além de um método não cirúrgico.

A primeira opção para emagrecer, contudo, não deve ser a cirurgia, sobretudo para um jovem. É preciso verificar se ele ainda passará pelo estirão de crescimento, facilitando a perda de peso, e se já tentou alternativas como dieta, exercícios físicos e medicação controlada.

“A obesidade faz com que o jovem perca esse momento da vida. Ele não consolida os relacionamentos e experiências dessa idade, não vive a adolescência de fato”, afirma o chefe do Departamento de Obesos do Hospital das Clínicas de São Paulo, Márcio Mancini.

Os quilinhos extras pesam sobre a autoestima e a saúde mental dos jovens, mas a cirurgia não deve ser usada com finalidade estética. “É, antes de tudo, feita com critérios médicos e clínicos”, diz Ricardo Cohen, presidente da SBCBM. “Quando se trata de jovens, a decisão é tomada junto com a família e discutida com uma junta médica.”

Fonte: Estadão
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