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Cissa diz que vai comemorar um ano de vida do “Anjo Rafael”.

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É praticamente impossível não se deixar emocionar numa conversa com Cissa Guimarães, 54 anos. Falta pouco menos de dois meses para que se complete um ano da morte de seu filho mais novo, Rafael Mascarenhas, que foi atropelado, aos 18 anos, em 20 de julho de 2010, enquanto andava de skate em um túnel interditado ao trânsito no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro. O tempo passou, mas a atriz diz que continua “sangrando muito”. Sua mensagem, porém, é de otimismo. Embora conte que ainda chora muitas vezes por causa do ocorrido, Cissa diz que o filho, a quem chama de Anjo Rafael, a tem ajudado a “transmutar a dor”. “Se você toma uma porrada dessa, o único sentido é para você evoluir”, afirma. Admirada da força com que enfrentou, sob o olhar comovido de todo um país, sua tragédia pessoal, Cissa faz questão de frisar que não é exemplo para ninguém. “Não sou uma bandeira”, diz. “Isso tudo é a luz do Rafael, não sou eu, não. Esse menino deixou um legado de amor e luz.”


Manter-se ocupada também ajuda a superar a dor. À terapia lacaniana, que Cissa já fazia com Eduardo Vidal, somou-se a terapia do luto, com Adriana Thomaz. Os dois tratamentos mais a peça Doidas e Santas, em cartaz há um ano, que ela retomou 15 dias após o atropelamento, têm sido de grande auxílio. Ela também está no ar na novela Morde & Assopra, e agradece o carinho daqueles com que convive. “Todos sabem que estão lidando com uma pessoa que saiu do CTI”, diz.


Na entrevista a seguir, a atriz conta como pretende passar a data da morte do filho. “Penso em fazer um show com os amigos dele tocando, mas só para a gente, para as internas. Comemorar com música, celebrar um ano de vida do Anjo Rafael. E não a perda”, afirma ela, próxima do altar que fez em sua casa, na Gávea, para o filho. Nele, estão o arcanjo Rafael com uma guitarra, além de presentes recebidos por ela nos últimos meses. Cissa também fala que conversa regularmente com o filho morto e se emociona ao relatar que sente a presença espiritual dele.


Sobre Rafael de Souza Bussamra, o atropelador que não prestou socorro a seu filho, ela não fala munida de sentimentos ruins, como raiva ou indignação. Pelo contrário, não se altera. Seus olhos voltam a brilhar quando discorre sobre o Circuito Rafael Mascarenhas, projeto criado por ela para que a Prefeitura do Rio de Janeiro legalize os túneis fechados à noite para que se tornem áreas de downhill (modalidade do skate em que os praticantes descem ladeiras fazendo manobras em alta velocidade), com as paredes aproveitadas como galerias de arte. “Estou à espera do prefeito (Eduardo Paes), cheia de esperança.”

 


Você achou que não fosse dar conta quando foi convidada para fazer a personagem Augusta, que faz parte do núcleo cômico da trama de Morde & Assopra? 
Logo no início, fiquei muito na dúvida se teria força para fazer, porque o pouco de força que tinha estava direcionando para meu trabalho no teatro. Não sabia se teria força para gravar o dia todo, mas fui tão bem recebida... Não queria fazer alguma coisa muito caricata, porque, aí, eu não conseguiria. Tudo deu certo. Estou cercada de pessoas que me dão a maior atenção. E, volta e meia, dou uma fragilizada.


Já aconteceu de não conseguir gravar?

Já. A minha alma está exausta, a minha alma está aleijada. Eu ainda choro muito, ainda estou sangrando muito. Teve duas vezes em que eu disse que não estava aguentando, que tinha que ir embora, que estava com vontade de chorar, e fui muito respeitada. Todos sabem que estão lidando com uma pessoa que saiu do CTI. Isso pode acontecer a qualquer hora do dia.


Acontece com frequência?
Sim, do nada vem uma explosão de dor, uma lembrança... Pode ser uma música de que ele gostava ou eu ver um menino andando de skate com camisa branca, que ele adorava. Moro na Gávea, passo todo o dia no túnel para ir trabalhar...


Você impressionou ao voltar a trabalhar 15 dias após a tragédia.
Isso tudo é a luz do Rafael, não sou eu, não. Meu filho deixou um legado de amor e luz. O que aconteceu com ele mexeu com o país inteiro. Até hoje, recebo sinais de pessoas que sonham com ele, que me mandam coisas. Ele é uma luz. Estava falando com o Rafa outro dia: “Rafa, que loucura...”


Você conversa com ele?

Claro! Mas é importante falar o seguinte: não vou ensinar como eu conseguia me levantar todo dia de manhã. Eu não sei. Para mim era assim. Mas, se você perder o filho e quiser ficar o dia todo trancada no quarto chorando, tem todo o direito.


Não entrou em depressão?
Não. Agora, é óbvio que a minha alegria não é a mesma que eu tinha e que nunca mais vou ter. Estou aleijada da alma, meu coração anda de muleta. Mas anda. Até isso o Rafa me ensinou: a qualidade da alegria. Antigamente, sentava numa mesa e ria de qualquer coisa. Hoje em dia, não acho mais tanta graça. Com certeza, se você toma uma porrada dessa, o único sentido é para você evoluir. É óbvio. Crescer, rever meus valores e atitudes com os outros e comigo.


Ouviu críticas por ter voltado com a peça tão cedo?
Não estou nem aí, porque sei que estou fazendo uma coisa legal. Mas eu entenderia se não entendessem a minha atitude. Cada um tem o direito de agir de acordo com sua dor. É toda uma circunstância que ele (Rafael) deixou para eu ficar bem! Tenho certeza, ele fez tudo.


A peça foi uma salvação naquele momento?

Com certeza, a minha peça foi uma boia de salvação no meio de um tsunami. Mas não sou uma bandeira, não virei um exemplo. Porém, fico muito feliz de poder, através da minha maior dor, ajudar outras pessoas. Acho que a vida é isso, ajudar o outro. Então, se foi através da minha maior tragédia, isso me traz um bálsamo.

Você sente a presença espiritual do Rafael?
Claro, o tempo todo. Você tem que estabelecer sua conexão com esse portal de amor, é a única saída. Aí, faz a conexão. É muito sagrado, não é uma coisa mística. É o sagrado do amor, da conexão que faz com a vida, e o Rafael abriu um portal enorme de amor, de atenção com os outros, de atitudes na minha vida. A palavra que jogo para o universo conspirar é transmutação. Transmutar a sua dor para evolução. Quando a gente passa por uma porrada dessas, tem que tentar, dentro do possível.


Vai fazer um ano da morte dele. Pensa em uma homenagem? 
Penso em fazer um show com os amigos dele tocando, mas só para a gente, para as internas. Vou comemorar com música, celebrar um ano de vida do Anjo Rafael. E não a perda. A gente ganhou um anjo.


Em que pé está o projeto em transformar o túnel onde o Rafael morreu numa área de lazer?
Estou à espera do prefeito (Eduardo Paes), cheia de esperança. Preciso que ele autorize que o túnel fique fechado para que eu então vá captar patrocínio. Toda segunda e quarta-feira, os meninos vão lá (no túnel) andar de skate, até um outro doido pegar um.


Os ex-PMs envolvidos no caso foram soltos em dezembro, Rafael Bussamra foi indiciado por homicídio doloso. O que achou dos rumos que o caso tomou?

Acho que estão bem norteados. E nada vai trazer meu filho de volta. A Justiça tem que ser feita para que isso não passe assim. Mas vou ser sincera: não é o meu alvo. Minha dimensão é muito maior. Acho que essas pessoas vão pagar pelo resto da vida no nível espiritual. São pessoas que estão nas trevas.


Sua reação diante dos responsáveis pela morte do Rafael surpreendeu. Não teve raiva em nenhum momento?
Não. Eu tive muita pena. Muita pena dessa mãe. Como ela vai viver olhando para aqueles dois filhos? Criou dois bichos. Como essa mulher vive com esses dois filhos e esse marido? Morro de pena. E ela, a mãe, telefonou avisando: “Não adianta subornar (os policiais) porque é filho da Cissa Guimarães”. Coitada. Acha que vou ter raiva desse tipo de gente? Quero só total distância e espero que isso transmute a vida deles. Foi uma sequência de atitudes de caráter que provam que não há nenhum tipo de valor humano. É bicho. Nem bicho, porque acho bicho tão bonitinho!


Você é avó do José, filho do seu filho mais velho, Thomaz. Como é ser avó? 
Ser avó é uma delícia. Ele tem 1 ano e 8 meses, mas não consegue me chamar de vovó, só me chama de Cissa. Eu quero ser uma avó esperta e me jogo no chão, corro com ele pelo Jardim Botânico, é um barato, ele acha graça, e acho que não consegue me ver muito como avó (risos). Mas não sou burra de mimar meu neto e deixar que seja um cara bobão só porque sou vovozinha.


Você criou três filhos praticamente sozinha. Como foi trabalhar e ser mãe e pai ao mesmo tempo?
Muito difícil. Criar gente é difícil. A maior missão na nossa vida é criar, dar os valores. Acho que não consegui em vários aspectos, acho que em outros talvez tenha sido muito pai, muito dura e não tão carinhosa como mãe. Fui ausente em vários momentos porque tive que trabalhar. Sinto culpa, óbvio, porque a culpa é uma coisa inerente ao ser humano, à mãe, mas foi o jeito que pude fazer melhor. O mais sério é formar pessoas, para que não aconteça como esse tipo de gente, que entra num túnel fechado e não presta socorro. Olha como é perigoso colocar gente no mundo e não saber criar!


Você e o artista plástico Jorge Barata foram vistos juntos recentemente. Ainda estão namorando?

Não estou namorando. Aquilo foi um reencontrinho de dois amigos, um acerto de contas (risos). Eu sou passional, me apaixono, gosto de brincar de casalzinho, de casinha, e agora não estou com tempo.


Pensa em se relacionar novamente?

Penso e estou começando a ficar com vontade. Me separei em 1997 do (médico) João Batista. Desde então, nada sério aconteceu. E também não tive vontade. Mas agora estou começando a pensar que gostaria de abrir de novo um espaço na minha vida para alguma coisa séria. Acho que é tão difícil – mas é bom esperar acontecer! É uma coisa do imponderável. Tem que ter uma sincronia, uma sincronicidade. Por enquanto, estou brincando, dando uns beijos por aí (risos). E não é no Barata (risos).


Você sente a presença espiritual do Rafael? 
Claro, o tempo todo. Você tem que estabelecer sua conexão com esse portal de amor, é a única saída. Aí, faz a conexão. É muito sagrado, não é uma coisa mística. É o sagrado do amor, da conexão que faz com a vida, e o Rafael abriu um portal enorme de amor, de atenção com os outros, de atitudes na minha vida. A palavra que jogo para o universo conspirar é transmutação. Transmutar a sua dor para evolução. Quando a gente passa por uma porrada dessas, tem que tentar, dentro do possível.


Vai fazer um ano da morte dele. Pensa em uma homenagem?
Penso em fazer um show com os amigos dele tocando, mas só para a gente, para as internas. Vou comemorar com música, celebrar um ano de vida do Anjo Rafael. E não a perda. A gente ganhou um anjo.


Em que pé está o projeto em transformar o túnel onde o Rafael morreu numa área de lazer? 
Estou à espera do prefeito (Eduardo Paes), cheia de esperança. Preciso que ele autorize que o túnel fique fechado para que eu então vá captar patrocínio. Toda segunda e quarta-feira, os meninos vão lá (no túnel) andar de skate, até um outro doido pegar um.


Os ex-PMs envolvidos no caso foram soltos em dezembro, Rafael Bussamra foi indiciado por homicídio doloso. O que achou dos rumos que o caso tomou?
Acho que estão bem norteados. E nada vai trazer meu filho de volta. A Justiça tem que ser feita para que isso não passe assim. Mas vou ser sincera: não é o meu alvo. Minha dimensão é muito maior. Acho que essas pessoas vão pagar pelo resto da vida no nível espiritual. São pessoas que estão nas trevas.


Sua reação diante dos responsáveis pela morte do Rafael surpreendeu. Não teve raiva em nenhum momento?
 
Não. Eu tive muita pena. Muita pena dessa mãe. Como ela vai viver olhando para aqueles dois filhos? Criou dois bichos. Como essa mulher vive com esses dois filhos e esse marido? Morro de pena. E ela, a mãe, telefonou avisando: “Não adianta subornar (os policiais) porque é filho da Cissa Guimarães”. Coitada. Acha que vou ter raiva desse tipo de gente? Quero só total distância e espero que isso transmute a vida deles. Foi uma sequência de atitudes de caráter que provam que não há nenhum tipo de valor humano. É bicho. Nem bicho, porque acho bicho tão bonitinho!


Você é avó do José, filho do seu filho mais velho, Thomaz. Como é ser avó? 
Ser avó é uma delícia. Ele tem 1 ano e 8 meses, mas não consegue me chamar de vovó, só me chama de Cissa. Eu quero ser uma avó esperta e me jogo no chão, corro com ele pelo Jardim Botânico, é um barato, ele acha graça, e acho que não consegue me ver muito como avó (risos). Mas não sou burra de mimar meu neto e deixar que seja um cara bobão só porque sou vovozinha.


Você criou três filhos praticamente sozinha. Como foi trabalhar e ser mãe e pai ao mesmo tempo?

Muito difícil. Criar gente é difícil. A maior missão na nossa vida é criar, dar os valores. Acho que não consegui em vários aspectos, acho que em outros talvez tenha sido muito pai, muito dura e não tão carinhosa como mãe. Fui ausente em vários momentos porque tive que trabalhar. Sinto culpa, óbvio, porque a culpa é uma coisa inerente ao ser humano, à mãe, mas foi o jeito que pude fazer melhor. O mais sério é formar pessoas, para que não aconteça como esse tipo de gente, que entra num túnel fechado e não presta socorro. Olha como é perigoso colocar gente no mundo e não saber criar!


Você e o artista plástico Jorge Barata foram vistos juntos recentemente. Ainda estão namorando? 
Não estou namorando. Aquilo foi um reencontrinho de dois amigos, um acerto de contas (risos). Eu sou passional, me apaixono, gosto de brincar de casalzinho, de casinha, e agora não estou com tempo.


Pensa em se relacionar novamente?

Penso e estou começando a ficar com vontade. Me separei em 1997 do (médico) João Batista. Desde então, nada sério aconteceu. E também não tive vontade. Mas agora estou começando a pensar que gostaria de abrir de novo um espaço na minha vida para alguma coisa séria. Acho que é tão difícil – mas é bom esperar acontecer! É uma coisa do imponderável. Tem que ter uma sincronia, uma sincronicidade. Por enquanto, estou brincando, dando uns beijos por aí (risos). E não é no Barata (risos).



Fonte: Revista Quem

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