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O duelo das linguiças

Estes dias estive lendo sobre o obscurantismo que alcança o Brasil e que já alcançou outras nações, como os EUA, no que se refere à rejeição da população em relação à vacinação, por exemplo. Surge um boato, aliado a quantidade de pessoas sem discernimento com livre acesso às redes sociais e pronto: a disseminação de mitos e histórias descabidas invadem o mundo virtual, alcançando o enorme prejuízo ao mundo real. Aqui no Brasil temos visto uma série de doenças quase erradicadas que voltaram com força total graças à queda na taxa de cobertura de vacinação, como é o caso do Sarampo e a ameaça de retorno da Poliomielite. Abordei isso em um post (https://cidadeverde.com/cienciaviva/93484/a-ignorancia-e-a-mae-da-coragem), com resultados da baixa cobertura em Teresina e várias cidades do Piauí. Mas a falta de informação não novidade desta época em que vivemos. Soa, atualmente, como descabida, dado o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que poderia apenas favorecer o fim da escuridão.  No passado a falta de informação era, principalmente, por falta de conhecimento mesmo.

A descoberta de microrganismos, causadores das doenças, como protozoários, bactérias e fungos, por exemplo , levou muito tempo, especialmente por causa do tamanho destes seres vivos, que só foram descobertos a partir da invenção e aperfeiçoamento do microscópio e das técnicas de microscopia. Da descoberta dos microrganismos até relacioná-los com as doenças que causam muita pesquisa ocorreu. Descobrir um meio de evitar a doença com o desenvolvimento de uma vacina ou medicamentos para combater estes micróbios, por exemplo, mais tempo e recursos foram necessários.

Nesta caminhada muitos pesquisadores foram destaque. Foi o caso de Rudolf Virchow, cientista alemão  (foto).

Virchow é o autor da Teoria Celular, que diz que toda célula vem sempre de outra pré-existente, considerado um dos pilares da biologia moderna. Virchow é considerado também o pai da Patologia Moderna e da Medicina Social, em razão de suas pesquisas e descobertas em relação a doenças contagiosas.

O político cientista e o duelo das linguiças

Rudolf Virchow, além de um grande cientista, também foi um político mordaz de oposição. Na época vigia na Alemanha o II Reich, sob a liderança do político Otto von Bismarck (foto),

responsável pela unificação da Alemanha, no final do século XIX. As críticas de Virchow recaiam principalmente sobre os gastos autorizados por Bismarck com as forças armadas. Para Virchow, os recursos gastos com o exército alemão poderiam ser melhor aplicados em outras áreas. As críticas chegaram aos ouvidos de Bismarck que ficou possesso. A raiva fez Bismarck desafiar Virchow para um duelo, que como desafiado, poderia escolher as armas para o duelo. Virchow, como bom cientista aceitou o desafio e escolheu duas linguiças suínas como armas para o duelo: uma linguiça cozida para si e uma linguiça crua contaminada com larvas do verme Trichinella (foto).

Ao tomar conhecimento das armas, a raiva de Bismarck arrefeceu: Bismarck achou que a presença de Trichinella poderia causar algum dano a sua saúde, e o duelo foi cancelado.

O episódio das linguiças serve para ilustrar o que o conhecimento sobre um determinado contexto pode determinar: Bismarck mesmo zangado e adversário de Virchow, entendeu que a linguiça contaminada poderia ser tão perigoso quanto um bom sabre.

Mesmo com todos os avanços do conhecimento científico, a sociedade atual padece de um ceticismo firmado em uma evidente falta de educação. Os tempos de escuridão voltaram, mesmo com toda a diversidade do conhecimento a nossa volta.

Até o próximo post...

 

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