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Filho do pedreiro desaparecido Amarildo faz primeiro desfile

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"Ele não anda, ele desfila". Enquanto sobe e desce as ladeiras da Favela da Rocinha, onde vive desde que nasceu, Anderson Dias ouve esta versão para o funk de MC Bola. Ele ainda não é top, não fez capa de revista, mas acaba de estrear nas passarelas. Fez o primeiro desfile há algumas semanas, finalizou um workshop, começou outro e já tem passaporte para tentar a carreira internacional.

Fotos: Marcos Serra Lima / EGO

Aliado a tudo isso que cerca uma carreira de modelo iniciante, ele faz sucesso por onde passa. Seja no morro ou no asfalto. "O que tem de mulher que me pede autógrafo e foto em Ipanema e Leblon, você não acredita", entusiasma-se o garoto negro de apenas 21 anos, de impressionantes olhos azuis e um drama que vai segui-lo por toda uma vida. Um garoto pobre ou um pobre garoto que vê a chance de mudar seu destino através de uma beleza exótica.

Se ainda não ligou o nome ao corpo saradíssimo que aparece nas fotos dessa reportagem, vale lembrar que Anderson é o filho mais velho de Amarildo, que desapareceu há pouco mais de três meses, torturado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha (UPP) e morto após não entregar a localização de um paiol de armas na comunidade. "Hoje mesmo no ônibus pensava: 'será que isso aconteceu mesmo? Meu pai está morto?'. Às vezes penso que ele está em outro planeta", diz, com certa ingenuidade na fala e no olhar.


Durante o drama vivido por Anderson, ele foi descoberto pelo mundo da moda. O cabeleireiro Ricardo Moreno o viu em um dos eventos promovidos por artistas  para arrecadar fundos para a família de Amarildo e achou que ali havia potencial para a profissão de modelo. "Ele chegou para mim e disse: tenho um diamante bruto para você lapidar", conta Serginho Mattos, dono da 40 Graus Models.

O trabalho tem sido árduo. Anderson andava como quem partiria o mundo com um soco, com braços meio arqueados, pisada forte, cacoete típico dos marombeiros que passam horas puxando ferro. "Estamos fazendo um trabalho de base, ensinando a andar, falar, se portar. O Anderson aprende rápido e vejo futuro para ele, sim. Tem uma beleza exótica que casa muito bem com moda praia, um corpo absurdamente talhado. Já existem agências internacionais e marcas interessadas nele", enumera Serginho.

Tímido, aos poucos Anderson se solta ao falar da própria vida. Antes da morte do pai, era seu auxiliar de pedreiro. O trabalho pesado rendia a ele cerca de R$ 600 por mês. E Amarildo queria que o filho voltasse a estudar. "Parei na sétima série, odiava inglês e matava muita aula. Queria trabalhar para ganhar meu dinheiro, ter minhas coisas. Hoje sei o quanto está me fazendo falta não ter seguido na escola", confessa.

Nos tempos de colégio, inclusive, era do tipo capetinha. Mas fazia sucesso com as meninas. As mais velhas, inclusive. "Sempre tive cara de novo, então as mais novas não se interessavam muito por mim", diz. Agora tudo mudou. Novinhas, nem tão novinhas, coroas, velhinhas. Todas andam suspirando pelos músculos esculpidos do mocinho de 1,84m e 82 kg.

O assédio já incomoda. Não a ele, que está curtindo como pode a nova fase, mas a namorada Ralhiane, com quem está há cinco anos. "Ela está morrendo de ciúmes", admite ele, que já tem discurso digno de artista. "Estou focado na carreira, sem tempo para namorar. Ela tem que entender".

Se Ralhiane vai passar por tudo isso, o tempo dirá. Mas ela que tenha cuidado. Anderson já teve fama de pegador e se pudesse realizar um desejo seria namorar Juliana Paes: "Nossa, ela é demais".

Fonte: EGO
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