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Sucesso nos anos 80, famosos se despedem de Vange Leonel

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O corpo da cantora, compositora, escritora e ativista LGBT brasileira Vange Leonel foi velado na manhã desta terça-feira, 15, em Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo. A escritora Cilmara Bedaque, companheira de Vange há 28 anos, foi a primeira pessoa a chegar ao local e contou a imprensa que o câncer no ovário que acabou a levando à morte, foi descoberto há apenas 20 dias. "O câncer era muito agressivo e em um estágio bem avançado de metástase do peritônio.

Já estavam programadas as sessões de químio, mas começaram todas as complicações... O peritônio coneçou a desenvolver um líquido e a barriga foi inchando. Aí comecou a comprimir o pulmão. Em uma semana foram acontecendo coisas e mais coisas e não dava para insistir se não fosse à base de muito sofrimento. É pra perder, né?", lamentou Cilmara, dizendo que, a princípio, os médicos acharam que a doença teria cura: "Quando soubemos, é claro que o chão muda um pouco de lugar, né? Mas como era um câncer oriundo do ovário, a oncologista e vários medicos nos garantiram que poderia ter sucesso na cura. Ela estava com esperança de ser curada. Apesar das coisas terem se agravado na última semana, aconteciam coisas que nos davam esperança na melhora. O sentimento era um iô-iô  mesmo, altos e baixos total. Nos últimos dias, ela já estava dopada, foi bem dificil de ver".

Vange, que tinha 51 anos, morreu na segunda, 14, em consequência de um câncer de ovário, com metástase na membrana que envolve os órgãos da região abdominal. A doença foi descoberta vinte dias antes de sua morte. Ela estava internada no hospital Santa Isabel, em São Paulo.

Um dos trabalhos mais conhecidos de Vange é a música tema da novela "Vamp", "Noite Preta", que ela compôs em parceria com a companheira, Cilmara Bedaque, em 1991. Cilmara e Vange também mantinham juntas um blog sobre cervejas no site da revista Carta Capital.

Cilmara falou sobre a relação que elas mantinham. 'Eu a amo, vivemos 28 anos e viveria mais. Era correspondida nesse sentimento e vontade. Muitas das coisas que ela fez, fizemos em parceria. Na carreira artística principalmente, em que ela era o rosto, e na militância LGBT e feminista, embora nisso ela fosse mais militante do que eu. Ela foi a porta-bandeira do nosso trabalho e das nossas ideias. Embora tivéssemos nossas diferenças de comportamento, o que era básico sempre compartilhamos, mesmo após umas discussões", afirmou.

Questionada sobre a importância da companheira na causa LGBT, ela declarou: "Ela deixa um pioneirismo incrível na luta LGBT e feminista. Estamos falando dos anos 80, final dos anos 70... Com 16 anos, ela já era muito envolvida com isso. Depois que ela desistiu de ser cantora porque não gostava de viajar muito e decidiu ser escritora para ficar mais na caverna dela, manteve militância escrevendo pro público gay e lésbico na Folha. Foi a primeira na imprensa brasileira. Isso tudo além dos três livros, três pecas e três álbuns gravados. Não tínhamos muita repercussão do trabalho, mas até hoje chegam pessoas de 15, 30 anos, tendo isso como referência: o exemplo dado e o que foi postulado mesmo, o comportamento e o respeito à diversidade. A primeira parada gay foi em cima de uma kombi. Eram 30 pessoas e nós estávamos lá. Tenho certeza que o que ela plantou é semente, mas que está aí, que fica nos livros. A luta perde, perdem os amigos, perde eu, mas o que ela fez não será perdido. A luta dela era pela diversidade, para que cada um pudesse ser como é e respeitado por isso".

Marisa Orth e Jean Wyllis estavam entre os famosos presentes. A atriz contou que foi amiga de infância da cantora. "Eu a conheci há muito tempo. Estudamos juntas quando tínhamos 12 anos. Sempre fui próxima, sempre a admirei. A Vange era muito brilhante, muito sensível. Não era uma pessoa média. Era ela muito legal mesmo. Os amigos estão muito sentidos. O ativismo dela foi muito bacana, abriu muitas portas. Muita gente está se sentindo desamparado agora. Ela fazia tudo naturalmente, nada pela metade. Um absurdo de talento. Sou muito fã dela", elogiou.

Jean, que também é ativista da causa da LGBT, exaltou a importância dela: "A primeira coisa que ela fez de importante foi ter assumido a homossexualidade no auge do sucesso quando ia no programa da Xuxa pra cantar a música de 'Vamp'. Anos depois, em 2009, eu me tornaria amigo dela. Fizemos um evento para discutir machismo e misóginos. Perdemos mais do que uma voz no movimento. Perdi uma amiga. Um exemplo de coragem. Ela dizia que não tinha arte sem ser política. Disseram que ela deixou de ser artista para ser ativista, mas ela dizia que sempre foi ativista enquanto artista. Nenhuma arte se presta à fruição, toda arte é política."

Mauro Sanches, ex-baterista da banda Nau, que tocou com Vange, é arquiteto atualmente e foi se despedir da ex-colega e relembrou o começo da carreira: "Realizamos alguns sonhos juntos. Todo mundo que começa a tocar tem o sonho de fazer um disco. A banda Nau era despretensiosa, começou com Vange musicando um poema do Fernando Pessoa, a gravadora se interessou e, de repente, a gente estava no Rio de Janeiro na década de 80. Não era tão fácil.  Não fez tanto sucesso, mas tinha consistência. As pessoas ainda lembram, é uma referência".

Biografia

Vange Leonel, nome artístico de Maria Evangelina Leonel Gandolfo foi uma cantora, compositora, escritora e ativista LGBT brasileira.

Na década de 1980, Vange fez parte da banda Nau, composta por Beto Birger (baixo), Zique (guitarra) e Mauro Sanches (bateria). O o grupo lançou um disco intitulado "Nau", em 1987, pela CBS. Em 1991, em carreira solo, ela lança "Vange" pela Sony Music, e em 1996 "Vermelho" pela Medusa Records.

Como escritora, Vange publicou em 1999 "Lésbicas", pela Planeta Gay Books, "Grrrls: garotas iradas", pela Edições GLS, em 2001, além de "As sereias da Rive gauche", pela Editora Brasiliense, em 2002, e "Balada para as meninas perdidas", também pela Edições GLS.

Em 2006, "As sereias da Rive Gauche" foi adaptada para o teatro com direção de Regina Galdino e Joana Evangelista.

Fonte: Ego

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