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Terezinha avança nos 200m e desabafa: "A regra mudou?"

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Os  sorrisos acompanhados de beijinhos para torcida antes da prova já deixavam claro: uma outra Terezinha Guilhermina pisou no Estádio Olímpico na manhã desta segunda-feira. Toda polêmica com a ausência no pódio nos 100m rasos T11, para cegos, parece ter ficado para trás - ou foi para o esgoto, como a própria definiu. Não era para menos, a brasileira estava em casa. Não somente pelos Jogos Paralímpicos serem no Rio, mas também por estar em sua disputa preferida. Nas eliminatórias dos 200m, não teve para ninguém. A atual bicampeã paralímpica se impôs, venceu sua bateria e avançou às semifinais com o melhor tempo: 25s07. Com a vaga na mão, no entanto, ela voltou a questionar os critérios para participação de guia nas disputas.

A marca, entretanto, está bem acima de seu próprio recorde paralímpico (24s82) e, principalmente, do recorde mundial, da britânica Libby Clegg (24s44). Essa, por sinal, é a grande pedra no sapato da brasileira. Medalha de ouro nos 100m após ser eliminada na semifinal por ter sido puxada pelo guia e reverter a punição, Libby, que avançou nos 200m com a quarta melhor marca, gerou revolta em Terezinha. Após a prova, a brasileira tentou deixar o caso para trás.   

- Estou tranquila para esta prova. O que aconteceu na sexta-feira eu já dei descarga, está no esgoto e nem cheira mais mal. Estou aqui para fazer o que eu amo e me divertir na minha casa e ninguém vai me impedir disso.

A "descarga", no entanto, fez efeito somente até a segunda resposta. Ainda incomodada com a desclassificação na final dos 100m justamente sob a alegação de ter sido puxada, a brasileira voltou a desabafar e questionar os critérios adotados pela organização dos Jogos do Rio.   

- Tenho 16 anos de corrida, corri exatamente como eu corri os 100m e não fui desclassificada. Eu nunca tinha sido desclassificada em prova nenhuma. Pelo critério que eles disseram, o guia me puxou. Isso é impossível. Faço isto há 16 anos! Será que vou ter que mudar o meu jeito de correr? Será que a regra mudou e ninguém me avisou? O certo é o guia estar na frente e a atleta atrás? Contra quem eu estou correndo? Que jeito que eles querem que eu corra? Se for para parar de treinar e o guia ir até Tóquio, não vale a pena. Mas a esperança é a última que morre. E, mesmo depois de morta, a esperança pode ressuscitar. Nunca se sabe. 

Terezinha se mostrou ainda mais inconformada com a situação depois que o guia de Libby Clegg, Chris Clarke, deu declarações admitindo que corre, sim, na frente da parceira e a puxa. A brasileira, por sua vez, garantiu que não mudará seu estilo de competir até o final da Paralimpíada do Rio.   

- Acabou vencendo, mesmo com o guia na frente em todas as provas. Todo mundo viu. Sinceramente, é surreal ser desclassificada alegando que o guia me puxou em uma prova em que todos os guias estavam na frente das atletas. A regra mudou? Quando um guia dá uma declaração que puxa mesmo, que não considera isso irregular e ninguém faz nada, o que eu entendo? Mudaram as regras e não me avisaram. Vou continuar correndo forte e vou fazer isto até o fim da Paralimpíada. Não sei se serei desclassificada de novo, mas treinei muito e vou correr. Não vou nunca pedir para um guia me puxar porque eu nem sei ser puxada, vou correr, que é o que eu sei fazer. É assim que eu faço há 16 anos. Se eu tiver que treinar dobrado para ir a Tóquio e disputar com homem, eles que me aguardem.

A velocista reiterou várias vezes durante a entrevista coletiva a interferência dos guias nos resultados de suas concorrentes. Durante a semana, Terezinha chegou a sugerir um protesto em uma rede social, pedindo que os torcedores comparecessem ao Engenhão com os rostos pintados.   

- A intenção é mostrar que isto não é confortável para mim, enquanto mulher, competir contra homens. É ilegal. Quando vem um guia e diz que puxa, passa na frente e diz que é a regra, e eu ainda sou desclassificada dizendo que quem está sendo puxada sou eu... Me desclassificam dentro do meu país, alegando que o que eu faço é errado? Para essa Paralimpíada, então, as regras foram mudadas, mas faz parte.   

Apesar de toda frustração pelos 100m, a brasileira evita falar em aposentadoria. Focada nas disputas dos 200m, 400m e revezamento 4 x 100m rasos, deixou para avaliar a situação ao término da Rio 2016, mas durante a própria entrevista não foram poucas as vezes em que citou Tóquio como meta.   

- Não estou pensando no momento sobre fim de carreira. Vou acabar a Paralimpíada e analisar a situação para ver se dá para continuar. Se for para treinar muito, do jeito que eu faço, com amor e alegria, e competir de forma justa, vale a pena. Se continuarem as regras do jeito que estão, não vale a pena, é dar murro em ponta de faca. Ainda tem outras provas que dá para avaliar.

Também finalistas nos 100m e rivais de Terezinha, as chinesas Liu Cuiqing e Zhou Guohua passaram em segundo e terceiro, respectivamente. As semifinais serão disputadas a partir das 19h43 (de Brasília) desta segunda-feira e contam ainda com as brasileiras Jhulia Santos e Jerusa Santos.

Fonte: G1

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