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Vítima de Castelo e mais 26 serão retratadas em painel sobre feminicídio

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Dani foi vítima de feminicídio em caso que ocorreu na cidade de Castelo do Piauí, em maio de 2015

O horror e tortura vividos por mulheres vítimas de femínicídio no Piauí serão retratados em um painel temático ilustrado por artistas plásticas de Teresina. A delegada Eugênia Villa, diretora de Gestão Interna da Secretaria da Segurança Pública do Piauí, ressalta que a iniciativa visa 'acordar' a sociedade para a violência contra a mulher. 

O Piauí é pioneiro em políticas de segurança pública em favor das mulheres e o único do Brasil a monitorar casos de feminicídio. No painel serão retratadas histórias de 27 mulheres que foram assassinadas no Piauí entre 10 de março de 2015 a 30 de agosto de 2016. Neste recorte temporal, os casos de feminicídio no Estado contabilizaram 50.

"Quando se fala em violência contra a mulher é tudo muito abstrato. Mas, quando mostramos os rostos da violência, mulheres que são assassinadas a pancadas enquanto estão dormindo, que têm o bico do seio arrancado, que são estupradas antes de serem mortas, que são assassinadas com uma facada nas costas ou quando o agressor mata, cobre o rosto da vítima com uma toalha,  toma banho e sai como se nada tivesse acontecido, tudo isso, fica concreto, visível. É isso o que queremos provocar com esse painel, 'acordar' a sociedade. As artistas estão muito engajadas com o projeto e à medida que eu relatava os casos, elas ficavam muito chocadas e acredito que isso também vai comover a sociedade, homens e mulheres de bem", disse a delegada. 

Entre os casos retratados no painel está o de Danielly Rodrigues Feitosa, 17 anos, que morreu após lutar por 10 dias pela vida. Ela e mais três amigas foram violentamente atacadas no caso que teve repercussão nacional, o estupro coletivo em Castelo do Piauí, no ano de 2015. 

Para Eugênia Villa, o caso de Dani foi o mais paradigmático do Piauí, uma vez que a vítima não tinha qualquer relação com os agressores.

"Esse caso não foi um feminicídio íntimo, ela não conhecia os agressores e foi assassinada por misogenia mesmo, ódio e desprezo à condição de mulher. Ela não conhecia a pessoa que a matou e isso pra mim foi o caso mais paradigmático do Piauí e que norteou todas as nossas políticas até mesmo porque a gente só enxerga o feminicídio íntimo, aquele que é praticado pelo marido ou namorado", desabafou.

Em entrevista ao Cidadeverde.com, ela destacou ainda casos recentes de feminicídio em Teresina e que devem ser posteriormente retratados no painel. A diretora de Gestão Interna da Secretaria da Segurança frisa que todos os casos no Estado ocorreram após ameaças às vítimas que nunca imaginaram que poderiam ser assassinadas por pessoas tão próximas. 

"Nesse painel, a gente vai mostrar o pior lado, que é o assassinato, a extinção do corpo da mulher. Vamos fazer para mostrar que não é preciso chegar a esse ponto. Geralmente, a mulher nunca quer acreditar que o marido vai matá-la e ele mata na relação de confiança. É preciso alertar a mulher. No caso da Iarla, por exemplo, se ela soubesse que ia ser morta, ela não ia entrar no carro. Ela estava completamente confiando no namorado", cita Villa chamando atenção também para o caso da psicológa que foi morta pelo sobrinho adolescente. 

A delegada considera que a pena aplicada a suspeitos de ameaça é muito branda e reforça a importância do trabalho da Polícia Civil na investigação de crimes contra as mulheres.

"No Piauí, os feminicídios estão aumentando porque estamos enxergando a face dele, estamos aprimorando os inquéritos e enquadrando casos de latrocínio, estupro seguido de morte ou uma lesão corporal, quando as vítimas são mulheres, em casos de feminicídio. Assim, o feminicídio vai aumentar no Estado porque estamos fazendo uma qualificação das nossas investigações o que vai dar uma pena muito maior ao agressor, porque quem vai julgar é o Tribunal de Júri. Não é só a pena que é mais grave, mas é o povo que julga e esse julgamento é mais democrático", finaliza Eugênia Villa.

 

Graciane Sousa
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