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Soberania passa a ser medida pela capacidade de se proteger de fake news

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Uma guerra de contrainformação, silenciosa e virtual é travada entre países dos quatro cantos do mundo em busca de poder. A soberania de uma nação, antes avaliada pelo alcance bélico, passa a ser medida a partir da capacidade de defesa de dados e da manipulação da informação. Não bastasse a campanha dos adversários, os candidatos ao Planalto terão de ficar atentos a interferências externas. 

Assim como nos Estados Unidos, hackers russos são capazes de representar forte ameaça à democracia no país. Apesar desses agentes produtores de fake news terem influenciado em processos políticos nos últimos anos, o debate ainda divide a opinião dos principais especialistas sobre o assunto.

Com uma nova estratégia de ataque, a Rússia tem se destacado no cenário mundial, apesar de não estar mais entre as principais economias. O país deixou de ser reconhecido pelo arsenal de armas e passou a ocupar um lugar que até agora não era conhecido — o poder pela tecnologia. Para Silvio Meira, professor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Escola de Direito do Rio da FGV, os russos querem manipular as redes sociais e ter o controle político de países em prol do populismo autoritário. Foi assim que Donald Trump teria chegado à Casa Branca — com o precioso apoio do país.

“Eles têm fábricas de anúncios financiadas por eles, operadores hospedados no país e milhões de pessoas influenciadas pelas informações postadas no Facebook”, pontua Meira. Poucas lacunas que serviram de passagem à informação conseguiram ser controladas pelas autoridades norte-americanas, apesar de investigações já estarem em curso nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Reino Unido.

O especialista relembra o vazamento de dados de 87 milhões de usuários do Facebook à empresa de consultoria Cambridge Analytica que, à época, garantiu não ter utilizado as informações para influenciar resultados na eleição norte- americana de 2016. “Essa investigação ainda está em andamento. Não sabemos se houve manipulação a partir deles. Mas, e se vazaram dados de algum brasileiro? Qual o teor dessas informações e para quem? Se o Facebook sabe quem é você, já sabe em qual grupo encaixar. Nesse período eleitoral, isso pode ser uma ameaça”, complementou.

Em 2016, o ex-presidente Barack Obama anunciou sanções contra a Rússia por ter atacado o sistema democrático dos Estados Unidos e por hostilizar diplomatas norte-americanos. A principal acusação contra os russos envolve o roubo de milhares de e-mails de computadores do Partido Democrata para supostamente prejudicar a campanha de Hillary Clinton. Trump, por sua vez, afirmou que não havia nenhuma prova do envolvimento da Rússia nas eleições.

Recentemente, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, acusou o governo russo de se engajar em uma série de “atividades malignas pelo mundo, como a ocupação da Crimeia e a instigação à violência no Leste da Ucrânia, fornecendo materiais e armamento ao regime do presidente sírio, Bashar al- Assad, enquanto eles bombardeiam seus próprios civis, tentando subverter democracias ocidentais em ciberatividades maliciosas”. Neste ano, os Estados Unidos entraram com ação contra 14 instituições e 24 indivíduos — sete empresários e 17 autoridades do governo russo — novamente sobre atividades fraudulentas da Rússia para subverter sistemas democráticos.

Disputas

Se agentes cibernéticos russos tentarem interferir nos desdobramentos das eleições brasileiras com fake news, Meira diz que os resultados podem ser comprometidos — principalmente se a disputa entre os candidatos for acirrada. Se, no Brasil, houver uma disputa em que a diferença entre presidenciáveis seja de 3% para irem a segundo turno, os hackers podem decidir em certa medida no processo eleitoral. “A intervenção de fake news, novos arranjos e promoção de clusters terão um grande impacto na população. Os russos poderão investir nesses votos, após receberem e assimilarem informações a partir de posts nas redes sociais”, complementou.

Já para Marcelo Vitorino, professor de marketing político e digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), não há como prever se haverá interferências externas no país, porque essa influência ainda “não ficou clara”. Ele acredita que essas eleições serão incendiadas pelo fogo nacional. “Os candidatos irão se apoiar mais em um treinamento ideológico para a militância do que em uma equipe especializada”, completou.

EsTa estratégia, para Vitorino, é uma das maneiras mais eficazes de se combater as fake news: capacitar militantes para que possam enfrentar o conteúdo falso de seu candidato. “Se uma notícia falsa viralizar e não houver militantes à espreita, a definição das eleições pode ser alterada”, disse. O professor lembrou ainda que os eleitores devem se preocupar com o que compartilham nas redes sociais. “O compartilhamento de uma pesquisa falsa, por exemplo, pode resultar em uma multa salgada, de aproximadamente R$ 50 mil.”

Frederico Meinberg, promotor de Justiça e coordenador da Comissão de Proteção dos Dados Pessoais do MPDFT, afirmou, por sua vez, em entrevista ao Correio, que, até o momento, “não há interesse geopolítico dos atores externos em determinados candidatos”. Ele acrescentou que a democracia está em xeque em todo lugar do mundo. Entre os países preparados para combater essas notícias falsas estão a Alemanha e a França. Nas eleições de Angela Merkel e Emmanuel Macron, quando espiões cibernéticos supostamente ligados a uma agência militar da Rússia tentaram invadir os comitês usando truques de phishing, a pescaria de dados, já havia uma equipe de investigadores para rastrear os ataques. Além disso, ambos os políticos investiram recursos na checagem de notícias falsas.

Fonte: Correio Braziliense

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