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Clubes brasileiros contestam medidas da Fifa para controlar pagamentos

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ALEX SABINO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Na janela de transferências do futebol europeu, de junho a agosto deste ano, os clubes do continente gastaram 3,6 bilhões de euros em reforços (R$ 17,2 bilhões).

De olho nesse mercado, a Fifa iniciou um processo de mudança do sistema de transferência de jogadores que valerá em todos os países filiados à entidade. A ideia é tentar controlar o volume de dinheiro movimentado pelo futebol e não deixa de ser uma tentativa de fazer algo semelhante ao que acontece nos esportes profissionais americanos.

"Sem dúvida, faltou debate. Eles fazem uma regra mundial e esquecem que cada país tem a sua particularidade. A realidade do futebol brasileiro não é a mesma da Europa. Aqui não sobra dinheiro. Os clubes tentam sobreviver", reclama Rodrigo Caetano, executivo de futebol do Internacional.

Na última terça (25), representantes de clubes, ligas, jogadores, federações nacionais e confederações deram apoio a um pacote de reformas proposto pela Fifa, segundo divulgou a própria entidade.

Há ideias como a criação de uma central de pagamentos. Um banco, ainda a ser contratado, ficaria responsável por receber e distribuir o dinheiro de transferências.

Também passaria a ser obrigatório o uso de sistema eletrônico de jogadores e haveria restrição no pagamento de agentes, que estariam proibidos de terem dupla representação na transferência e não poderiam mais cuidar, ao mesmo tempo, dos interesses do jogador e do clube. Além disso, ficaria regulamentado o sistema de empréstimo de atletas.

Há outras medidas ainda mais controversas que serão discutidas. A criação de um algoritmo (um programa de computador) para determinar o valor de mercado de um jogador e um limite para gastos com salários, por exemplo.

Essa possibilidade alarma dirigentes envolvidos no futebol sul-americano.

"Como isso será verificado? Tem de haver uma fiscalização na contabilidade do clube. Como vai fazer isso? Alguém vai regular quanto o Neymar vai receber no PSG? Eu acho bem difícil implantar isso na prática", analisa Paulo Pelaipe, gerente de futebol do Coritiba.

A Fifa tenta se aproximar dos esportes americanos e fazer o mesmo papel de ligas como a NFL (futebol americano) e NBA (basquete masculino). Nesses torneios, há regras financeiras estabelecidas com penalidades a serem impostas a quem violá-las.

A única medida que se aproxima disso no futebol é o fair play financeiro, instituído pela Uefa para tentar fazer com que os clubes não gastem mais do que arrecadam. Por causa das contratações de Neymar e Mbappé, o Paris Saint-Germain é investigado no momento.

Na próxima temporada da NBA, por exemplo, cada time poderá gastar US$ 101.869.000 em salários (R$ 413.221.411,60). É o chamado salary cap, que não existe na MLB (beisebol), mas as franquias que ultrapassam os US$ 197 milhões (R$ 799 milhões) pagam o luxury tax, taxa estipulada para cada dólar superior ao limite estabelecido. O dinheiro arrecadado é distribuído para as demais equipes.

A intenção declarada da Fifa é fazer com que o sistema de transferências, quanto os jogadores recebem e os valores pagos a intermediários deixem de ser uma caixa preta. A palavra mais usada pelo presidente da entidade, Gianni Infantino, é "transparência".

É uma tarefa bem mais difícil para a Fifa do que para as ligas americanas, que cuidam de um restrito número de equipes. Na NFL, a mais rica, são 32. A organização que comanda o futebol tem 223 associações nacionais filiadas.

Mas os críticos no Brasil acreditam ser um fórmula usada tendo como molde o futebol europeu, o mais rico do planeta. Não serve para todos.

"É uma regra muito perigosa. Os clubes no Brasil são entidades sem fins lucrativos e a finalidade é atender ao torcedor. Qual é o objetivo da Fifa?", questiona Alexandre Faria, diretor executivo de futebol do Vasco.

"Os valores envolvidos em transações de quaisquer tipos de ativos são regulados pelo mercado por meio da lei da oferta e da procura. Isso ocorre também no mercado esportivo, especialmente no futebol. Querer limitar os valores me parece inadequado, pois o mercado vai encontrar formas menos claras para remunerar o clube vendedor."

A Fifa não determinou uma data ainda para colocar as medidas em prática, mas alguns pontos das reformas propostas serão submetidas ao conselho da entidade em 26 de outubro. Se forem aprovados, serão a base para as discussões e negociações com associações nacionais e clubes.

 

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