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"O docente é o protagonista no conflito atual da sociedade", diz professor Alex Mendes

Foto: Luccas Araujo

"O magistério nunca se tornou tão protagonista como agora". A frase é do professor de História e Direito Alessander Mendes, o professor Alex, que há 21 anos tem a profissão como missão de vida. Sobre o atual momento do Brasil em que o conflito político divide a sociedade, ele alerta que o docente tem papel de orientar, respeitar as diversidades e compreender as pessoas dentro do ponto de vista delas. Alex Mendes ficou conhecido nacionalmente ao pegar o filho de uma aluno no colo e niná-lo durante a aula.

"Orientar é a chave da desconstrução de conflitos, mas uma orientação que permita que a outra pessoa escolha quem ela realmente deseja escolher, nós não somos donos de verdades", afirmou.

Nesta segunda-feira(15), que se comemora o Dia do Professor, ele afirma que o docente não pode ser omisso, mas se manter isento e neutro. 

"Quando digo para o professor fazer trabalho de isenção é permitir que as pessoas possam compreender, entender todo o jogo, por exemplo, era interessante os professores trabalharem os planos de governo dos candidatos, a ponto que as pessoas possam decidir, e não professor tomar um determinado partido e legitimar na força de persuasão na escolha do seu candidato, isso não vai fazer a desconstrução do conflito, pelo contrário, isso vai terminar é colocando ele no meio do conflito e acontecendo isso, aquele que era o orientador foi levado pelo tsunami chamado de conflito político", avalia o professor que também é Mediador de Conflitos.

Sociedade bipolarizada

Como professor de História, Alex analisa que os acontecimentos atuais de amor e ódio aos candidatos postos e as consequências disso entre a sociedade é apenas o "gatilho" de uma crise que já acontece há muito tempo. E destaca que o Brasil sempre foi dividido em dois lados.

"A coisa vai acontecendo e ela tem o que a gente chama de gatilho, que é uma explosão daquilo que lá atrás era uma insatisfação, que já vem bem de antes, esse conflito não é de agora. Se nós voltarmos para a eleição de 2014 o país ali já estava dividido. Todo o processo histórico do Brasil foi bipolarizado. Por exemplo, se nos lembrarmos no início da República Velha, era a aristocracia cafeeira com o  restante do Brasil, nós fomos bipolarizados entre a UDN e o PTB, na República Populista e até durante a ditadura militar também só tinham dois partidos: o MDB e a Arena. Logo demais na redemocratização, durante muito tempo a discussão foi entre PT e PSDB então a gente vivenciou essa bipolaridade eternamente, isso não é de agora", especifica.

Ele disse que hoje o conflito está maior porque envolve áreas delicadas como gênero, religião e a política. 

"O gênero é uma questão de liberdade, de escolha pessoal. (O conflito) também envolve religiosidade que é extremamente delicado, basta ver que o mundo oriental nunca se entendeu porque parte desse conflito envolve religião. E nesse turbilhão chamado conflito da questão política, você tem discussão de gênero, de raça e religiosa, que quando mistura tudo isso numa panela de pressão, alguém vai sair prejudicado".

Para Alex, essa bipolarização é resultado do processo educacional que a sociedade recebeu ao longo da caminhada e por isso as pessoas não estão preparadas para viverem a diversidade da vida moderna e reforça que atualmente o professor é peça primordial para acalmar o conflito. 

"No Brasil, neste momento, existe um levante de responsabilidade do magistério, não tomando partido de A de B, seja político, seja religiosamente, seja discussão de gênero, de raça, se o pais é estado liberal, total... todas essas bipolaridades são construídas em uma linhagem marxista. Se nós olharmos para todos os livros de História, você vai entender que sempre teve patrão e empregado, proletariado e a classe burguesa, sempre teve ricos e pobres, brancos e negros e nós aprendemos assim, nos formamos assim. Então somos frutos de um processo educacional bipolarizado  e se nós somos frutos disso como é que hoje você não quer que a gente vivencie uma relação bipolarizada?". 

Alex Mendes recorre à sua segunda profissão - Mediador de Conflitos - para ajudar a explicar como o professor deve agir. Ele utiliza um caso que considera de sucesso, que atuou no Norte do país e resolveu um conflito de terra entre dois fazendeiros que existia há 20 anos. 

"Fui a Roraima resolver um conflito de terras onde duas famílias estão há 20 anos se digladiando, com conflitos físicos, de tiros e todas as facetas, passamos dez dias para resolver e foi solucionado encontrando os pontos em comum deles e neles você vai trabalhando e desconstruindo o conflito de 20 anos um filho atira no do outro e no final você os dois fazendeiros apertando as mãos, isso para fim foi um case para minha vida que foi fora do comum. Quando boto esse caso aqui, é porque naquele momento, eu fui mediador mas eu fui educador todo o tempo, eu fui professor quando eu soube ouvir, fui professor quando soube entender as outras pessoas e fui educador quando dei a possibilidade para as pessoas entenderem a relação entre elas, porque que os outros são do jeito que são", analisa.

Sobre respeito

O professor também fala que é preciso haver respeito. Para ele, respeitar é conviver com a diversidade, respeitar a opinião, os desejos e o interesse dos outros e não da maneira como gostaria que elas fossem. 

"Quando entende o outro do jeito que ele é, em suas opiniões, com seus desejos, suas vontades, nesse momento você está respeitando a dignidade da outra pessoa. Respeitar a outra pessoa não é só dizer que convive, só dizer que ela pode estar no mesmo espaço que você, que você está no cinema e ela também pode ir. Respeitar não é está perto, é conviver. Vejo muita gente dizer: não tenho nada contra a, b ou c, ele lá e eu cá. Isso não é convivência e também não é respeito".

E cita o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman que diz que "aquela pessoa que não consegue conviver dentro dessa complexidade humana, moderna, é uma pessoa que vai ter muitos problemas uma pessoa que não vai conseguir compreender que essa relação da sociedade moderna, nós não somos um, nós somos múltiplos e essa multiplicidade envolve educação, direito,a discussão da religiosidade, da política e dos interesses diversos é importante que a gente consiga entender essa diversidade e o que está acontecendo nesse momento não é uma coisa só do processo eleitoral. Os momentos de crise são importantes, olhando por um lado positivo, tira todo mundo da zona de conforto e coloca você em uma releitura dos fatos que estão acontecendo".

Caroline Oliveira
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