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'Não sabia que eu não era normal', diz Hannah Gadsby, de 'Nanette'

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Foto: Reprodução/Instagram/@afrmag

Caso alguém ainda duvidasse se o programa de Hannah Gadsby na Netflix, "Nanette", era ou não comédia stand-up, a australiana veio explicar que, de fato, não era mesmo. E se alguém ainda pensava que ela ia se aposentar do humor, ela provou que não, não vai mesmo. 

Na semana passada, Gadsby participou do evento de palestras TED, quer a descrevia como "comediante séria". Faz sentido: em "Nanette", seu especial de 2018, ela faz rir ao contar sobre sua dificuldade de crescer lésbica numa cidade conservadora, mas muda radicalmente de tom no meio do caminho para fazer um manifesto anti-comédia e contar que sofreu muitos abusos e até estupro por ser gay.

Gadsby diz que cansou de fazer humor com a própria tragédia. "Não é humildade. É humilhação", afirma no programa, explicando por que ia se aposentar.

Mas o especial fez tanto sucesso que a australiana, uma veterana da comédia em seu país, acabou lançando carreira internacional. Neste ano, ela apresentou um novo show nos EUA, "Douglas", no qual explicou que aquele papo de aposentadoria era apenas um "artifício do teatro".

A humorista queria se aposentar era do tipo de comédia com a qual construiu sua carreira. E, durante o TED, disse querer transformar o humor para fazer caber nele a história que queria contar.

"Estava escondendo a escuridão, tirando as partes doloridas e guardando meu trauma pelo conforto da minha audiência", disse. "Estava conectando outras pessoas através das risadas, mas por dentro eu estava em pedaços."

Foi quando resolveu escrever "Nanette". "Escrevi um show de comédia que não respeita a 'punch line'", falou Gadsby sobre a frase lacradora que encerra a piada para fazer todos rirem. "Não queria fazer ninguém rir. Queria chocá-los para que eles ouvissem a minha história e segurassem a minha dor, como indivíduos, e não como uma massa de risadas sem cérebro."

Gadsby se defendeu das reclamações que ouviu à época, sobre "Nanette" não ser um programa de comédia.  "Ainda que eu posso concordar de fato não é um show de humor, essas pessoas constroem seu argumento de modo a dizer que eu fracassei na comédia. E eu não fracassei", disse.
"Peguei tudo o que eu sabia sobre humor, os truques, ferramentas, conhecimentos e, com tudo isso, quebrei a comédia. Mas não queria simplesmente destruir e sim reconstruir, transformar, reformulá-lo para dar conta da minha história."

Gadsby, 41, cresceu na Tasmânia, ilha ao sul da Austrália onde até meados dos anos 1990 era ilegal ser gay. Formada em artes, ela trabalhou em livrarias, cinemas e também na colheita em fazendas. Chegou a morar na rua e ser hospitalizada, até encontrar sucesso no humorismo em 2006.

A comediante contou ter sido recentemente diagnosticada como autista. "Sempre pensei que não conseguia resolver minha vida como uma pessoa normal por ser deprimida e ansiosa. Não sabia que eu não era uma pessoa normal. Pelo menos agora sei qual é meu problema."

Fonte: Folha Press

 

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