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Projeto quer capacitar mulheres cegas em rede empreendedora

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Fotos: Analice Borges/Cidadeverde.com

Quase a metade dos mais de 500 mil deficientes do Piauí é cega ou tem baixa visão e a maioria desses piauienses são mulheres. É o caso da estudante de Gestão Ambiental Conceição Costa, 33 anos. A dificuldade de enxergar não parou a piauiense que encontrou no mercado de trabalho um forte obstáculo.

Conceição relembra que já foi dispensada muitas vezes por conta do preconceito. “Já fiz várias seleções que me diziam que ia dar certo, que a vaga era minha mas aí no final eles escolhiam a pessoa que enxergava melhor”, contou. Para ajudar na renda de casa ela trabalhou como vendedora autônoma de cosméticos. Ela cursa a graduação no Instituto Federal do Piauí (IFPI) e utiliza o transporte coletivo para se locomover na cidade.

A realidade de Conceição e de outras mulheres cegas do Piauí serão conectadas em um projeto que vai beneficiar 40 piauienses em ações de capacitação profissional para inserção e sensibilização do mercado de trabalho. A iniciativa pretende montar uma espécie de cooperativa empreendedora para mulheres com dificuldades de visão para ampliar as possibilidades de renda e empregabilidade. 

Mulheres de visão

Chamado de “Mulheres de Visão”, o projeto lançado nesta sexta-feira (2) no Memorial Esperança Garcia, em Teresina, é uma parceria do Instituto Conradio com a Fundação Interamericana (IAF). Para Iranildo Moto, da Conradio, o projeto também busca sensibilizar a sociedade civil, empresarial e o estado para as demandas profissionais da população com deficiência.

"É um projeto inovador no Brasil que pretende fortalecer o empoderamento dessas mulheres. É incentivar o potencial que elas têm para atender a uma demanda que existe no mercado e não é atendida. Um exemplo é a acessibilidade de bibliotecas em escolas e universidades. A legislação do Brasil é uma das mais modernas do mundo nesse sentido, só não é implementada. Daí a ideia de incentivar a sensibilização da sociedade para que essas medidas sejam de fato aplicadas e essa população possa contribuir na implantação dessas ferramentas de acessibilidade, formando uma empresa especializada nisso, por exemplo", explicou 

O projeto tem duração de três anos e será realizado em duas etapas, formando 20 mulheres em cada. As aulas serão realizadas na sede da Conradio em Teresina. O projeto prevê ações com empresários, promoções na imprensa com concurso de reportagens e com movimentos sociais e instituições como OAB, Ministério Público, governo e prefeituras. 

Enxergar possibilidades

Organizadas no Movimento de Mulheres Cegas e de Baixa Visão, Denise Santos e Jusselma de Sousa fazem parte de uma rede nacional de apoio e fortalecimento. “Muitas mulheres ainda são invisibilizadas até por suas famílias. O movimento vem pra fazer as mulheres tomarem posse de si mesmas”, conta Denise.

Para Jusselma, a oportunidade do projeto só tem a fortalecer o ambiente de empreendedorismo. “Por que não capacitar mulheres e de baixa visão para os negócios, para empreender? Isso é dar autonomia e empoderamento e favorecer essa categoria que é tão vulnerável”, questiona.

Denise Santos acredita que os debates sobre as políticas públicas dentro do ambiente de negócios cria espaço para mulheres cegas e com baixa visão, que vivenciam  essa realidade. “Até mesmo as políticas públicas porque o curso vai ser voltado para essa temática da acessibilidades. E nada melhor do que nós mesmas nos empoderar disso”, argumenta.

 

Valmir Macêdo
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