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Fabiana Karla diz que luta contra gordofobia é esquecida por outros movimentos

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Foto:instagram@fabianakarlareal

Quando colocou o pé nos Estúdios Globo para gravar a última temporada da Escolinha do Professor Raimundo, a atriz, humorista e apresentadora Fabiana Karla, 45, conta que não conseguiu segurar a emoção. "Comecei a chorar né, porque você fazer humor dentro de um contexto desses... Mas pensei na importância que o programa tem para as pessoas que estão em casa. Foi muito bonito", diz.

Assim como para muitos dos seus telespectadores, 2020 foi um ano cercado de incertezas para a atriz. Até 16 março, ela vivia em um ritmo frenético. Ao lado de Fernanda Gentil e Érico Brás, Fabiana Karla comandava diariamente o Se Joga, programa vespertino da Globo, que ainda não tinha decolado na emissora após quase seis meses de sua estreia, e que foi suspenso para que o canal ampliasse a cobertura do novo coronavírus.

Desde então, não voltou mais ao ar. Recentemente, a Globo anunciou que a atração retoma em 2021, mas aos sábados, e repaginada. A atriz e humorista afirma que continua escalada para apresentar o programa e defende a emissora por ter feito, segundo ela, um trabalho "hercúleo" em 2020 com o objetivo de não deixar o público órfão de programação e, ao mesmo tempo, respeitar e proteger seus profissionais.

"E o que tiver de ser vai ser. Quando o Se Joga voltar, assim espero, acho que a gente vai conseguir, não sei se recuperar o tempo perdido, mas a gente vai voltar com toda a garra e com muita força de vontade para começar nesse novo normal", afirma.

No humor, Fabiana Karla teve outro baque: o anúncio do fim da Escolinha, em que ele dá vida a Cacilda, personagem que ficou famosa com a atriz Cláudia Jimenez. O núcleo de atrações de comédia da Globo, aliás, enfrenta grande turbulência em 2020. Após a saída, em agosto, do então chefe da área, Marcius Melhem, acusado de assédio sexual e moral por atrizes, a empresa anunciou, em outubro, o fim do Fora de Hora, do Zorra e Escolinha –os três tinham a mão de Melhem.

O canal afirmou que a decisão foi tomada por causa dos impactos da Covid-19. Disse ainda que os profissionais das atrações deverão ser aproveitados em um novo programa de humor, que irá ao ar no ano que vem.

"Eles estão passando por uma reorganização, sabe, e estão vendo o que é prioridade no momento, e claro, que temos muitos projetos. Temos feito reuniões virtuais, os núcleos de humor são contemplados, as pessoas estão todas ali logadas, existem boas discussões, ótimas ideias, mas estamos esperando para ver como vai ficar esse momento", diz a atriz e apresentadora.
Embora não estivesse mais no Zorra desde 2016, foi lá que Fabiana Karla se tornou conhecida do público, com personagens como Gislaine, que tinha o bordão: "Isto não te pertence mais".
Na entrevista ao F5, realizada em novembro, ao ser questionada sobre as acusações contra Melhem, disse que lamentava muito e, mais uma vez, defendeu a Globo ao dizer que a emissora estava tomando as providências para "apurar isso melhor".

"Eu acho que as pessoas não podem ficar dentro de um contexto em que não se faça justiça, porque a verdade sempre vem à tona, o que for verdade vai aparecer, e quem tiver que ser punido que seja, e quem tiver que ser absolvido também seja. É o justo", afirmou.

Após a divulgação de novos detalhes sobre as acusações de assédio contra Melhem virem à tona, no dia 4 de dezembro em reportagem da revista piauí, Fabiana Karla manifestou seu apoio público a Dani Calabresa, que foi a primeira mulher a levar a situação à alta cúpula da Globo.

No Instagram, ela postou uma foto ao lado da humorista, e a parabenizou pela força: "Obrigada por essa transformação tão necessária e que honra e contempla tantas mulheres que tiveram suas vozes caladas quando sofreram assédio sexual ou moral. Confesso que não sei se teria sua coragem e sua persistência. Você é admirável! Qualquer coisa liga! Estou sempre aqui para te ouvir."

Já sobre o fim da Escolinha, ela diz ter esperanças que o programa possa ser retomado. "Eu sempre acho que é alarme falso. Porque já teve esse momento de 'ah, não vai fazer', e aí a gente insistiu, insistiu, insistiu, todo o mundo pediu, e aí acabou voltando", relata.

"A Escolinha é tão maravilhosa que eu fico me perguntando: vai acabar mesmo? A gente fica incrédulo", comenta. Nesta última temporada da atração, Fabiana Karla também interpreta Lucicreide, papel que ela criou e ficou famoso no Zorra Total. "Se acabou mesmo, fechamos com chave de ouro."
GORDOFOBIA NO LIMBO

Para Fabiana Karla, hoje em dia, as "pessoas não estão se calando com nada". "E acho que ninguém tem de se submeter a nenhum constrangimento, a nenhuma coisa que te deixe em uma situação vexatória, a nada que te constranja, que te humilhe", corrobora.

Apesar de avaliar que esses movimentos, como o feminista e o antirracista, sejam muito importantes para amplificar vozes que antes não eram ouvidas, a atriz e humorista pondera que eles não podem também ser limitadores, e que as individualidades devem ser respeitadas.

Ela faz ainda uma provocação: "A gente que é gorda fica no limbo, porque o movimento feminista às vezes esquece que gorda é mulher, e o movimento negro esquece que existem gordas negras. A gordofobia fica sozinha nesse grito. Acho que é importante, sim, a gente ver onde está a questão estrutural, entender isso."

Fabiana Karla diz que discutiu muito o assunto com a atriz e roteirista Suzana Pires, ativista do feminismo. Para a humorista, o momento é de aprendizado, de cada um olhar para si, entender o seu lugar de fala e lutar pelas causas que acredita. "Ou também se não quiser é um direito de cada um, acho que as pessoas são livres também. Tem gente que não quer guerra com ninguém", afirma.

Ela mesma diz acreditar não ter muito haters nas redes sociais por não se envolver em "algumas polêmicas" e por deixar sempre o espaço aberto para que as pessoas possam divergir dela, "sem se sentirem agredidas". "Mas não deixo de passar a minha ideia. E o humor sempre foi essa ferramenta de falar de coisas séria de uma forma mais amena. Acho que aprendi isso com humor", ressalta.

Fabiana Karla também afirma que não se estressa muito com os haters, e que consegue separar o que é ódio gratuito dos comentários que podem ser úteis. "Porque não vou viver balizada numa rede social".

COMUNICADORA
Apesar de ser muito ligada à comédia e de ter outros projetos na área, Fabiana Karla afirma que o seu foco hoje é ser apresentadora. "Eu acho que sou uma comunicadora desde que nasci. Puxei isso da minha avó, ela é muito de comunicar, contar histórias, passar notícias. Acho que me adaptei bem ali [no Se Joga], e é uma delícia para mim", relata.

Fazendo o programa ao vivo, ela reforça que é preciso sempre lembrar e entender que cada dia é um dia. "O acerto que você fez vai passar logo, e o erro que você fez também vai passar", diz. Por isso, afirma que a cultura do cancelamento na internet não faz sentido.

"Não gosta de ver gorda dançando de biquíni, não vai olhar, meu amor, mas é o direito dela. Ela vai dançar de biquíni, assim como a garota magra, assim como a negra. Cada um faz o que quiser, daí cabe a você mudar... Deixar de existir uma ideia, porque você acha que a sua é melhor, querer calar a boca do outro para apresentar a sua, o que você acredita, é ruim. A internet vem pesado às vezes desse jeito", diz.

Por outro lado, afirma que as redes sociais são boas ferramentas de divulgação dos artistas e para se aproximar do público. Ela ressalva, porém, que prefere manter uma certa distância dos seus ídolos. "Gosto de olhar ainda com aquele olhar do artístico, e não me decepcionar com o pessoal", diz, aos risos.

Uma de suas inspirações é a apresentadora americana Oprah Winfrey. "Eu não quero muito saber da intimidade dela, porque eu quero deixá-la naquele lugar, que eu a acho maravilhosa e quero me espelhar. Aí você vai e vê uma coisa que você não gosta muito, aí fica triste [risos], cai um pouco o conceito", diverte-se.

ARTE E MEDITAÇÃO
Fabiana Karla afirma que a arte sempre a salvou. "É como se eu fosse um fio desencapado, e a arte fosse um plug. Eu sempre coloquei toda a minha ansiedade ali no meu trabalho", diz. Durante a pandemia e a quarentena, para se manter sã, ela conta que passou a se dedicar à meditação. Também virou embaixadora do programa Vigilantes do Peso. O objetivo, segundo destaca, não é emagrecer, mas conscientizar sobre a importância de se fazer escolhas mais saudáveis. "Até porque, se fosse [perder peso], eu já teria feito uma cirurgia de estômago."

"Quem convive comigo acha engraçada as minhas escolhas alimentares, porque todo mundo tem a impressão que toda pessoa que é gorda come chocolate o dia todo, que vai comer só pizza. E eu não sou essa pessoa. Eu como brownie de batata-doce", complementa.

A atriz afirma que tem uma doença crônica, a obesidade e, portanto, precisa fazer boas escolhas para viver bem com ela. Tomar água e fazer exercícios físicos ainda são o seu "calcanhar de Aquiles", relata. Mas Fabiana Karla diz que tem se esforçado para seguir com saúde e equilíbrio entre corpo e mente. "Quero estar no meu novo incrível quando a pandemia acabar", conclui.


Fonte: Folhapress

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