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Entidades do Piauí se posicionam contra demolição do sanatório Meduna

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Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com 

Entidades e organizações ligadas à defesa do patrimônio iniciaram uma mobilização contra a possível demolição do prédio onde funcionou o sanatório Meduna, localizado nas dependências do shopping Rio Poty, na zona norte de Teresina. A possibilidade de demolição do espaço foi levantada nas últimas semanas e mobilizou as entidades.

Na manhã desta terça-feira (02), representantes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), da OAB, e de outras entidades estiveram reunidos com membros da direção do Shopping para tratar sobre a situação do espaço. O encontro foi marcado por momentos de tensão e sem a definição de um consenso sobre a destinação do espaço do antigo Meduna.

De acordo com o presidente do CAU, Wellington Camarço, os representantes do shopping não deram nenhuma garantia de preservação do espaço.

"Nenhuma garantia. Os administradores reafirmaram, por diversas vezes, que não têm ideia do que vão fazer, que não têm nenhum projeto para aquele patrimônio, e nem mesmo a demolição eles não podem garantir que não irão fazer. Não deixou nenhuma garantia. Ao contrário, nos passou que a decisão será tomada fora, pelas altas cortes do grupo, o que nos causa mais medo ainda", disse o presidente do CAU.

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O Conselho de Arquitetura de Urbanismo também argumenta que na época da construção do shopping, o grupo empresarial havia se comprometido a construir um centro cultural no prédio onde funcionou o sanatório, proposta que, até o momento, não foi efetivada. Esse é uim

"Quando um empreendimento desse porte se propõe a se instalar numa cidade, é necessário apresentar um documento que vai detalhar o impacto ambiental, social e de vizinhança. Consta no documento deles, a construção de um centro cultural. O descumprimento desse documento, compromete todo o empreendimento", destacou.

Ainda de acordo com Wellington Camarço, atualmente não existe nenhum instrumento que garanta a preservação do imóvel onde funcionou o Meduna. "Não tem nada que protege o prédio. Por isso, temos que correr com as ações e processo judiciais e, paralelamente,  a mobilização da sociedade", alertou.

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Fundado na década de 50, pelo médico Clidenor de Freitas Santos, o Sanatório Meduna foi considerado por muito tempo um local de referência para o atendimento psiquiátrico no Piauí. 

A Associação Brasileira de Neuropsiquiatria também se manifestou, por meio de nota, contra a possibilidade de demolição do local. "Sugerimos que o local seja preservado na forma de um Centro Cultural, capaz de oferecer cursos, desenvolvimento artístico dos jovens piauienses e, acima de tudo, oferecer um espaço de convivência intelectual, onde a história e os novos saberes possam através das lições do passado construir um futuro melhor para todos", diz a nota. 

Em dezembro do ano passado, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) iniciou uma mobilização para que os espaços do antigo Sanatório sejam transformados em um centro cultural ou passem a abrigar o novo Parque Tecnológico do Piauí, ligado à Universidade. Até o momento, não há informações sobre a continuidade do projeto. 

A antiga capela do Meduna já passa por reformas, após ter sido cedida para a Arquidiocese de Teresina, através de um contrato de comodato. 

 


Conselho de Cultura alerta para importância do Meduna

 

Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com 

Representantes do Conselho Municipal de Política Cultural de Teresina também participaram da reunião na manhã desta terça-feira(02) com os membros da administração do shopping. A entidade já atua na busca por informações atualizadas sobre a situação do imóvel.

A arquiteta Camila Ferreira, representante do setorial de Patrimônio Material e Natural do conselho, destaca um parecer técnico sobre o local e sua estrutura física deve ser elaborado e divulgado nos próximos dias. O material vai servir de embasamento para futuras ações que devem ser adotadas no sentido de garantir a preservação do prédio. 

"Nós vamos fazer um parecer técnico, para saber porque esse prédio está na iminência de ser demolido, porque não sabemos se essa intenção foi real, embora tenhamos acionado o Ministério Público. Estamos aqui para tentar impedir que esse patrimônio seja ceifado, seja perdido, tanto pela ação do tempo, quanto pela ação do homem", destacou. 

Foto: Roberta Aline/Cidadeverde.com 

Já  presidente do Conselho Municipal de Política Cultural, João Henrique Vieira, destaca que o prédio chegou a ser cedido à Prefeitura de Teresina, através de um contrato de comodato, que encerrou no final do ano passado. 

"Em 2016, quando eles terminaram a obra do shopping, um grupo de vereadores pediu para que o imóvel fosse utilizado como um bem cultural e artístico. De 2016 prá cá, não foi feito nada. Em dezembro, foi passado de volta para o shopping, com cláusula de que a prefeitura não se responsabilizaria  por nada da depredação que ocorreu. Passado isso surgiu essa notícia da demolição, e vários órgãos se mobilizaram para entender a situação", disse. 

Ainda de acordo com o presidente do Conselho, o prédio do antigo Meduna, apesar de não ser tombado, pode ser considerado como parte do patrimônio material e imaterial de Teresina. 

"Esse prédio faz parte de um inventário artístico e cultural, que é um primeiro passo para um tombamento. Ele não pode ser demolido à revelia. Além disso, ele é parte da memória da cidade. É uma patrimônio material e imaterial", destacou.

 

Natanael Souza
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