Cidadeverde.com

1º de Abril: A mentira é ruim, mas faz parte da nossa vida

Imprimir
Você já contou alguma mentira em toda a sua vida? Olha lá, hein... Por mais que ninguém goste de admitir, a falta da verdade está presente o tempo todo em nosso dia-a-dia. Falar, escutar ou ser alvo de mentiras são atos bastante comuns na vida do ser humano. Tanto assim que a mentira ganhou um dia especial, o dia 1º de abril, celebrado praticamente no mundo inteiro.
 
Se ela tem perna curta, não se sabe, mas que ela tem uma história longa com a humanidade, ah, isso ela tem. No cristianismo, por exemplo, o apóstolo Pedro garantiu que não conhecia Cristo por três vezes antes que o galo cantasse, para poder se safar de ser relacionado ao Salvador. Passando para os contos-de-fadas, encontramos um dos dissimulados mais famosos do planeta: aquele boneco de madeira que sonhava em ser menino e que, ao mentir, seu nariz crescia, o Pinóquio. Entretanto, a mentira não está restrita aos livros, quer sejam religiosos ou de fantasia.
 


Um dos grandes conhecedores de histórias inverídicas do Piauí é o escritor, colunista e humorista, Deusdeth Nunes, o Garrincha. “Outro dia, encontrei meu amigo Sena Rosa, o maior mentiroso que eu conheço, no Bar do Zé Filho. Perguntei pra ele: 'rapaz, me conta um negócio sobre fulano'; ele me respondeu: 'agora posso falar não'. Eu disse: 'por quê?' e ele: 'porque meu passarinho fugiu. Voou com gaiola e tudo!'”, conta o jornalista entre risos.
 
Foto: Carlos Lustosa Filho/CidadeVerde.com

Para Garrincha, esse tipo de mentira é um prato cheio para o humor. “Isso mostra que o sujeito é criativo. Ele conta para ser engraçado”, acredita. Segundo ele, seu amigo Sena Rosa se diz especialista em muriçoca e afirma ser capaz de descobrir o sexo do inseto apenas ao observá-lo.

História pra boi dormir (e ficar famoso)
Um “mentiroso profissional” que ganhou as manchetes do país – e uma legião de admiradores – foi o paranaense Marcelo Nascimento Rocha. Ele utilizou 16 identidades para transitar entre carnavais fora de época e outras festas em todo o país até ser descoberto em 2001. Seu caso mais famoso foi ter passado pelo filho do dono da empresa aérea Gol, Henrique Constantino, no Recifolia. Na ocasião, ele se divertiu ao lado de artistas e modelos, desfrutou de tudo de graça e chegou a ser entrevistado por um programa de TV nacional até ser desmascarado.

Marcelo acabou sendo preso e condenado por cinco crimes: estelionato, falsidade ideológica, associação com o tráfico, apropriação indébita e uso indevido de farda e insígnia militares quando aprontou das suas no Exército. Mesmo na prisão, virou tema de livro da escritora Mariana Caltabiano que compilou todas as mentiras do maior cara-de-pau do Brasil.


Mentir e coçar
Caiu no 1º de Abril

Como diversas tradições, a história do 1º de Abril tem várias versões. O que é verdade e o que não é, não se pode assegurar, mas uma das explicações remonta o século XVI e tem a ver com a mudança do calendário ocidental feita pelo papa Gregório XIII em 1582. Conta-se que conforme ia sendo adotado pelos países, convencionou-se adotar o dia 1º de janeiro como o primeiro do ano. Entretanto, neste período, diz-se que na França, algumas pessoas continuaram a celebrar o réveillon em abril, devido ao costume antigo de festejar o ano novo no início da primavera no hemisfério norte (25 de março) e encerrar as celebrações no dia 1º de abril. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam.

No Brasil, o 1º de abril começou a se popularizar em Pernambuco, onde circulou "A Mentira", um jornal lançado em 1º de abril de 1848 que noticiou a morte de Dom Pedro, fato desmentido no dia seguinte. "A Mentira" saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia 1º de abril do ano seguinte, dando como referência um local inexistente.

Alguns meios de comunicação costumam blefar no Dia da Mentira, o que ficou muito mais fácil com o advento da internet. O canal de televisão inglês BBC apresentou em 1957 no programa Panorama uma reportagem falsa sobre árvores de esparguete. Muitas pessoas interessaram-se em plantar árvores de esparguete em suas propriedades. O site Google inventou em 2005 que estava criando uma bebida própria. Em 2008, o site de relacionamentos Orkut alterou temporariamente a sua logomarca para Yogurt, um jogo de letras com o nome original, deixando usuários perdidos.
Para a psiquiatra Janaína Chianca, a mentira é algo inerente ao ser humano, mas que pode ganhar contornos assustadores e acabar virando doença. “A mentira é algo natural. As crianças, por exemplo, começam a mentir a partir da própria fantasia ou para se esquivar de algo que julgue como errado”, afirma. Segundo ela, a orientação é de que os pais orientem seus filhos a falar a verdade. Entretanto, faz-se necessário que eles não hajam de uma maneira que faça com que os pequeninos acabem mentindo, sendo grosseiros ou repelindo mau comportamento com agressão.

Com o passar do tempo, as mentiras vão se tornando mais complicadas e podem virar um grande problema. “Existem pessoas que tem compulsão pela mentira e vira algo patológico. A pessoa mente sem necessidade nenhuma e sem objetivo”, descreve. De acordo com a médica, nestes casos, o ato de mentir torna-se uma compulsão igual àquela que faz as pessoas comprarem coisas desnecessárias sem parar. Em alguns casos faz-se necessário o uso de medicação.

“Mas geralmente, a mentira não é uma queixa única. Ela vem associada a outros fatores, como distúrbios de comportamento ou alimentares (anorexia, bulimia), compulsão por furtar, uso de drogas. É como se
ela fosse um anexo de outra patologia”, explica a psiquiatra.

Melhor remédio

Janaína Chianca diz ainda que mentir não é saudável. Mas dizer diretamente a verdade o tempo todo, também não. “Existem determinadas circunstâncias onde a pessoa deve saber como falar a verdade de uma forma não ofensiva. Às vezes é mais saudável omitir do que mentir ou falar o que pensa de maneira ríspida”, admite. Mentir pode não ser algo a ser celebrado com foguetório e festa, mas também não pode ser ignorado. Talvez seja por isso que exista o dia 1º de abril: para nos lembrar da presença da mentira no nosso cotidiano e de que muitas vezes nós, inocentemente ou não, somos criadores dela. Não é verdade?

Carlos Lustosa Filho
Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais
Tags: