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PSDB amplia horário de votação nas prévias devido problemas em aplicativo

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Foto: Divulgação/ Governo de São Paulo

A eleição das prévias presidenciais do PSDB entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leita (RS) teve início na manhã deste domingo (21) com problemas no contestado aplicativo de votação devido ao fluxo grande de votantes ao mesmo tempo. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto também concorre nas prévias, mas sem chances de vencer.

Inicialmente, a votação ocorreria das 7h às 15h, mas o horário foi ampliado para 18h com o objetivo de distribuir o fluxo. Com isso, o anúncio do vencedor, antes previsto para as 17h, vai atrasar.

Entre 8h30 e 9h, a ferramenta começou a travar em todo o país. O uso do aplicativo foi definido pelo PSDB mesmo após as campanhas de Doria e Leite apontarem falhas e fragilidades. O partido apostou na correção desses problemas até a votação.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, minimizou a questão. "Se o aplicativo está sendo demandado, é porque há envolvimento", disse. Ele afirmou ainda não descartar que o processo de votação acabe judicializado pelo perdedor, embora diga não esperar isso.

"Estamos tendo momentos de mais pico, o início da manhã foi mais tranquilo. Houve aumento bastante substancial nos últimos 50 minutos [por volta das 9h], mas já temos um fluxo razoável de votos. A equipe está buscando calibrar não só o fluxo, mas a segurança do sistema", afirmou.

Apoiadores de Doria relatam que tentam votar desde as 7h sem sucesso. O aplicativo demanda dupla autenticação para a votação, com foto para reconhecimento facial e verificação via SMS.

A ferramenta foi desenvolvida pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs) e foi auditada pela empresa de segurança cibernética Kryptus, que acompanham a votação neste domingo.

Além disso, consultores do PSDB e de cada uma das três campanhas também estão reunidos monitorando os dados do aplicativo em tempo real.
O acompanhamento foi elaborado com a ideia de dar mais segurança ao processo, mas dirigentes do partido e membros da campanha reconhecem que a ferramenta não estava totalmente pronta e pode haver riscos.

A votação ocorre no mesmo horário, tanto pelo aplicativo, para filiados sem mandato e vereadores, como presencialmente, em Brasília, para prefeitos e vices, governadores e vices, deputados federais, senadores e ex-presidentes do PSDB.

Ao chegar ao evento de votação presencial na manhã deste domingo, Araújo afoirmou ainda que o PSDB dá exemplo de democracia interna. Ressaltou também que o vencedor terá que apresentar capacidade de unir o partido e construir uma candidatura de centro.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25%: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

Leite afirmou, também na chegada ao evento, que os problemas vistos no aplicativo são "algo natural", mas que tudo está sendo acompanhado.

O governador do Rio Grande do Sul disse ter confiança na sua vitória e na união do partido. Ele votou na urna dedicada ao alto clero do PSDB.

"O momento da eleição divide, mas, passado o processo, tenho abosulta certeza de que o partido estará unido num único propósito, que é tirar o país dessa polarização que gera tantos prejuízos", afirmou, em referência às candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT).

Doria também exaltou o processo de prévias. "Viva a democracia, viva o Brasil. O PSDB sairá mais unido e mais forte do que nunca. O PSDB está unido e continuará unido", disse.

Doria também votou na urna eletrônica assim que chegou ao evento, por volta das 10h30.

O resultado da votação deve ser divulgado na noite deste domingo. A expectativa entre tucanos é de uma votação apertada -e há receio de que o aplicativo de votação, cujas vulnerabilidades já haviam sido apontadas pelas campanhas, seja uma brecha para judicialização do resultado.

No Centro de Convenções Ulysses Guimarães, na capital federal, políticos com mandato faziam fila para votar em seis urnas eletrônicas da Justiça Eleitoral -houve certa aglomeração, mas todos usavam máscara. O partido bancou passagens e hospedagens para que os prefeitos e vices votassem em Brasília.

O som ambiente divulgava jingles de campanhas presidenciais do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso (SP), de José Serra (SP), Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG) -os dois últimos desafetos de Doria na sigla e apoiadores de Leite. Já FHC e Serra declararam voto em Doria.

Pela manhã haverá uma homenagem aos ex-prefeitos Bruno Covas, da capital federal, morto em maio em decorrência de um câncer, e Firmino Filho, de Teresina, que morreu em abril. O filho de Covas, Tomás Covas, 16, estava presente no evento.

O resultado das prévias é visto por tucanos como uma decisão a respeito do futuro do partido e um primeiro passo na construção da candidatura da chamada terceira via.

Doria e Leite se comprometeram a permanecer no PSDB em caso de derrota e a buscarem a união do partido e o diálogo com mais siglas em caso de vitória. Para evitar a fragmentação do campo político, será preciso buscar alianças com Sergio Moro (Podemos), Rodrigo Pacheco (PSD) e outras legendas, como União Brasil (DEM e PSL) e MDB.

Se Doria vencer, consolida seu favoritismo e amplia seu domínio no PSDB, imprimindo seu estilo de marketing, eficiência e gestão -que também é lido como intransigência e atrai antipatia.

Já uma vitória de Leite, reconhecido pela capacidade de dialogar, representaria o resgate do PSDB histórico, mas profundamente contaminado pelo bolsonarismo. Arquiteto da campanha de Leite, Aécio atrai a bancada tucana para a barganha do governo federal.

São Paulo larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Depois da pior derrota em eleições ao Planalto em 2018 com Alckmin (4,76%), as prévias foram a aposta do presidente do PSDB, Bruno Araújo, para reenergizar o partido. Ele minimiza as previsões de que a sigla sairá do pleito em pedaços -Doria tem a preferência dos militantes e Leite, dos parlamentares.

A campanha foi tensa, com brigas em torno do aplicativo e acusações da equipe de Leite a respeito de filiação extemporânea de prefeitos aliados a Doria e de pressões do governador paulista, por meio de demissões e verba de convênios, para angariar votos no estado.

As críticas vinham sendo ácidas em debates até que, na última semana, os candidatos resolveram baixar a temperatura. Num gesto de paz, Leite e Doria se reuniram em Porto Alegre e falaram em união.

Apesar das diferenças, Leite e Doria acumulam incômodos em comum. O primeiro é o apoio a Bolsonaro em 2018, que ambos consideram agora um erro. O gaúcho e o paulista também miraram no presidente e no PT durante as prévias.

O baixo patamar nas pesquisas de opinião (por volta de 5% no último Datafolha) também atinge aos dois. Leite ressalta ter menor rejeição, enquanto Doria espera que a população reconheça seu empenho pela vacina contra Covid.

À frente do estado mais importante para o PSDB, Doria despontou como presidenciável favorito desde o princípio. Mas sua rejeição entre eleitores e entre a classe política acabou alavancando Leite.

O gaúcho, no entanto, é considerado menos experiente e não tem a ampla vitrine de programas e investimentos do paulista, a começar pela viabilização da vacinação.

Folhapress

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