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'Voto casado' para governos atropela correlação de forças estaduais

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Foto: Arquivo/Cidadeverde.com 

A eleição de um isolado bolsonarista para o Governo de Santa Catarina e a hegemonia do PT nos governos nordestinos mostram o quanto a eleição presidencial vem tendo peso decisivo para a definição dos governadores em algumas partes do país, atropelando a correlação de forças locais.

É uma circunstância que praticamente não tem influenciado os pleitos municipais, realizados no meio dos mandatos presidenciais.

O fenômeno do "voto casado" para presidente e governador chegou a ponto de a eleição em São Paulo repetir no segundo turno até casas decimais na disputa.

O eleito para o governo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, fez no último domingo (30) 55,27% dos votos válidos, ante 44,73% do petista Fernando Haddad. Na eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) teve no estado 55,24% dos votos, e Lula (PT), 44,76%.

A candidatura de Tarcísio passou por cima da longa hegemonia do PSDB no estado, que, diante de uma postura de neutralidade na eleição nacional no primeiro turno, perdeu espaço e acabou em um distante terceiro lugar, com o candidato à reeleição Rodrigo Garcia.

Em Santa Catarina, pela segunda eleição estadual seguida, o bolsonarismo alçou ao cargo máximo do estado um nome de fora da elite política local.

Jorginho Mello (PL), um ex-tucano e antigo veterano da Assembleia, concorreu sem coligação, derrotando grupos políticos longevos, como o PP, além do próprio governador Carlos Moisés (Republicanos), desconhecido até 2018 e vencedor naquele ano graças à onda bolsonarista.

Foi o único estado em que a disputa PT x PL se repetiu localmente no segundo turno. Nomes menos alinhados com os dois principais presidenciáveis sucumbiram na primeira votação.

Reportagem da Folha há duas semanas mostrou que, no primeiro turno, 521 mil eleitores anularam o voto para governador em São Paulo apertando na urna o número de Bolsonaro, o 22, em possível confusão com o número de Tarcísio, o 10.

O cientista político Julian Borba, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, diz que o eleitor, principalmente o que tem menos informação, tende a utilizar "atalhos cognitivos" para votar em um sistema complexo como o brasileiro.

"Um deles é reproduzir na urna os números do candidato a presidente. Já foi documentado o efeito que a urna eletrônica teve na quantidade de votos em legenda [para o Legislativo]."

As pesquisas de intenção de voto sinalizam o quanto o eleitor relegou a segundo plano as disputas locais.

Na véspera do primeiro turno, o Datafolha mostrava que, nos três estados mais populosos, 1 em cada 3 eleitores não sabia dizer espontaneamente em quem iria votar para governador.
O apelo emocional pelos protagonistas desta eleição presidencial tende a potencializar o fenômeno do voto casado.

A força do voto em Lula impulsionou no Nordeste candidatos em quatro estados onde o PT já havia vencido em 2018: Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e, no segundo turno, a Bahia.

O resultado, porém, não reflete a existência de uma máquina partidária poderosa nem uma supremacia da sigla na política local. Em nenhum desses estados o PT é a legenda com mais prefeitos. No Rio Grande do Norte, elegeu agora apenas três deputados para a Assembleia.

Na Bahia, o eleito, Jerônimo Rodrigues, um ex-secretário estadual, era desconhecido pela maioria do eleitorado e nunca tinha disputado eleições. Seu lema de campanha era o mote "JeroLula".

A ênfase no pleito nacional criou entraves para candidaturas não identificadas com nenhum dos dois lados, mesmo com máquinas partidárias mais fortes. No Rio Grande do Sul, o PSDB, em busca da reeleição de Eduardo Leite, venceu após ir ao segundo turno com uma margem mínima de 2.000 votos sobre o terceiro colocado.

Governadores que buscavam a reeleição e que não apoiavam nem Lula nem Bolsonaro, porém, venceram em estados como Minas e Pará.

Na eleição municipal de dois anos atrás, sem o clima de divisão exacerbado do pleito presidencial, o PT e o bolsonarismo acumularam maus resultados.

Na Bahia, que completará 20 anos de domínio petista no governo estadual, a candidata do partido em Salvador foi derrotada com apenas 19% dos votos.

Pelo país, o partido teve na ocasião desempenho sofrível, sem vitórias em nenhuma capital e tendo encolhido em volume e em número de prefeituras conquistadas.

Já o presidente Bolsonaro fez lives e pediu votos para dezenas de candidatos pelo país e ao fim sofreu derrotas nas principais cidades. Postulantes que tentaram colar a campanha à imagem dele também não foram bem-sucedidos.

 

Fonte: Folhapress (Felipe Bächtold) 

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