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Verba da Petrobrás beneficia ONG petista acusada de desvio

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Arrastada para o centro de uma CPI aberta no Senado para investigar desde contratos para a construção de plataformas de petróleo até decisões administrativas que reduziram o pagamento de impostos, a Petrobrás também terá de dar explicações sobre milionários convênios firmados com entidades amigas do PT para executar projetos sociais.

As cifras, como tudo na estatal, são generosas. Em apenas um desses programas - batizado de Petrobrás Fome Zero, em homenagem ao principal projeto social do início do governo Lula - foram gastos R$ 385,7 milhões entre 2003 e 2006. Em outro, o Programa Petrobrás Desenvolvimento & Cidadania, a estatal desembolsou mais R$ 300 milhões de novembro de 2007 a dezembro do ano passado e pretende chegar a R$ 1,2 bilhão até 2012.

Nos dois programas, a intenção é a melhor possível: apoiar projetos de geração de renda e emprego, financiar boas iniciativas na área de educação e investir em projetos de auxílio a crianças e adolescentes em situação de risco. A benemerência da Petrobrás, porém, esconde situações explícitas de mau uso das verbas da estatal em favor de entidades alinhadas ideologicamente ao governo.

Um caso exemplar envolve o Instituto Nacional de Formação e Assessoria Sindical da Agricultura Familiar, o Ifas, organização não-governamental (ONG) com sede em uma casa simples do centro de Goiânia, sem ao menos uma placa na fachada. A ONG, que já frequentou o noticiário por desvio de verbas repassadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), fechou convênio em 2007 com a Petrobrás no valor de R$ 4 milhões. Mas até hoje deve explicações sobre a maneira como gastou parte desse dinheiro.

BIODIESEL

O convênio Petrobrás-Ifas tinha por objetivo ensinar trabalhadores rurais de Minas, Bahia e Ceará a plantar mamona, dendê e girassol, dentre outros grãos utilizados na produção de biodiesel. O contrato previa a capacitação de 3 mil famílias de pequenos agricultores. Incluía desde assistência técnica até construção de armazéns para armazenar a produção. Como parte do convênio, os agricultores deveriam produzir 5,5 mil toneladas de grãos. A Petrobrás chegou a repassar R$ 1,6 milhão, mas as metas do convênio ficaram no papel.

A estatal diz que escolheu o Ifas a partir de um projeto apresentado pela própria entidade. Mas as credenciais da ONG dão a indicação do critério que a fez virar um bem-sucedido repositório de dinheiro público, tanto no caso do contrato do Incra quanto no convênio com a Petrobrás. O Ifas foi inaugurado em 1985 por gente ilustre do PT- dentre seus fundadores está Delúbio Soares, o tesoureiro do mensalão. Com o PT no governo, o Ifas transformou-se no braço financeiro da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), um conglomerado de sindicatos rurais também alinhados com o Planalto e que serve para repassar dinheiro para os sem-terra.

Na quinta-feira, o Estado esteve na sede do Ifas, em Goiânia. Quem vê a casa, escondida atrás de um muro alto, numa rua de pouco movimento, nem imagina que é o endereço de uma ONG de tamanho sucesso, patrocinada pela maior estatal do País. No lugar não havia nenhum dirigente do Ifas. Mas da Fetraf havia.

CUT

Quem estava por conta da casa era Gerailton Ferreira dos Santos, 34 anos, um dos coordenadores goianos do movimento. Ele foi logo dizendo: "A Fetraf Goiás funciona aqui." Era mais uma prova da parceria de sucesso. Na garagem, um dos três carros estacionados tinha estampada nas portas a logomarca da Central Única dos Trabalhadores. "É o carro da CUT, que fica aqui porque lá na sede deles não tem garagem", contou Gerailton.

O atual presidente do Ifas, Antônio das Chagas, é também diretor da CUT-Goiás. Sobre as mesas havia panfletos destinados à militância e cartazes com fotos dos "inimigos" dos trabalhadores do campo - parlamentares da bancada ruralista, como Abelardo Lupion, do DEM do Paraná.

Gerailton disse não saber muita coisa sobre o convênio com a Petrobrás. Só lembrou que um dos encarregados de gerenciá-lo, o ex-sem-terra Francisco Miguel de Lucena, vive em Brasília. "Ele é assentado lá no Distrito Federal", afirmou. Assentado, vale explicar, é como os militantes dos movimentos rurais chamam os companheiros que já conseguiram um pedaço de terra nos programas de reforma agrária. Talvez Gerailton não saiba, mas Francisco - que também é dirigente da Fetraf - não vive propriamente num assentamento. Ele mora numa casa, com carro na garagem, num bairro de classe média e classe média alta nos arredores de Brasília. O Estado tentou falar com Francisco, por telefone e pessoalmente, mas ele não foi localizado.

Fonte: Estadão

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