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"Pensam que a gente está no tempo de andar nu", diz cacique do Piauí

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Fotos: Renato Andrade/Cidadeverde.com

"Pensam que a gente está no tempo de andar nu". Esse é o relato do cacique Henrique Manoel do Nascimento, da comunidade indígena Nazaré, da cidade de Lagoa do São Francisco, a 193 km de Teresina.

Na semana que antecede o Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril, ele diz que a tecnologia faz parte do dia a dia dos povos originários na atualidade e comemora conquistas no Piauí que tem 12 territórios indígenas em fase de regularização. 

"Ainda pensam que a gente está no tempo de andar nu. As coisas mudaram e nós estamos acompanhando a tecnologia. Não vivemos isolados. Nós vivemos normalmente, temos telefone, carro, moto, usamos a tecnologia em casa também. No início era muito difícil, éramos até questionados por pessoas que diziam que não tinha índio no Piauí. Recentemente, o próprio Governo do Estado criou uma diretoria dos povos originários para trabalhar as políticas públicas para os indígenas. Estamos sendo mais vistos e reconhecidos", diz o cacique. 

O território indígena da comunidade Nazaré foi o terceiro a receber o documento de doação das terras e propriedade definitiva outorgado pelo Governo do Estado. O primeiro território indígena titulado no Piauí foi o da comunidade Cariri, em Queimada Nova, seguido do território do povo Tabajara de Piripiri, no município de Piripiri.

"O Governo passa o terreno para associações para o domínio das terras indígenas. Temos esses três doados pelo estado e 12 em andamento pelo Instituto de Terras do Piauí (Interpi) . A Funai está fazendo qualificação em quase todo o estado onde tem povo indígena para demarcação. São conquistas de uma luta de dez anos", disse o cacique. 

A regularização também está amparada na Lei Estadual nº 7.389, de 27 de agosto de 2020, que reconhece a existência de povos indígenas no estado do Piauí. Com a transferência de domínio das terras para seus proprietários históricos, o Interpi dá prosseguimento à contribuição do Estado para a garantia do direito à terra própria, com segurança jurídica. 

Para o cacique Henrique, o dia 19 de abril é de comemoração. "Temos além do auto conhecimento histórico, temos uma lei que o estado nos reconhece como povos indígenas. Temos três territórios e um bom passo para a educação indígena com o núcleo de educação indígena e quilombola da Seduc, temos um museu para ser inaugurado em maio. São conquistas que podemos comemorar no dia 19 de abril", cita o líder indígena. 

Nesta quarta-feira (12), a Secretaria de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos (Sasc) deu início à programação em alusão ao mês dos povos originários no Museu do Piauí, no Centro de Teresina. No evento foram discutidas questões relacionadas à identidades, territorialidade, saúde e educação, incluindo o projeto da primeira escola indígena, que deve ser inaugurada em Teresina em 2024. 


Graciane Araújo
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