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Juntar provas é o maior desafio contra assédio moral e sexual no trabalho

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Foto: Adriana Magalhães/Cidadeverde.com

As denúncias de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho tem crescido no país. E muito disso se deve ao rompimento do ciclo de silêncio dentro das organizações. Com o objetivo de levar conhecimento e apoio aos tribunais, o Conselho Nacional de Justiça fomentou os tribunais pelo país a criarem comissões internas para receber denúncias e acompanhar a apuração dos casos.

No Piauí, a comissão é presidida pela juíza Maria Luíza de Moura, Presidente da Comissão de Enfrentamento do Assédio Moral, Sexual e da Discriminação.

"Já recebemos denúncias, mas entendemos que ainda é um número pequeno frente ao casos que realmente acontecem dentro dos tribunais. E esse baixo número de denúncias pode está ligada a dificuldades que a vítima tem em reunir provas e testemunhas", explica a juíza que foi uma das palestrantes do evento "Aqui Não! O TRE-PI no Combate ao Assédio e à Discriminação", realizado nesta quarta-feira, no auditório do TRE-PI.

O evento é parte das ações promovidas pelo TRE-PI como parte de sua política interna de prevenção e enfrentamento do assédio moral, do assédio sexual e da discriminação ou desrespeito aos valores profissionais do serviço público judiciário e da magistratura.

A reunião de provas também foi comentada pela psicóloga do Tribunal Regional do Trabalho - TRT, Fabíola Veloso Falcão, que também participou do evento.

"Uma vez que nada mais efetivo seja feito para barrar o assédio é hora de começar a guardar dados. Tudo que a vítima tiver: emails, mensagens no celular, relacionar situações em que foi coagida na presença de outras pessoas", explica. A psicóloga explicou, ainda, que o assédio não precisa ser denunciado somente pela vítima. "Se você presencia, você pode fazer uma denúncia. Muitas vezes a vítima fica dentro de uma trama de onde ela não consegue sair sozinha e precisa de ajuda de quem está de fora", relatou.

Prejuízo para a Saúde física e mental do trabalhador

A psicóloga Fabíola Veloso Falcão alerta para os riscos à saúde física e mental do trabalhador que vive sob a pressão do assédio no local de trabalho e defende uma mudança de postura de vítimas e testemunhas.

"Por causas das atitudes abusivas, o trabalhador começa a se ver como alguém de menor valor. E isso não para nesta percepção negativa e desvalorizada de si mesmo. Esse trabalhador começa a apresentar dores de cabeça, picos de pressão com mais frequência - se ele for hipertenso, começa a ter ansiedade antes de se deslocar para o trabalho e, aquela famosa síndrome do domingo a noite", explica a psicóloga.

Assim como acontece em outros casos de violência, a vítima de assédio muitas vezes não percebe que está num ciclo de violência. Nesse ponto, a psicóloga explica que o fim da cultura do silêncio pode fazer cessar as agressões. "Precisamos incentivar uma cultura do não silêncio. A vítima não faz a denúncia por medo. Quando uma pessoa presencia o colega sendo assediado, e não denuncia, acaba sendo conivente. E essa prática precisa acabar", alertou a psicóloga.

Para sair desse ciclo de assédio é preciso que o trabalhador busque ajuda o mais cedo possível. "Na primeira conduta assediante o trabalhador precisa parar a pensar:  aquilo me incomodou? Aquela pessoa não se retratou? Então não espere voltar a acontecer, busque ajuda, relate a alguém de confiança na sua organização. Precisamos também desmistificar que determinadas atitudes não são 'o jeito da pessoa'. O trabalhador precisa entender que essas não são condutas aceitáveis", ensina a psicóloga.

 

Adriana Magalhães

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