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População diz que ONU levou cólera ao Haiti; 2 morrem em protesto

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Abalado por uma epidemia de cólera que já deixou mais de 900 mortos, o Haiti vive agora uma onda de protestos contra os soldados da ONU (Organização das Nações Unidas) em missão de paz no país, vistos por parte da população como os responsáveis pela entrada da doença na ilha caribenha. Ao menos dois civis já morreram.


As duas mortes ocorreram após confrontos entre os soldados da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) --que é chefiada pelo Brasil-- e manifestantes que protestavam no norte do país desde a tarde de segunda-feira (15).


A polícia local registrou a morte de um jovem de 20 anos encontrado diante de uma base da Minustah, na localidade de Quartier-Morin, uma cidade da região de Cap Haitien. A missão da ONU afirmou ter atirado "em legítima defesa" contra o manifestante.


"Era um manifestante que portava uma arma e que atirou na direção de um soldado, e o soldado respondeu em legítima defensa", afirmou o porta-voz da Minustah, Vicenzo Pugliese, acrescentando que a morte aconteceu quando "elementos armados" tentaram entrar no heliporto da base militar, que foi cenário de confrontos desde a segunda-feira.


"Em um primeiro momento, [as tropas de paz da ONU] atiraram para dispersar os manifestantes e, em um segundo momento, tenho a impressão de que atiraram na altura do homem", disse um juiz, que pediu anonimato.


O jovem recebeu um tiro nas costas, segundo a mesma fonte. Os carros da ONU foram objeto de pedradas.


A polícia haitiana informou ainda a morte de um segundo jovem na região de Cap Haitien, também em confrontos com os soldados da ONU. A informação foi divulgada pela rádio local "Kiskeya".


Os manifestantes protestam contra a missão da ONU e a gestão da crise de saúde provocada pela epidemia de cólera que já deixa mais de 900 mortos no país.


Para o porta-voz da ONU no país os protestos têm motivação política.


"O povo tem medo no Haiti e a vulnerabilidade das pessoas é explorada e manipulada por alguns partidos", disse Pugliese, sem precisar quais partidos políticos realizam estas práticas.


Em comunicado, a Minustah pediu à população "permanecer vigilante e não se deixar manipular pelos inimigos da estabilidade e da democracia no país".


O incidente aumenta a preocupação sobre a situação de segurança no país, que tem eleições presidenciais marcadas para este mês.


SOLDADOS DO NEPAL

O Exército do Nepal informou nesta terça-feira ter reforçado a proteção de seus soldados no Haiti, acusados pela população haitiana de ter propagado a epidemia de cólera no país.


Segundo o Exército nepalês, que tem 1.000 soldados na missão da ONU no Haiti, "falsos rumores" podem ter sido a causa dos ataques de segunda-feira da população contra os soldados nepaleses.


"Estamos preocupados, mas a polícia haitiana ajuda os capacetes azuis a proteger-se dos ataques", declarou Ramindra Chhettri, porta-voz do Exército nepalês.


Os soldados nepaleses foram apedrejados durante um protesto em Hinche, região central do Haiti.


Estima-se que a origem dos protestos seja um boato segundo o qual a epidemia de cólera teria sido provocada pelas fossas sépticas de um acampamento situado perto de Mirebalais, também no centro do país, onde estão baseados vários soldados nepaleses.


Os exames nos soldados nepaleses provaram que os oficiais não têm relação com a epidemia, disse Ramindra Chhettri.


EXAMES DE DNA

A Minustah nega rumores de que latrinas perto de um rio em um campo de nepaleses na ONU foram a causa da epidemia.


O Centro Americano de Prevenção e Controle de Doenças disse que exames de DNA mostram que o tipo de cólera presente no Haiti é mais semelhante a uma variação do sul da Ásia. Mas o centro não apontou a fonte, ou ligou o caso diretamente às tropas nepalesas. A ONU disse que exames dos soldados nepaleses deram negativo para a doença.


A epidemia já matou mais de 900 pessoas e deixou mais de 15 mil doentes, criando uma nova crise no país mais pobre do hemisfério Ocidental, que já sofre para se reconstruir após o terremoto que matou mais de 250 mil pessoas e deixou mais de 1,5 milhão de desabrigados.


Apesar da crise que assola o país, o governo haitiano decidiu manter a data das eleições presidenciais e legislativas, marcadas para 28 de novembro.


Fonte: Folha Online

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