Cidadeverde.com

Coluna 28/12/23 – edição extra

Crise na FMS impulsiona CPI, impeachment e intervenção estadual na Saúde de Teresina

Ninguém do mundo político dormiu cedo entre quarta e quinta-feira, 28, em Teresina. Os telefones pululavam de chamadas, intercambiando as mesmas vozes trocando informações, reclamações e tentativas de influenciar o processo após o vereador da capital, Venâncio Cardoso, postar em suas redes sociais um pedido ao presidente da Câmara, Enzo Samuel, de uma convocação extraordinária dos vereadores em meio a semana do Ano-Novo.

________________________________________________________________________

Todos pasmos 

Os poderosos estavam inquietos e atônitos, alguns voltando a Teresina de viagens ao interior, com o sinal oscilando na estrada, outros assaltando os doces na geladeira madrugada adentro para aplacar a ansiedade de não saber a resposta para a pergunta: haverá o impeachment do prefeito Dr.Pessoa? A coluna interrompe o (merecido, dizem) recesso para dizer ao leitor o pano de fundo dessa novela que tem tudo a ver com 2024.

________________________________________________________________________

Reunião de emergência: quem estava (e quem não)

Tirando a espuma, vamos começar pelos fatos, que são poucos, mas importantes. Uma reunião de emergência na noite de ontem, entre o prefeito Dr.Pessoa e nomes como o presidente da Eturb, João Duarte (a ausência sentida no encontro foi a do superintendente da Saad Sul, Jeová Alencar, importante destacar), cravou a possível saída até sexta-feira do atual presidente da FMS, Ari Ricardo. Resolverá a grave crise na saúde municipal? Não. Mas é o que tem para hoje. 

________________________________________________________________________

Sai Ari, entra...

O Palácio da Cidade pretende substituir Ari na FMS por um indicado do Conselho Federal de Medicina do Piauí. “Se for alguém do CRM com força política, perde um pouco mais a força a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)”, acredita uma fonte governista municipal. O próprio Pessoinha, filho do prefeito, foi cogitado para a função, o que ele já descartou a aliados com um não definitivo.

________________________________________________________________________

Da CPI, para o impeachment

A CPI, como o leitor sabe bem, é a porta de entrada para um pedido de impeachment e, possivelmente, de afastamento do prefeito antes mesmo de transcorrer o fim das investigações. Hipoteticamente, tudo isso aconteceria como uma batalha de guerrilha, em movimentos velozes: sessão extraordinária na terça-feira, 02/01, pós-Reveillon e pedido de afastamento do prefeito na retomada dos trabalhos legislativos, no início de fevereiro. É o que se ouviu madrugada adentro. A colunista é apenas a mensageira, tá ok?

________________________________________________________________________

O que vem depois

Se Pessoa for afastado pelos vereadores, assume automaticamente o vice, Robert Rios. O próximo na linha de sucessão, se Robert renunciar (e bote um “se” nisso) é o presidente da CMT, Enzo Samuel (PDT). O mundo político reconhece que Enzo não poderia ficar imóvel perante a pressão exercida pela população com os vereadores. A abertura da CPI é amplamente aceita, mas será o suficiente?

________________________________________________________________________

E se Enzo assumir...

A decisão rápida de mobilizar os parlamentares para reagir politicamente, fez ganhar corpo – inclusive em setores do Judiciário - o sentimento de que Enzo tem as condições para sentar na cadeira de prefeito, não disputando a reeleição como vereador. A gestão do presidente da CMT no Legislativo Municipal é vista também como uma vitrine positiva de que ele pode ser o comandante de uma transição na capital.

________________________________________________________________________

99% de chance de intervenção 

Outro fato, dessa vez considerado por fontes do Governo Estadual, é que a tendência hoje é que o Judiciário interponha uma decisão que ceda ao Estado a gerência da saúde de Teresina. “Esse problema vai cair no Governo, não tem jeito”, admitiu um secretário estadual à coluna. Acontecendo a intervenção na FMS pela via judicial, ou a abertura de uma CPI, a mais provável consequência política admitida dessa vez por apoiador do prefeito à coluna, é que Dr.Pessoa não dispute a reeleição. “Vai ser inviável”, resumiu.

________________________________________________________________________

O placar realista

Um vereador forte relatou à coluna que, de modo realista, haveria pelo menos 17 votos a favor do impeachment do prefeito. Um político do alto escalão da prefeitura, por sua vez, conta 12 votos da base de Dr.Pessoa. O impeachment só pode acontecer com 20 votos a favor (votos nominais, não secretos - outra informação importante). A coluna é fã das letras e não dos números, mas até uma criança de cinco anos sabe que essa batalha será dura e todos os lados irão à guerra pela maioria.

________________________________________________________________________

É golpe!

“Vai valer à pena? Se tiver impeachment no ano da eleição vai ser um golpe. Se fosse com dois anos (de gestão)... teve várias oportunidades e não fizeram”, retrucou à coluna um aliado de Dr.Pessoa, com cadeira na mesa de decisões. “Uma CPI são no mínimo 60 dias. Não pode pedir o afastamento sem provas, tem que dar direto ao contraditório. Mesmo que acelere os trabalhos, ao invés de 60 dias, durar 15 dias, o prefeito consegue uma liminar na Justiça e volta”, completou o experiente político, que claramente aposta na não viabilidade do impeachment.

________________________________________________________________________

Certo, já combinaram com o Robert?

Para completar, um grande ponto de interrogação chama-se Robert Rios, vice-prefeito da cidade e afastado politicamente da gestão após realizar denúncias envolvendo supostos desvios de recursos na Saúde. “A chance do Robert renunciar é zero. Não existe cheque pré-datado em política”, opinou o político ligado à PMT.

________________________________________________________________________

Ouça a voz da experiência

O vice-governador, Themístocles Sampaio, também é uma peça importante no tabuleiro, seja porque é próximo a Robert Rios (que o ouve e vice-versa), seja porque tem inegável capacidade de articulação. De que lado penderá a balança do vice?

________________________________________________________________________

A gente faz o quê?

Se ninguém dormiu cedo, presume-se que o governador Rafael Fonteles seja um desses nomes, pois recebeu chamadas de, pelo menos, dez vereadores pedindo uma luz: “Se tiver impeachment, o que o senhor recomenda fazer?”, relataram à coluna alguns parlamentares que fizeram o questionamento à Fonteles e contaram o apelo a essa simples colunista.

________________________________________________________________________

CPI, sim, impeachment, não

Resumidamente, o que emissários ouvidos pela coluna, em reserva, acreditam, é que a possibilidade de abertura de uma CPI é concreta, mas o impeachment de Pessoa carece (para dizer o mínimo) de apoio do Governo Estadual. Um político relevante e de nível estadual frisou o seguinte raciocínio: “Imagine um avião que esteja só o bagaço, sem combustível e com o piloto que não fez uma aula? Gestão não é fácil. Se tiver impeachment, vão administrar com o quê? Um processo desses demoraria uns quatro meses, seria uma baderna e ia desestabilizar Teresina”.

________________________________________________________________________

Se conselho fosse bom

Aproveitando o período natalino, a coluna lembra que até Jesus que pregava o Amor e a Paz, lidou com gente que queria matá-lo. Ou seja, não importa o que você diga ou faça: considere como certo que haverá inimigos à espreita. Se você tem algum tipo de poder ou visibilidade, pessoas irão lhe odiar. Aceite isso como o preço a ser pago pelo seu sucesso e olhe de cima para baixo para os seus odiadores: quem fica da plateia, sempre irá se incomodar com os quem ousam subir ao palco. 

________________________________________________________________________

Cifrada do Me Deixem de Mão

Tudo que vai, volta... O gestor da robusta e cobiçada pasta municipal citada na última coluna, respondeu aos detratores e gananciosos colegas que questionam o fato de que recursos prometidos via Brasília, nunca chegaram. Dessa forma, os colegas que visam ocupar a tal pasta, avaliam que não há sustentação política para a permanência do gestor. Pois bem: “Engraçado, esse povo devia trabalhar. Quem quer a secretaria, também tinha que ir pra Brasília atrás de recursos e me deixar de mão”, retrucou o político de Teresina, à colunista. Pelo apurado, e apesar da torcida contra, o homem segue firme e forte no cargo. Vão ter que engolir?

________________________________________________________________________

Foto do dia

O longínquo ano de 2026 está bem aí, praticamente. Data venia, a única certeza é que a chapa do Governo terá Rafael Fonteles (PT) encabeçando a busca pela reeleição. E o vice? E as duas vagas de senador? Calma. Se o senador Marcelo Castro (MDB) não tem muito pelo que se preocupar com sua cadeira na chapa, não se pode dizer o mesmo dos deputados federais Flávio Nogueira (PT) e Júlio César (PSD), que almejam o Salão Azul do Senado. Surge com discrição, mas com força no PT, o nome do deputado federal Dr. Francisco para o Senado. Se isso ocorrer (e bote um enorme “se” nisso), o vice deve ser de outro partido? Ou o PT sairá com uma chapa puríssima? Como contemplar Júlio e Flávio? Ah, e, claro, Themístocles Sampaio? Por hoje, só perguntas. Passe semana que vem para as respostas.

________________________________________________________________________

A frase para pensar

“Sempre presuma incompetência antes de procurar conspiração”, Nicolau Maquiavel, filósofo e historiador do Renascimento e reconhecido como fundador da ciência política moderna.

________________________________________________________________________

*Essa é uma edição extra da coluna durante o recesso. As edições normais retornam no dia 02/01, terça-feira. Paciência, leitor adicto de política. O mundo não vai acabar até lá (ou não)!

 

Colunas anteriores