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Coluna 02/01/24

Sessão Extradordinária na Câmara de Teresina: esvaziamento, contra-ataque e bastidores da disputa pelo poder 

Manhã do dia 01 de janeiro de 2024. O celular toca. Você é um vereador de Teresina que havia caído no sono há poucas horas. O efeito do vinho tinto de ontem ainda estava no seu sangue quando você olhou a tela piscar: três chamadas perdidas. Você retorna a ligação. Ouve o pedido. A cabeça dói. Dói muito. Você é uma peça a mais no jogo que consiste na tentativa de um lado de esvaziar a sessão extraordinária convocada para terça-feira, 02, às 16h, na Câmara de Teresina. O elemento surpresa – essencial a qualquer estratégia - se esvai: portais de notícia e perfis de humor e fofoca nas redes sociais falam do ato, ameaçam listar e expor os faltosos. Se ficar o bicho pega, se faltar o bicho...

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Não vai votar nada porque não vai ter ninguém?

Com uma base oscilante em 12 vereadores (depende do dia e do que está em jogo), esvaziamentos de sessões são comuns, seja na CMT, em Assembleias ou no Congresso Nacional. Quando algo a ser pautado não é do interesse do Executivo, mobilizam-se as forças, seja pela maioria, seja pela ausência. É um instrumento legítimo. A questão é que, como em qualquer jogo de xadrez, você precisa considerar que seus movimentos farão seus adversários reagirem. Você leva o cavalo para a casa E7 e seu concorrente vai analisar se sua casa está protegida ou não. Xeque-mate?

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Diga ao povo que eu sou contra

Há pelo menos três vereadores que são da base do prefeito Dr.Pessoa, mas expuseram serem contra a estratégia de esvaziamento da sessão extraordinária. A coluna ouviu alguns dos personagens, que confirmaram a história, em reserva. São votos vencidos: “É expor a base e tentar desmoralizar o presidente (Enzo Samuel). Outra coisa, a PMT não vai ter mais nenhuma pauta esse ano, não?”, questionou um (a) parlamentar. Em vão.

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Sem tempo para CPI, irmão

A possibilidade de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) era quente nos últimos dias de 2023, mas esfriou nos primeiros de 2024. Há a percepção de que a última CPI, do transporte público, apresentou questionamentos e propostas que não foram implementadas. Mais desgaste para a Câmara, no final. No caso da crise da saúde pública, a paciência da população tem sido oposta ao tempo que uma CPI com rito normal tem para transcorrer: pelo menos 90 dias. 

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Torta na cara

Vereadores reclamam que estão sendo pressionados como nunca antes na história desse país: as próprias lideranças reclamam com eles, a população grita no meio da rua caso os parlamentares estejam passando ou parados dando uma entrevista à TV. A pressão é enorme e mesmo com o recesso na Câmara – algo que teoricamente acalma os ânimos - todos estão preocupados com suas próprias condições de reeleição.

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Vem aí uma coisa bem forte

Se não terá CPI, e ninguém sabe se (ou quando) será protocolado um pedido de impeachment, o que terá então na tal sessão extraordinária? Caso a sessão seja esvaziada efetivamente, há uma série de instrumentos que os vereadores presentes podem acionar como, por exemplo, uma sessão aberta da Comissão de Legislação e Justiça para votar pedidos de intervenção do Governo do Estado ou de auditoria financeira na FMS. Com a bola, o presidente da comissão, o vereador Venâncio Cardoso, aliás, que foi o autor do pedido de sessão extraordinária. 

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Era uma vez

Era uma vez, numa terra distante, onde sombras dançavam nos corredores do poder, quatro grupos políticos almejavam a joia cintilante que era o domínio sobre a vastidão do reino. O primeiro grupo, Os Luminosos, prometia um amanhã resplandecente, guiado pela luz da justiça e igualdade. No entanto, seus discursos ofuscavam a sombra de promessas quebradas.

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Os Luminosos e os Sábios 

Do outro lado, Os Sábios, eram mestres da eloquência e da estratégia, buscando persuadir a população com palavras sábias e promessas calculadas, tentavam não deixar digitais de sua atuação na querela (mas deixavam!). Enquanto isso, Os Rebeldes, insatisfeitos com a ordem estabelecida, erguiam suas bandeiras de revolta, clamando por uma mudança radical. Seus métodos eram tumultuosos, mas suas intenções eram genuínas.

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Os Tradicionalistas e os Rebeldes

Por fim, Os Tradicionalistas, guardiões das tradições ancestrais, resistiam à onda de transformações, defendendo a estabilidade do reino, mas assistindo tudo de camarote, pois o caos lhes beneficia. Cada grupo conspirava nos bastidores, forjando alianças e tramando estratagemas para prevalecer sobre os outros. No crepúsculo das eleições, o destino do reino pendia como uma pena ao vento, esperando ser decidido pelo veredicto do povo.

*Para entender os termos procure o glossário no final da coluna.

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Roma é a meta

Ao aconselhar o irmão, Marcus Cicero, na disputa pelo consulado de Roma, Quintus Tullius Cicero, general e político romano, disse que era preciso sair de casa a caminho do Fórum, com a seguinte meditação: “Sou um homem novo. Quero o consulado. Roma é a meta”. Ele alertava o irmão que Roma era uma cidade onde há muitas “ciladas, conspirações, vícios de todos os tipos. Para qualquer lugar que você se volte, verá arrogância, teimosia, malevolência, orgulho e ódio”. Claro, estamos falando de Roma e qualquer semelhança com uma capital sem praia no Nordeste brasileiro é mera coincidência...

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Esqueça o passado

Sobre as reclamações (alguns chamam de "mi mi mi", alcunha repudiada pela coluna) cada vez mais audíveis de vereadores e suplentes sobre a o método de formação de chapa do grupo de Fábio Novo, uma fonte do lado de lá disse à coluna que é preciso ter muita calma nessa hora e muita hora nessa calma: “O Firmino (Filho) no poder montava chapa do jeito que queria e o pessoal quer que a monte igual. A gente sabe que eles (pré-candidatos) querem uma segurança, mas não vai ser assim. Tem que confiar”. Então tá bom...

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Escolha o que você quiser 

Depois de muitas alfinetadas de petistas explicando por A+B por que não aceitariam de jeito nenhum o médico Paulo Márcio na chapa de Fábio Novo (motivo: ter votado em Jair Bolsoaro e Sílvio Mendes), 2024 traz consigo novas posturas. “Acredito que não veremos mais nenhuma opinião quanto a nome. Será escolhido o que o MDB municipal escolher”, chutou à coluna um petista das altas esferas. E agora, MDB?

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Notícias do Planalto

A respeito da informação divulgada na última coluna, de que o PT cogita lançar o deputado federal Dr. Francisco para o Senado em 2026, fonte bem informada faz um acréscimo: tudo passa por Brasília, já que há interesse mais do que lógico do PT nacional em eleger o maior número de senadores no próximo pleito. A meta é ficar o menos refém possível do centrão. Governabilidade é o nome do jogo.

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Se conselho fosse bom

Você só poderá construir uma marca pessoal forte se for digno de notícia. Para isso, precisa saber dosar uma certa porcentagem de controvérsias, ser conhecido como alguém que fala a verdade, doa a quem doer, e não se preocupa com ninharias. Não basta trabalhar, você tem que levar o crédito pelo que faz, contar sua história e esquecer a crença de que seu trabalho fala por si. Isso não vai acontecer. Como fazer autopromoção é algo extremamente desagradável e soa patético, faça com que terceiros que transmitam confiança e prestígio, relatem positivamente sobre você e seus feitos.

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Cifrada da Torta de Climão

Uma forte reputação quase sempre protege aquele que a detém. Os amigos e adversários pensam duas vezes antes de um ataque ou inconveniência, pois sabem os custos. Mesmo assim, um político importante com fama de sincerão, deixou alguns colegas atônitos em uma concorrida mesa quando iria mostrar o celular para uma outra figura ver relevantes dados. Ele foi interrompido por um terceiro, que passou a mão no celular bem no meio da conversa: “Opa, eu quero ver também!”. Pra quê, né? “Você não tem educação não? Primeiro ele vê, depois você”, trucidou o forte político ao atrapalhado subalterno. Torta de climão.

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Foto do dia

Em registro de breve recesso no litoral piauiense, o governador Rafael Fonteles e o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, têm motivos para comemorar. Rafael fez um primeiro ano de gestão bem avaliado pela população – é o que apontam as pesquisas. Wellington, sobreviveu ao fogo cerrado do Centrão e permaneceu à frente de um dos principais ministérios da Esplanada. Ambos com personalidades distintas, modos de fazer política diametralmente diferentes, mas em comum, na ponta: os resultados a seu favor. Desafios não faltarão. A Wellington, vencer o fogo amigo do PT nacional, que mira a troca no MDS. A Rafael, colocar sua própria estratégia eleitoral em teste, numa eleição municipal que decidirá que atores terão relevância em 2026. Que comecem os jogos!

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A frase para pensar

“Se você precisa jogar, decida três coisas no início: as regras do jogo, as apostas e a hora de encerrar”, provérbio chinês.

 

*GLOSSÁRIO: Passe amanhã.

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