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Coluna 01/11/23

O que esta por trás do choque entre vereadores e Palácio da Cidade

Só duas forças movem o homem, como já disse Napoleão: o medo e o interesse próprio. Na véspera da votação em que foi derrotado na Câmara de Teresina, o Palácio da Cidade contava que já tinha os 15 votos suficientes para vencer. Todo mundo sabia que a PMT iria vencer no projeto de retorno dos ambulantes às ruas da capital, até essa colunista. Falhamos miseravelmente em prever o que aconteceria. O que não se contava é que os vereadores da linha de frente de resistência tinham um plano A, um plano B e até um plano C para não deixar nada passar pelo plenário: “Não foi preciso os outros planos, o A funcionou”, admitiu um parlamentar, em reserva, à coluna.

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Dá para tirar alguma lição disso?

O que as derrotas enfrentadas pelo Palácio da Cidade nas últimas semanas nos ensinam sobre política? Lição número 1: uma base precisa ser construída com folga, sob pena de se ficar à mercê de viagens ou ausências corriqueiras (planejadas ou não) de parlamentares. “Base de 14 nomes está no limite, teria que ter aí ao menos 18 para se chamar de base”. Lição número 2: não existe coincidência. Tudo passa (ou é barrado, melhor dizendo), pelo presidente da Câmara, Enzo Samuel, com o apoio do presidente da Comissão de Legislação, Venâncio Cardoso. 

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O estilo Enzo, em um parágrafo

Estamos falando de figuras-chave para entender a saída para a questão. Se é Venâncio quem vai para a trincheira falar de maneira mais dura em resposta a Antônio José Lira, vemos a dupla "bad cop, good cop" (policial bom, policial mal) com Enzo Samuel no outro lado. Ao contrário de Jeová Alencar, Enzo tem um outro perfil de liderança na Câmara. Faz costuras duras, choques de posição, sem deixar, contudo, sua digital explícita. Os entendedores de política, porém, enxergam cada passo dado pelo vereador nos bastidores. E são muitos. 

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Surpresa e exposição

“Trabalhamos com o elemento surpresa, eles não iam ganhar de qualquer forma”, destacou um outro vereador, que integra uma comissão crucial, lembrando ainda que na próxima semana, mais um vereador irá viajar, Inácio Carvalho. O leque de manobras parlamentares é infinito, incluindo pedidos de vistas. “Não temos como competir com a PMT”, admitiu um político. Mas completou: “Só podemos articular”. A lista de queixas, também é infinita. Uma das principais é que os vereadores se consideram “expostos” em seus acordos com a PMT.  “Até os vereadores da base ficam com medo de serem expostos, fragiliza. É preciso saber como mostrar força”.

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Vai piorar antes de melhorar

Por fim, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias é ninguém menos que o vereador Gustavo de Carvalho, que teve um entrevero público há poucos dias com o líder Antônio José Lira. No ano passado, os vereadores diminuíram a porcentagem que a PMT tem direito de remanejar no Orçamento, de 30% para 20%. Esse ano, a coluna apurou que podem diminuir ainda mais: 10% apenas, é uma possibilidade discutida a portas fechadas pelos vereadores. A solução? Mudar a estratégia para atacar a raiz do problema. É só uma ideia, aliás.

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No meio do caminho, tinha um bueiro

Se há algo que é certeza na política piauiense, é a intriga. Tudo bem que o Instagram não está entregando nada de conteúdo e o algoritmo é uma bagunça, mas mesmo assim bombou o vídeo do vereador Markim Costa visitando um bueiro ecológico no Rio de Janeiro. O projeto é realmente interessante, diga-se de passagem, e pode contribuir para evitar inundações em período de enchente em Teresina. As visualizações, no entanto, tinham outro motivo: a polêmica ausência do vereador na votação da última terça-feira na Câmara de Teresina, contribuindo para a derrota do projeto de interesse da Prefeitura de Teresina.

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Muy amigo esse

Um político que não se pode propriamente chamar de “colega” de Markim Costa, enviou à coluna a suspeita de que o vereador tenha viajado para ver o jogo Botafogo x Palmeiras, que vem a ser uma partida decisiva do Brasileirão (a coluna não entende nada de futebol, o leitor releve qualquer coisa). Markim Costa não deu bola para a intriga e retrucou, mantendo não só a agenda carioca, como também se defendendo.

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Eu avisei antes

 “Respeito muito nosso líder Antônio José Lira e sei das dificuldades em torno de ser líder e suas funções. Requeri a viagem no dia 06/10, e vim ao Rio de Janeiro, onde parlamentares da capital carioca, me aguardavam. Isso é uma prática comum entre os vereadores e coincidiu com a votação importante. Estou comprometido com a Prefeitura de Teresina e seus cidadãos”, disse Markim Costa à coluna.  

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Cardápio

Os vereadores que chegam para conversar com os articuladores políticos de Fábio Novo em Teresina recebem o seguinte cardápio de partidos aos quais podem se filiar: MDB, PDT, PSD e Solidariedade são os citados. Partidos menores, como PMB, Agir e Rede, por exemplo, têm restrições à entrada de nomes com mandato. Ah, não contam com formação de chapa pelo PSB, pelo menos por enquanto. É o que tem pra hoje.

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Telefone 

Uma fonte no entorno do ex-prefeito Sílvio Mendes (União Brasil), deixou claro à coluna que há sim esforço de Sílvio em colar os pedaços do vaso quebrado na relação com o ex-deputado Luciano Nunes (PSDB), tanto é que Sílvio teria falado com Luciano por telefone para agendar um encontro presencial nos próximos dias. A coluna aguarda para enviar uma abelhinha que consiga bisbilhotar o teor dessa aguardada conversa.

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O lema da coluna

O lema de uma das mais importantes instituições de produção de conhecimento científico do mundo, a Royal Society de Londres, é “Nullius in Verba”, o que significa “Nas palavras de ninguém”. Nomes como Henry Ford, Isaac Newton, Charles Darwin e Albert Einstein integraram a Royal Society. O lema traduz um desafio à autoridade, a busca pelo caminho da verdade, com ceticismo, sem afirmar algo apenas porque é dito por alguém com autoridade ou respeito. É sobre sempre duvidar até que se prove a sua veracidade. É também, o lema desta coluna: “Nullius in Verba”, não esqueça, leitor! 

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Se conselho fosse bom

Há duas formas de se comunicar: falar e dar explicações (boa sorte com isso) ou agir. As pessoas com quem somos obrigados a lidar estão sempre na defensiva e querem ser deixadas em paz com suas ideias e preconceitos. Para o seu próprio bem, na arte de influenciar, não seja um pássaro que anda sempre em linha reta. Esse é o primeiro a ser abatido. O melhor jogador é o que move a peça que menos se espera.

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Ilustre leitor

Não adianta, as ilustres leitoras são as mais atentas observadoras da política piauiense e quem discorda está errado. Uma delas é a ex-presidente da Fundação Wall Ferraz, Samara Pereira, que foi flagrada lendo essa humilde cronista da vida política. Samara é assistente social e suplente de vereadora, tendo sido nome importante da gestão Firmino Filho. Ela deve disputar a eleição de 2024 na capital pela Rede Sustentabilidade, mas as portas para outros partidos estão abertas ao diálogo – por que não? Essa semana, Samara anunciou apoio ao pré-candidato do PT, Fábio Novo, reforçando o expressivo time do petista com mais um nome com DNA firminista. 

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Cifrada das Altas Frituras

Favoritismo é sempre um risco em política. Dito isso, um secretário experiente e com um visual único, está em vias de trocar de lugar com um outro secretário municipal tido como gente boa, porém sem as condições de sustentação política para permanecer na delicada posição em que está. Já a fritura de um terceiro secretário considerado realmente muito forte, vem de todos os lados (de cima a baixo) e segue a todo vapor. F5 no Diário Oficial.

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Foto do dia

A Executiva estadual do PT deliberou ontem que o vereador Uverlanio Filho, presidente da Câmara Municipal de Altos, será o pré-candidato do PT a prefeito em São Gonçalo do Piauí. Como se sabe, são duas cidades diferentes, e para conseguir disputar em São Gonçalo, o vereador terá que renunciar ao mandato em Altos em janeiro e pedir a transferência do domicílio eleitoral. Para tanto, conta com o apoio do deputado federal Merlong Solano, no registro com o irmão, Maurício Solano. Uverlanio será candidato com o apoio do atual prefeito, Luís de Sousa Ribeiro Júnior. O PT se movimenta como nunca para 2024, que nada mais é do que uma prévia de 2026.

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A frase para pensar

“A coisa mais difícil de aprender na vida é qual ponte cruzar e qual queimar”, Bertrand Russell, um dos mais influentes matemáticos, filósofos e ensaístas que viveram no século XX.

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*A coluna não circula no feriado de Finados, 02/11, mas volta a circular normalmente na sexta-feira, 03/11. Ao leitor viciado em política, paciência!

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