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Coluna 08/04/24

Choro, grito e pressão baixa: emoções e bastidores no fim da janela partidária em Teresina

Era a reta final da formação de chapas em Teresina. Vamos imaginar que o leitor tinha um drone invisível, disfarçado de abelhinha e monitorado à distância pela colunista. O pequeno aparelho voava, imperceptível, numa sala, onde encontrou um pré-candidato a prefeito pedindo uma água urgente. Não era para ele, e sim para um pré-candidato a vereador que chorava copiosamente por ser indicado, com delicadeza (“ou vai ou vai”) para um partido sem chance nenhuma de ganhar uma cadeira de parlamentar na capital. Foi para o sacrifício. E nem choro nem reza deram jeito.

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São tantas emoções

Com chapas desmoronando como flocos de neve caindo no Alasca, a coluna obteve relatos de mais de um pré-candidato chorando na sala gelada. No cardápio, teve ainda grito, queda de pressão, tapete puxado e dedo na cara nos cinco dias em que a colunista tirou breves férias e que coincidiram de ser os últimos dias antes do fechamento da janela partidária. Que coisa! 

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Só ajudo se ele sair daqui

Na outra sala, do mesmo quartel-general, um político entrou às 9h e saiu meia-noite. Passou tanto tempo lá, que a pressão baixou. Esqueceu de almoçar. Chama o iFood! Não estava fazendo outra coisa se não desidratar chapas adversárias para formar a do seu time. As ofertas, eram as mais criativas possíveis. Chamado de última hora, ele só deu uma condição para ajudar: “O Fulano de tal (um especialista) tem que sair”. O Fulano de tal, que tinha soltado umas piadas com o político momentos antes, teve que sair. Bom, política sempre foi um negócio para profissionais... “Até meia noite eu tava atrás de gente. Foi novela! Uma semana de 20 dias. Estou exausto”, resumiu o político.

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Grito por cima de grito

Em outra região da cidade, um líder político e três pré-candidatos que a turma diz ter potencial para muitos votos, gritavam uns com os outros, com o dedo na cara e tudo. Motivo: não aceitavam um terceiro convidado – apoiado com a estrutura esbanjada pelo chefão do partido. Resultado: a persona non grata teve mesmo que sair e foi acomodada, depois de muitas ligações com a galera do andar de cima, em um partido grande, a título de favor. 

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Xeque-mate da Teresa

No final das contas, a ex-deputada Teresa Britto (PV), mostrou que tal qual numa boa partida de xadrez, você não deve dar suas peças de graça. Teresa filiou o suplente de vereador Caio Bucar e o vereador Neto do Angelim no PV. Os dois são sempre muito bem votados e entram na chapa da federação com o PT. Ou seja, estragando o plano de muita gente. Uma parte do PT estava decidida a comprar briga e bater chapa com Teresa na convenção. No final, os bombeiros atuaram e apaziguaram. Nos próximos dias, mais novidades!

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Destruir as chapinhas foi uma boa ideia?

Conforme antecipado pela coluna, as chapinhas (Rede, Agir e o PMB) foram pulverizadas. Nem todos concordaram. Um pré-candidato a vereador com larga experiência na vida pública, acredita ser um erro “usar a lógica da eleição dos deputados (na eleição de vereador). É uma eleição diferente”.

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No tempo do Firmino não era assim

“Ficou uma briga ferrenha nunca vista antes. Você ia nos partidos e os candidatos eram os mesmos, vetos e assédios sem muita lógica”, argumentou o político, em reserva. Segundo ele, acabar com as chapinhas reduz o número de candidatos, diminuindo a campanha na ponta. “Quem leva o majoritário pra ruas, pra periferia, é o candidato a vereador. Quanto mais, melhor. Firmino (Filho, ex-prefeito) montava um exército”, comparou. 

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Quarteto Themístocles, Enzo, Marcelo e Tiago

As fontes ouvidas pela coluna, apontam que se sobressaíram quatro grandes articuladores no grupo de Fábio Novo em Teresina: o vice-governador Themístocles Sampaio (MDB), o secretário estadual de Governo, Marcelo Nolleto (já que o secretário de Segurança, Chico Lucas, atua mais nos bastidores da política do interior), o presidente da Câmara, Enzo Samuel (PDT) e o suplente de deputado Tiago Vasconcelos, coordenador da Coordenadoria de Enfrentamento às Drogas e Fomento ao Lazer, Cendfol. 

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Enzo quase “RafaBoy”?

“O Enzo está quase um Rafaboy, a única diferença que ele é da Água Mineral (bairro de Teresina)”, brincou um político sobre a desenvoltura de Enzo Samuel no trabalho de formação não só da chapa proporcional do PDT, mas também do PSB e do PSD. “Depois do PT e da federação, o PDT veio muito forte, além do MDB. Mesmo ele (Enzo) querendo os candidatos de mil votos, indicou várias pessoas pros outros partidos, cortou na própria carne”, relatou um observador das movimentações que esquentaram os corredores e salas da Câmara de Teresina. 

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Uma águia

E o vice-governador? “O Themístocles é um articulador nato e não perdeu a habilidade. Chapa do MDB é competitiva e pode chegar a quatro. Foi muito o Themístocles (para fechar) com os nomes maiores e alguns nomes foram indicados para resolver a bronca de outros partidos e fechar a chapa”, apontou um político que entende bem de MDB.

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Chama o Tiago aí urgente

Já Tiago Vasconcelos, por um lado, teve que desfazer a chapa do Partido da Mulher Brasileira, absorvida pelo PDT. Por outro, subiu mais um degrau na escala de confiança do entorno do novo PT. Conhecido de outras eleições por ser um bom formador de chapas (tendo feito esse papel anteriormente no PSD) Tiago contribuiu para fechar acordos que apenas políticos podem fechar com políticos. Como o núcleo duro de Fábio Novo ainda é o mesmo do governador Rafael Fonteles – que tinha a atenção dividida pelos 224 municípios do interior – Vasconcelos entrou para arrematar várias rodas de conversa.

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Como Fábio agiu

Um adendo sobre o papel do pré-candidato do PT, Fábio Novo, que até a semana passada era visto como tendo uma atuação discreta nas chapas proporcionais. Presidentes de partido e filiados de siglas distintas, asseguram que o petista agiu contribuindo para apagar alguns incêndios. Sempre com muita cautela, para não se indispor com as chapas. “O Fábio foi preponderante na estruturação da chapa do PSB. Dois pré-candidatos, ligados ao Gustavo Neiva e ao Aldo Gil, iam pro União Brasil e ele conseguiu contornar na última hora. Nas conversas, entrava mais pra fazer o arremate”, revelou um emissário.

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O poder 

O argumento de um político escaldado, para convencer os pré-candidatos a embarcarem na dele: “Melhor perder num lugar que faça uma quantidade maior de vereadores (para ser suplente) do que numa chapinha”. Em reserva, ele admitiu a um interlocutor: “Era empurrando o povo pro abismo e o povo concordando”.  Por fim, o sociólogo alemão Max Weber estava certo: “Poder é a possibilidade de alguém impor sua vontade sobre o comportamento de outras pessoas”.  Então...

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Aguarde as próximas edições

Por limitações de tempo e espaço (afinal, é uma coluna e não um livro), a coluna deixará para as edições seguintes as análises sobre chapas no grupo do Palácio da Cidade e da oposição, ao lado de Sílvio Mendes. O interior também não será esquecido. Ao leitor, pede-se paciência com o andor, que o santo é de barro.

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Se conselho fosse bom

Sun Tzu dizia que a arte do autocontrole é permanecer disciplinado e calmo enquanto espera surgir a desordem no inimigo. O que são as emoções? Resposta sucinta: vários produtos químicos que dançam em seu cérebro. Agir segundo elas, portanto, é altamente não recomendado. Quando você demonstra medo, todas as suas ações estão contaminadas. Mas, ao agir como se não tivesse nada a perder, você consegue abarcar os riscos necessários para vencer. Ou você acha que existe algum sucesso na estabilidade? Oculte seus pensamentos e injete dubiedade em suas falas. Deixe os outros confusos sobre você. Enquanto isso, absorva tudo intuitivamente, lendo seu lado e o do inimigo com clareza profunda, sem se envolver emocionalmente.

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Cifrada do Deixa Ruir

Um partido - de tamanho médio a grande - quase perde a chance de eleger vereadores em uma importante cidade. Isso porque seu jovem líder é visto como uma “ameaça” futura. Afinal, em dois municípios-chave cruciais, lançou por sua conta e risco, candidatos a prefeito contra a diretriz dos “cabeças” do grupo. Ele faz a estratégia dele. “Deixaram ruir de propósito, pra dar o recado. Só ajudaram (a formar chapa) na reta final, porque ele e os pré-candidatos pediram penico”, contou um participante do lado de dentro das conversas da sala gelada. Lição: quando for medir força, se atente para ver antes se você está mesmo do lado que tem força, é ou não é?

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Foto do dia

O registro abaixo era bastante aguardado e, portanto, não poderia estar fora da coluna: o presidente da OAB-PI Celso Neto e o tesoureiro Marcus Nogueira, com todos os pré-candidatos à sucessão da Ordem (que será disputada contra o advogado Raimundo Júnior, nome posto na oposição): Aurélio Lobão, Einsten Sepúlveda, Raylena Alencar (secretária geral), Carlos Henrique (presidente da Atepi), Daniela Freitas (vice-presidente), Alessandro Lopes, Olivia Brandão, Tiago Carcará (diretor da ESA), Talmy Tercio (presidente da Caapi) e Carlos Júnior (conselheiro federal). Conclusões do encontro do final de semana, segundo fonte presente: Celso Neto não tentará um terceiro mandato e o sucessor (ou sucessora, pois uma chapa inédita encabeçada por uma mulher é seriamente cogitada) será mesmo escolhido via pesquisa. O critério é: o mais forte, leva. 

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A frase para pensar

“Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito”, Shunryu Suzuki (1904-1971), descendente espiritual do grande mestre Zen do século XIII, Dogen.

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Música da semana

“Olhos nos olhos”, na voz de Maria Bethânia (a letra é de Chico Buarque), é uma delícia de ouvir. A música versa sobre dar a volta por cima quando as coisas terminaram mal para um dos lados. Como essa coluna é de política, a interpretação serve sim para muitos políticos que se viram em não tão bons lençóis no final da janela partidária. Para dar o troco, há de se ter paciência!

Quando você me quiser rever

Já vai me encontrar refeita, pode crer

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz

Ao sentir que sem você eu passo bem demais

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