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Coluna 22/03/24

O que está realmente em jogo na eleição de 24 no Piauí? Uma breve análise

Quem vive de política, direta ou indiretamente, não quer outra coisa a não ser previsões sobre o futuro para ajudar a guiar suas ações. Como num jogo de pôquer, você pode ter cartas boas e mesmo assim jogar mal. Quem está com as cartas mais altas e quantas cartas esse jogador tem? Um resumo da ópera das eleições municipais no Piauí em 2024, e do que ela projeta para 2026:

  1. Essa é a primeira eleição com a batuta do governador Rafael Fonteles (PT) no Piauí. Os estilos de Rafael e do senador e ex-governador Wellington Dias não poderiam ser mais diferentes. É o grande teste de Rafael como estrategista e todos estão atentos. Vencendo, terá as cartas mais altas para montar, do seu modo, a chapa da reeleição de 2026. O mundo político sabe disso.
  2. Uma vitória de Sílvio Mendes (UB) em Teresina é o tudo ou nada para o futuro da oposição no Piauí. Com o senador Ciro Nogueira (PP) voltado para a política nacional, uma derrota no maior colegiado do estado deixaria um inevitável vácuo de poder do outro lado da gangorra. Quem representará a oposição no after day? Uma defecção poderá vir da própria base, nesse caso? O futuro adversário de amanhã é o amigo de hoje?
  3. É verdade que “ninguém quer dar o poder para um grupo só”. Assim como poder é sobre “ter acesso aos recursos”. E quanto mais difícil esse acesso, menos poder. Logo, não se disputa apenas Teresina, Parnaíba, Picos, Floriano e outras cidades simbólicas em peso e eleitorado... A disputa é pela consolidação de um grupo novo (mesclado de figuras antigas, pois essa é a fase de transição) ou pelo fôlego de um grupo tradicional. 
  4. Três perguntas da eleição de Teresina cujas respostas podem parecer pequenas, mas escondem variáveis definitivas: Dr.Pessoa manterá a pré-candidatura? Jeová terá mesmo a legenda pelo Republicanos? Qual grupo levará o PSDB no final?
  5. Por fim, no que tange à capital, Jeová Alencar emprestará, de fato, volume de campanha à Sílvio? Fábio Novo conseguirá capitalizar a gestão positivamente avaliada de Rafael Fonteles à sua campanha além do que já fez? Cada lado fez suas apostas. Nós acompanharemos a partida.

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Sem bola de cristal

A política é uma cadeia complexa de reações. Você nunca pode dizer que o passo A resultará no B, que levará ao C. Não é assim que funciona. A fricção, como concebida por Carl von Clausewitz – grande teórico da guerra – é exatamente a diferença entre o que planejamos e o que acontece. Ao analista, cabe o olhar frio, “a descrição coerente de uma situação futura pelos encaminhamentos que permitem passar de uma situação de origem a uma situação futura”, como já disse Michel Godet.

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Quando boi voa

Quando se trata de ordenamentos de percepção e representação da realidade futura, há sempre três cenários num contexto político: os possíveis (todos que podem acontecer), os realizáveis (todos os que são efetivamente possíveis de ocorrer) e os desejáveis (os possíveis e realizáveis). Saber o que é um e o que é outro é uma arte. Mais ainda, difícil não é só definir um futuro desejável, mas saber os meios para alcançá-lo. 

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Quem tem poder e quem não tem

A melhor definição de poder – compartilhada pela colunista – é a do cientista político de Yale, Robert Dahl, formulada na década de 50: poder é a capacidade de conseguir que os outros ajam de maneiras contrárias às suas preferências e estratégias iniciais. Ambos os lados percebem esse poder. A coluna, obviamente, não está falando de coerção, quando alguém aponta uma arma e lhe diz: “A bolsa ou a vida”. Nesse caso, se você não for adepto do martírio, entregará a bolsa. 

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Hoje sim, amanhã, talvez

O ponto é sobre o comentário de um vereador, que hoje apoia Fábio Novo, já esteve com Dr.Pessoa e foi convidado para ficar com o grupo de Sílvio Mendes, onde teria mais condições de ser eleito. Não foi por que mesmo? “Ninguém tem coragem de trair o Rafael (Fonteles). Outra, se eu fosse pro Sílvio e ele perdesse, eu só ia ter o meu mandato e nada mais”, resumiu o político. “Bons ou não, eles podem ficar por mais de 20 anos e temos que ficar do lado deles... Agora, se o Sílvio (Mendes) ganhar, aí é uma oposição futura e tem jogo”. Mais sincero, impossível.

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Tenho uma sugestão, amigos

Agora, fato é que os vereadores que forem eleitos na coligação de Fábio Novo, esperam que o petista faça da mesma forma que o ex-prefeito Firmino Filho sobre divisão de espaços: “Uns 18 (vereadores) devem ser eleitos do lado do Fábio e se ele ganhar, cada um quer ter uma secretaria. No tempo do Firmino tinha mais de 29. Tem que ser o mesmo modelo do Rafael, que dá o espaço para cada estadual”, projeta um vereador, em sigilo absoluto. Ele, claro, espera ter o seu espaço garantido.

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Aguardando os 10k de votos

Segundo fonte do núcleo político governista, aguarda-se no MDB e outras duas siglas aliadas, a chegada via andar de cima, de 10 mil votos ou 10 candidatos de mil votos na chapa de vereadores da capital. Ótimo, e qual é o problema? “Já não se tem mais candidato nessa altura do campeonato. O que eles podem fazer é aumentar a ajuda para quem tem 3 mil votos, por exemplo, chegar a 4 mil. Mas aí é mais fácil ter perdas”, lamenta o político, preocupado, pois conta com os votos para atingir o quociente eleitoral. Não importa o meio que vai chegar e sim que cheguem os votos, não é mesmo?

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Nunca duvide de um sonho

E a ideia de quebrar as chapas pequenas, não resolve não? Bom, mais fácil destruir uma pedra de grafeno (um dos metais mais resistentes do mundo) do que uma chapinha de vereador em Teresina. “Sempre disse que não quebrava os pequenos (partidos). O cara tem o sonho. Ninguém vai convencer os 10 caras do Nilson (Cavalcante), que une os 10 e faz um deles, a ir para um partido grande, fazer três e nenhum é deles. O cara pensa: ‘Aqui tenho 10% de chance, vou fazer o que lá?’. Esse negócio de partido pequeno é um problema insolúvel”, analisou um político que já integrou chapas pequenas e entende do riscado. 

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PSDB, a chama

A marca de “ex-secretário do ex-prefeito Firmino Filho” vale muito. Se Firmino não está entre nós, deixou um legado indiscutível na vida política. Os chamados “firministas” estão divididos e boa parte ficou com o petista Fábio Novo em Teresina. Mas, sim, outra parte permaneceu com Sílvio. Um tucano fez questão de ressaltar à coluna que o ex-prefeito Chico Gerardo esteve no evento de lançamento nesta semana de Sílvio Mendes. Como Chico Gerardo aparece apenas raramente, sua presença foi bastante celebrada no entorno silvista.

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Para ler, ver e ouvir

Séries antológicas são aquelas em que cada temporada desenvolve uma história própria, com início, meio e fim, sem ligação direta com as anteriores. Por isso, o leitor que nunca viu “True Detective”, pode sim começar pela quarta temporada, chamada “True Detective: Terra Noturna”, na HBO. Duas detetives, interpretadas por Jodie Foster e pela atriz e boxeadora Kali Reis, investigam um crime chocante em uma cidadezinha no Alaska justo quando a cidade passa por um período no inverno com vários dias sem luz solar. Tensa, gelada, inteligente, paranoica e com uma energia reflexiva, a série flerta com a fantasia e vai entreter quem gosta de suspense com qualidade. 

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Se conselho fosse bom

Quando estiver convivendo com outras pessoas, tente ser agradável. Finja que considera relevante o que elas falam e pensam, mesmo que você avalie tudo como apenas mais um drama mesquinho. Como cada um só está interessado em si próprio, o processo de obtenção de poder depende de você conseguir sair um pouco de si para ler os outros. O que eles querem – mas não falam? Quais lacunas você pode preencher? Observe tudo isso de modo frio e desapegado pois quanto mais você se expõe, mais suas próprias fraquezas ficam perceptíveis aos outros. 

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Cifrada da Enrolação

Dia desses, um político desabafou à colunista sobre um colega de quem foi (foi!) amigo: “A situação dele está difícil”. Por que? “Não tem mais quem enganar!”. Como assim? “É um cara que vai pulando de zona em zona e chega uma hora que não tem mais quem enganar. Diz pra pessoa: ‘Vem amanhã que te dou um emprego’, ‘Vem amanhã que dou uma cirurgia’ e não atende mais. Eu mesmo fui enganado e me queimei com minhas lideranças por causa dele”. Todo dia um malandro e um otário saem de casa e o resto da anedota, o leitor já sabe...

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Foto do dia

Mais uma pesquisa divulgada essa semana (agora, Datafolha), comprova a manutenção da taxa de aprovação do Governo Lula e o leve aumento da reprovação. Traduzindo: mesmo consolidando sua base de apoiadores – especialmente mulheres, moradores do Nordeste e jovens – o presidente Lula não tem conseguido avançar na aprovação da gestão. Enquanto isso, enxerga-se nos opositores a capacidade de mobilizar fatias significativas do eleitorado (especialmente evangélicos). Faltam: novos programas, que deem a ideia de novidade e quebra na expectativa frustrada dos eleitores; diminuição no preço dos alimentos e, por fim, encontrar uma linguagem menos analógica e mais digital para comunicar tudo isso.

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A frase para pensar

“Não é a espécie mais inteligente que sobrevive; não é a mais forte... a espécie que sobrevive é a que melhor consegue se adaptar”, Leon C. Megginson (1921-2010), professor na escola de negócios da Louisiana State University.

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