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Alberto Silva lançou ideia do biodiesel

Seria a primeira usina do mundo a produzir biodiesel através da mamona. Em novembro de 2001, Alberto Silva, então senador da República pelo PMDB, lançou a pedra fundamental da primeira usina piloto de biodiesel do Brasil, no campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O biodiesel é um óleo extraído da mamona e, por ter as mesmas características do diesel comum, poderia ser usado em máquinas e tratores.

O Cidadeverde.com resgata uma reportagem feita pelo jornalista Elivaldo Barbosa  que acompanhou o lançamento. 

Alberto Silva sempre foi um político à frente do seu tempo. Antes do ex-presidente Lula lançar o projeto - em 2008 - o senador piauiense defendia a ideia. Alguns alegaram até que Lula se espelhou no projeto de Alberto Silva, mas organizou de forma diferente ao que defendia o piauiense. A divergência entre os dois projetos é perceptível na entrevista que concedeu à Agência Senado.

Leia trechos da entrevista de Alberto Silva sobre o biodiesel.

Qual a sua proposta?

Minha proposta é que pequenos proprietários, trabalhadores rurais assentados em projetos de reforma agrária e arrendatários de terras se organizem em associações ou cooperativas para criar usinas de produção de biodiesel a partir da mamona, no semi-árido nordestino, e com base em óleo de dendê na Amazônia. Já estamos trabalhando para a construção de um protótipo no Piauí.

Qual o município do Piauí?

Estamos reunindo os lavradores de São Raimundo Nonato e municípios vizinhos que plantaram e colheram mamona no ano passado e na hora de vender ficaram decepcionados com o preço de 65 centavos o quilo que lhes foi oferecido por uma dessas quatro usinas que vão vender biodiesel à Petrobras.

 Já existe uma lei para produção do biodiesel. Será que seria necessário mais uma lei para criar esse tipo de associação.?

Sim, eu proponho que da mesma forma que o presidente Getúlio Vargas criou a Petrobras e por isso nós temos petróleo hoje e que o regime militar criou o Proalcool e temos álcool hoje, para termos biodiesel o presidente Lula deve criar a Biobrás. Para isso, o presidente manda um projeto de lei ao Congresso. Essa empresa planejará e acompanhará todas as fases de produção e comercialização do biodiesel, do plantio e da colheita à fabricação do óleo.Será um Petrobras do combustível alternativo. É isso que o presidente tem que fazer.

Como o senhor justifica o investimento na criação de uma estatal para incentivar pequenos agricultores na época da desestatização, quando se fala tanto em agronegócio que envolve grandes empresas?

Já respondi. O Brasil produz 14 bilhões de litros porque o regime militar criou o Proalcool, o Brasil produz tanto petróleo, hoje porque Getúlio criou a Petrobras. Mas vamos fazer uma conta rápida: a Ecodiesel ofereceu R$ 0,65 por um quilo de semente de mamona, o lavrador tira no máximo uma tonelada de mamona por hectare. Ao vender por esse preço, ele fatura R$ 650,00 por tonelada, mas se ele plantar mandioca, ele tira 20 toneladas por hectare em 15 meses. Vendendo a 100 reais a tonelada, tem R$ 2 mil, três vezes mais do que o dinheiro da Ecodiesel. Assim, não vai ter semente de mamona, quem vai plantar mamona para vender 65 centavos o quilo? Ninguém.

Qual a solução para melhorar esse preço?

A solução é esta: o agricultor planta com apoio do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf), recebe o dinheiro do Pronaf, planta, colhe, leva para a usina da associação ou cooperativa, a usina esmaga a semente, extrai o óleo da mamona ou do dendê. Para garantir uma renda mínima para esse trabalhador, o governo teria que garantir um preço mínimo para o biodiesel produzido pelo Pronaf, por essas usinas de trabalhadores. Isso se chama valor agregado, ele agregou valor à produção agrícola dele. Da mesma forma que o governo dispõe recursos para o Bolsa Família, pode oferecer para esse trabalhador agrícola pobre produzir mamona, dendê e biodiesel.

O trabalhador poderá ainda obter renda de culturas conjuntas?

Existem ainda os subprodutos dessa atividade. Minha proposta é a plantação dupla: uma fileira de feijão e uma de mamona. Isso produz uma tonelada de mamona e uma tonelada de feijão por hectare. Proponho que o Banco do Nordeste abra uma conta para cada trabalhador e outra para a associação de produtores de biodiesel. E que faça um acordo com aassociação para que o trabalhador não tire mais de R$ 250,00 por mês da sua conta.

Mas o agricultor terá uma renda de apenas R$ 250,00 por mês?

Se muitos vivem da Bolsa Família de R$ 90,00, imagina R$ 250,00. Mas ele terá mais dinheiro desses subprodutos. Assim o lavrador terá dinheiro, terá feijão para consumo e para comercialização. Mas para isso ele leva o feijão para a fábrica, seca e ensaca, a diretoria dessa associação não vende o feijão dele, bota o feijão no agronegócio, espera chegar o pico do preço e vende feijão a R$ 2,00. Com uma tonelada, o lavrador já tem R$ 2 mil na conta dele, em quatro meses de trabalho.

Mas como garantir o preço do biodiesel?

Ele colhe feijão de quatro em quatro meses. E continua colhendo mamona, mamona dá o ano todo, vai colhendo e entregando na fábrica, e a fábrica transformando em óleo. Aí vamos fixar o preço. O governo vai ajudar o lavrador, o governo vai comprar o biodiesel do lavrador por um preço acima de R$ 2,00. Já que é para gerar emprego, a Biobrás compra o biodiesel dessas associações por um preço especial: R$ 2,30.

Por Yala Sena (Com informações do Senado Federal)

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