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Mães que rompem barreiras e criam filhos com liberdade das cores

Fernanda, Daniela, Romana e Amanda educam os filhos livres de esteriótipos em busca de uma sociedade com menos preconceitos

Criadas em uma sociedade considerada patriarcal, tradicional e heteronormativa, mães piauienses decidiram romper com esse tripé e optaram por educar os filhos com a liberdade das cores e mais flexível na questão de gênero. 

Essas mães desconstruíram os próprios preconceitos alegando que os próprios filhos aprendessem, desde a primeira infância, as diferenças para viver em uma sociedade mais igualitária e com menos violência.

Hoje, no Dia das Mães, o Cidadeverde.com conta a história de algumas mulheres que, ao viver a maternidade, descobriram que o amor incondicional pelos filhos as fariam enfrentar as práticas preoconceituosas de alguns para que eles tivessem a liberdade de ser apenas crianças e, quando jovens e adultos, pudessem viver, por exemplo, a própria identidade de gênero e, consequentemente, respeitar as das demais pessoas. Não somente com relação a identidade de gênero, mas conviver com toda e qualquer diferença - seja ela religiosa, étnica, de classe social ou orientação sexual.

No Especial, Fernanda, Romana, Daniela, Amanda e M* (que pediu para não ser identificada) buscam uma educação livre de estereótipos e o rompimento de uma sociedade que, culturalmente, repassou por gerações que o sexo masculino e feminino está ligado, respectivamente, aos gêneros masculino e feminino.

Para elas, a sociedade deveria considerar a educação sem a distinção de gênero normal, mas, infelizmente, recebem olhares atravessados e, muitas vezes, são alvos de piadas preconceituosas. Elas defendem que é preciso reconstruir o hoje sem diferenciar objetos e atividades como “de menina” e “de menino” para um futuro melhor.

Daniela e Manuela 

Daniela e Manuela

Uma gravidez não planejada trouxe a Manuela para os braços da Daniela. Hoje, aos 5 anos de idade, Manu é ensinada a aceitar as diferenças e possui uma criação, a todo instante, desde a orientação sexual das pessoas ao desenrolar político do país, baseada no diálogo aberto com a mãe. Manu gosta de karaté e balé, brinca de bola e boneca, usa roupas da seção feminina e masculina, tudo com muita naturalidade. Para Daniela, a infância é a fase dos porquês, principalmente aos 5 anos de idade. Por isso, é momento ideal para que a criança comece a entender com clareza que a sociedade é plural.   

“Eu tento fazer da Manuela uma pessoa sábia para um mundo que não é fácil, pois ele é cheio de preconceitos. Eu luto é pelo caráter dela, não para firmar uma orientação sexual, por exemplo. Eu ensino pra que ela não trate ninguém com diferença, que somos todos iguais, que cada um tem seu tempo de se autoconhecer. Que ela também pode vir considerada ‘uma pessoa diferente’. Talvez isso ainda só não despertou”, pontua Daniela, de 31 anos.
 

Amanda e a filha caçula, Paty


Amanda e Paty/Sophia/Victoria
 

Aos 37 anos, Amanda segue a vida de mãos dadas com as três filhas: Victoria, Sophia e Paty. Elas têm, respectivamente, 15, 7 e 5 anos de idade; três meninas que já possuem personalidades próprias: uma mais tímida, outra mais extrovertida – uma completando a outra. Para Amanda, é preciso lutar todos os dias para que as filhas, principalmente Paty, por ser uma criança trans, sejam felizes, pois, afinal, a alegria delas é que a faz sorrir também. “Minhas filhas são carinhosas, educadas, felizes e caridosas”, afirma 

Amanda, acrescentando que todas são educadas para superarem as barreiras do preconceito. O Especial trouxe uma matéria exclusiva com Amanda; reveja aqui.

M* e S*

M* e S*

M* é uma mãe, de que, por receio de familiares, no momento, preferiu o anonimato dela e do filho, de 2 anos. Motivo: M* decidiu que o filho desde cedo teria noção do mundo real, esse que durante toda a sua infância foi “escondido”. O filho, desde os primeiros processos educativos, seria educado a não reproduzir práticas machistas e preconceituosas. 

“Assim, desde que ele nasceu, utilizo materiais lúdicos para discutir esses temas, são livros infantis, brinquedos, elementos que possam auxilia-lo a crescer de modo mais livre e consciente das diferenças e do respeito que se deve a todas elas. Dentro dessa perspectiva, quando ele ainda tinha cerca de 1 ano e meio de idade junto com os brinquedos tradicionais de menino como carros e bolas eu adquiri bonecas e bonecos, vassourinhas, rodos de brinquedo, panelas. Minha intenção, quando coloco esses elementos para que ele interaja, é que ele cresça tendo entendimento que os  papeis sociais definidos para homens e mulheres são construções sociais, e não determinantes naturais. Homens e mulheres são responsáveis por seus filhos, todos são responsáveis pela limpeza do ambiente em que convivem e por aí vai, o quanto antes as crianças tiverem consciência disso, muito antes as mesmas se sentirão responsáveis por essas atividades”.

Romana e as filhas Ava e Malu

Romana e Ava e Malu

Na casa delas “não tem isso de coisa de menino e coisa de menina”. A jornalista Romana Naruna acredita que já na primeira infância as crianças começam a formar uma identidade. Os gostos são percebidos nos pequenos detalhes como na escola de uma roupa. Por isso, fez da aquarela o enxoval da Malu e da Ava para apresentar, desde cedo, que a sociedade é colorida, plural e rica em diversidade sem precisar diferenciar objetos, cores e situações por gênero.

“A Malu tanto tem bonecas como carrinhos, bolas, legos. Não definimos nada por gênero, até porque não faz o menor sentido. O máximo de divisão que há aqui em casa é entre coisas de bebês, de crianças e de adultos. Tentamos sempre ampliar a visão quando ela vem da creche com algum pré-conceito ou ideia formada nessa questão dos gêneros. Acho que o mais difícil é isso, impedir que os estereótipos vindos de fora se tornem mais fortes do que a desconstrução que tentamos fazer”.

A história da Romana com as filhas também foi destaque no Especial Dia das Mães. A matéria completa está disponível neste link.

Fernanda e Nícolas 

Fernanda e Nícolas

A história da mãe do Nícolas, a assistente social Fernanda Costa, também foi destaque no Especial Dia das Mães. Durante a conversa com o Cidadeverde.com, Fernanda, de 26 anos,  defende que as crianças precisar ser livres para escolher roupas, atividades e comportamentos que mais lhe despertem afinidade. Ela disse ainda que o filho é educado para ajudar nos afazeres domésticos de acordo com a idade, além de brincar com carros, bonecas e utensílios cor de rosa. Conheça mais sobre a história dos dois aqui.

Na reportagem, Fernanda também destacou que os adultos precisam deixar de sexualizar a infância ao relacionar objetos e atividades com a sexualidade de uma criança. 

Todos os dias, essas mães, mesmo sem se conhecerem, lutam por uma sociedade mais justa, digna e sem discriminação para os seus filhos – e de todas as outras mães. Elas lutam por uma infância livre de opressões baseadas em gênero e sexualidade. Elas pedem por respeito às diferenças, pela alegria das brincadeiras e dos sorrisos inocentes de cada criança.

“Deixemos nossas crianças sermos quem elas são, deixemos livres para escolher cores, sabores e afetos. Nosso papel como mães é de orientar nossas crianças para que cresçam no caminho do bem, para que respeitem todas as formas de ser gente, que estejam comprometidas com a transformação dessa sociedade em outra sociedade, mais digna e mais justa”, declara Fernanda, mãe do Nícolas.

 
Carlienne Carpaso
[email protected]

 

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