"A maior novidade que eu trouxe para esse encontro é a proposta de realizar um Carnaval em Salvador durante a Copa do Mundo de 2014". Essa foi a primeira declaração dada pelo prefeito eleito de Salvador, ACM Neto (DEM), logo após sua chegada ao encontro que reuniu um seleto grupo de artistas locais, sob o comando da Associação Brasileira de Entretenimento (ABRE), para dar as boas-vindas e estreitar relações com novo chefe do Executivo municipal. Estrelaram a primeira fila da plateia Carlinhos Brown, Bell Marques (Chiclete com Banana), Xanddy (Harmonia do Samba), Durval Lelys (Asa de Águia), Manno Góes e Levi Lima (Jammil), Denny (Timbalada), Tuca Fernandes (ex-Jammil), Compadre Washington (É o Tchan), Tatau (Ara Ketu), Marcio Victor (Psirico), Alinne Rosa (Cheiro de Amor), Alexandre Peixe, Magary Lord, Alvinho (Chicafé), além de empresários do setor.

O Carnaval 2013 será o primeiro grande desafio do novo prefeito. Considerado a maior festa de rua do mundo, ele começará 36 dias depois da posse, impedindo  grandes intervenções ou mudanças planos. Por isso mesmo, Jonga Cunha, presidente da Saltur, estatal que organiza o megaevento, será mantido no cargo pelo menos até fevereiro. Cauteloso, Neto ressalvou algumas vezes que a folia do próximo ano não levará a assinatura de sua administração. "Será o ano de arrumar a casa e manter o que está feito. Em 2014 teremos uma festa muito mais organizada, melhor para o folião, aí sim, com a cara da Salvador do futuro", prometeu.

O projeto do Carnaval da Copa do Mundo, como está sendo chamado, tem como objetivo principal confirmar a vocação de turismo e entretenimento de Salvador. "Já conversei com o governador Jaques Wagner (PT), mas precisamos também dialogar com artistas e empresários", declarou Neto. Ele afirmou já ter ideias de locais onde a festa poderia ser realizada, mas não quis confirmar se seria a região da Boca do Rio, já cogitada em anos anteriores para sediar um quarto circuito carnavalesco (já há cortejos nas regiões da Barra-Ondina, Avenida Sete de Setembro e Centro Histórico). Em termos financeiros, a proposta é aproveitar a concentração de turistas e a centralização das atenções da imprensa internacional para o Brasil no período.

O band leader do Jammil, Manno Góes, um artistas locais mais críticos da atual gestão, falou da falta de comunicação do atual prefeito, João Henrique Carneiro (PP) com os músicos, sejam eles de Carnaval ou não. "Os oito anos deixaram isso bem claro: a música não vinha sendo prioridade. Já falamos muito. É hora de os artistas arregaçarem as mangas junto com uma prefeitura que desde já mostra abertura para o diálogo com a nossa classe", declarou.

Eleitor declarado de ACM Neto, o vocalista do Harmonia do Samba, Xanddy, acredita que uma das vantagens da nova gestão é a paixão de Neto pelo Carnaval. "Ele realmente se interessa pelas festa e pelo que acontece com ela".  A posição é corroborada por Márcio Victor, da Banda Psirico, que teve várias canções utilizadas na campanha democrata. "Ele sai comigo nas ruas e eu o vi chorar ouvindo nossas músicas que falam da tristeza do povo de Salvador. Estou com a verdade", concluiu. 

De fato, o novo prefeito é amante da noite e da vida festeira da cidade, e começou sua vida profissional na área, o que fez questão de citar durante o evento. "Pela primeira vez Salvador está tendo um prefeito que vem do meio do entretenimento. Sei o que esse mercado tem de bom e ruim, e estou diante de alguns dos meus ídolos pedindo ajuda para construir um novo cenário", afirmou, lembrando que as estatísticas recentes apontam o declínio da cidade como destino turístico.

Um dos grandes empreendedores, no sentido estrito do termo, do Carnaval de Salvador, Carlinhos Brown afirmou que a participação dos artistas será efetiva, não apenas com cobranças, mas também com propostas e atitudes. "Quem vota num candidato não pode deixá-lo sozinho durante sua gestão", afirmou. Vale lembrar que o Revéillon de rua de Salvador, que estava ameaçado de não acontecer esse ano, está sendo viabilizado através de articulações do artista.

À frente da Timbalada, o cantor Denny, também ressaltou a falta de diálogo entre os músicos e o atual prefeito. "Eu viajo o Brasil e o mundo inteiro e vejo muita coisa que poderia ser implantada aqui, mas nós não pudemos falar nem ouvir. Hoje é a primeira vez que estamos vendo essa oportunidade em muito tempo", comemorou. 

Presidente da ABRE na Bahia, o empresário Ricardo Lelis comemora as novas perspectivas. "Valorizar o setor é entender a vocação natural da cidade. O verão já começou e esse ano é muito curto, então, não resolvemos antecipar esse encontro e abrir um canal de diálogo", declarou. Durante o evento, Lelis evitou criticar a gestão atual, afirmando que ela já foi julgada pela população (e avaliada como a pior do Brasil entre as capitais).

Apesar de fugir totalmente ao tema do evento, questões da transição municipal também foram abordadas pelos jornalistas. Tudo indica que, nesta quarta-feira (12), a Câmara Municipal colocará em pauta uma série de projetos que podem alterar o futuro de Salvador por algumas décadas, e foram apresentados há poucos dias pelo atual prefeito. "Quem sou eu pra dizer que o Legislativo pode votar isso ou aquilo, embora eu venha pedindo para que eles votem logo a reforma administrativa que eu propus. Mas eu creio que esse conjunto de projetos não vai à votação", declarou Neto. Sobre um outro ponto polêmico da pauta, que é a votação das contas municipais dos anos de 2009 e 2010, reprovadas pelo Tribunal de Contas dos Município (TCM) e em recurso na Câmara, o prefeito eleito foi enfático. "Pra mim a decisão do Tribunal de Contas sequer deveria passar pela revisão da Câmara Legislativa."