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Em tributo aos 20 anos de 'O Samba Poconé', Skank relança álbum com material extra

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Para a banda Skank, 1996 é um ano para ser lembrado - e muito celebrado. Há 20 anos, o quarteto mineiro lançava o terceiro disco da carreira, O Samba Poconé. Catapultado pelo sucesso estrondoso de uma de suas faixas, Garota Nacional, o álbum vendeu 2 milhões de cópias - até hoje, é o disco mais vendido da banda -, numa época em que a música digital nem era sonhada e a indústria fonográfica lucrava alto com os discos físicos. Aliás, Garota Nacional merece um capítulo à parte. Tocada à exaustão nas rádios, ela ganhou vida própria e conquistou também as paradas europeias e da América Latina. Foi parar no topo da Billboard na Espanha por semanas. Levou a banda para sua turnê internacional. Chegou a ser gravada em espanhol, e a banda recebeu um pedido dos italianos de uma versão para seu idioma - que nunca aconteceu -, mas foi a música com letra original, em português, que se consagrou também no exterior. 

Para comemorar as duas décadas de um disco tão importante para o grupo como é O Samba Poconé, o Skank dedica uma parte do repertório de seus shows a oito ou nove músicas do célebre álbum, tocadas na sequência. Essa suíte começou a ser incluída no set list em recente apresentação no Rio, e será feita ainda em outras capitais, dentro da turnê normal da banda - esse show comemorativo passa por São Paulo no próximo dia 26, na Audio. Eles planejam também fazer registro em DVD de um show com as 11 músicas desse disco, que pode ocorrer no Circo Voador, no Rio, no primeiro semestre do ano que vem.

Há ainda o relançamento de O Samba Poconé, agora em edição tripla: além do disco com 11 faixas, incluindo outros hits, como É Uma Partida de Futebol, Tão Seu, Eu Disse A Ela - e a participação especial de Manu Chao em três canções -, o projeto reúne um segundo CD só com demos e gravações de ensaios e um terceiro com diversas versões das músicas do álbum, incluindo Chica Nacional/Garota Nacional. É um material farto e curioso para fãs. Em meio a tantas faixas extras, vale uma atenção especial às demos, que mostram o esmero da banda já na fase de pré-produção, e à canção Minas Com Bahia, que eles só gravaram para enviar para Daniela Mercury, que a colocou no repertório de seu disco Feijão Com Arroz, de 1996. A banda nunca gravou essa canção, mas, segundo o baterista do Skank, Haroldo Ferretti, guardião de grande parte do arquivo da banda, Minas Com Bahia foi feita na mesma época de O Samba Poconé e, por isso, fazia sentido incluí-la nesse material. 

“A gente ficava o dia inteiro no estúdio, aprendendo a gravar, aprendendo a compor gravando. Algumas gravações eu ia guardando. Da pré-produção de O Samba Poconé, eu tinha várias coisas, tinha versões de músicas praticamente no dia em que foram compostas, com arranjos bem crus ainda, porque quem gravava era eu”, conta Haroldo, em entrevista ao Estado. “Quando chegaram os 20 anos desse álbum, o Fernando (Furtado), que é nosso empresário, falou: vamos lançar um álbum, vê o que você tem na sua casa. E eu tinha um bocado de coisa, foi aí que começamos a nos empolgar em fazer um álbum comemorativo. Lançar esse disco agora é uma forma de eternizá-lo e também de mostrar para quem é mais fã várias músicas que viraram sucesso como Tão Seu, É Uma Partida de Futebol e Garota Nacional. Mostrar gravações bem cruas delas, sem metais, sem arranjos de voz.” E Samuel Rosa, vocalista da banda e guitarrista, acrescenta: “A gente tinha muito remix na época, gravações que não se tornaram as oficiais. A gente queria que fosse uma curiosidade, para o fã comprar o disco e ter essas informações”.

Mas Garota Nacional, composição de Samuel Rosa e Chico Amaral, ainda é hors-concours, mesmo duas décadas depois, com lugar garantido no repertório de shows da banda até hoje. A que eles atribuem esse grande sucesso da música? “Eu achava que era a letra, sabe, mas, depois que ela fez sucesso na Itália, na Espanha, comecei a achar que era a batida, a melodia”, acredita Samuel Rosa. 

Haroldo conta que, de alguma forma, a canção já parecia predestinada à grande hit ainda na fase de estúdio. “Garota Nacional foi feita no fim de um dia de trabalho. Falei: Samuel, vem cá, escuta essa batida aqui, o que você acha?. Soltei a batida, ele sacou a letra e, em meia hora, a música estava pronta, só não tinha os metais. Estava tão excitante para nós mesmos que a primeira versão dela gravada em estúdio tinha quase uns 20 minutos. Foi algo gostoso de ouvir e cantar, que nos hipnotizou imediatamente. Quando o Fernando (empresário) chegou, colocamos a música, os cinco ficaram pulando e dançando. Sabe quando te dá quase uma certeza que ia ser um sucesso? Até hoje é”, lembra ele. “Não é porque sou baterista, mas acho que ela tem duas coisas que chamam muita atenção: a batida, que, quando solta, você já começa a se sacudir, e a outra é o (refrão) ‘Beat it laun, daun daun’, que não quer dizer nada, uma coisa meio universal e você entra na onda.”

Prova de fogo

 Quando foi lançado, O Samba Poconé tinha para a banda o mesmo peso de um segundo disco, apesar de ser o terceiro, recordam-se Samuel e Haroldo - a banda ainda é formada por Henrique Portugal (teclados) e Lelo Zaneti (baixo). O álbum de estreia, Skank, tinha sido lançado quatro anos antes, em 1992, reunindo canções como In(dig)Nação e Tanto (versão de I Want You, de Bob Dylan), que colocaram o então desconhecido grupo no mapa musical de Minas Gerais. Já o álbum Calango, de 1994, que emplacou cinco, seis sucessos nas rádios, como É Proibido Fumar, Jackie Tequila e Te Ver, fez a banda ser conhecida em todo o Brasil - e pular de 250 mil cópias vendidas para mais de 1 milhão.
 
“Então, O Samba Poconé, terceiro álbum do Skank, foi a grande prova, se a gente pensar que o Brasil só entendeu a banda no segundo álbum. Ele tinha essa missão”, diz Samuel. Em termos de sonoridade, também houve mudanças, ele ressalta. “Acho que tanto o primeiro quanto o segundo álbum eram muito corretos, tudo muito limpo, tudo soava bem, e O Samba Poconé era mais ousado, se desprende um pouco dessa cartilha dancehall brasileiro para ir flertar com rock, rockabilly, rock latino, com coisas mais brasileiras, como Um Dia Qualquer, com forró mais eletrônico da música Poconé. É um ensaio do que viria depois. Em estética musical, prefiro mais O Samba Poconé aos dois anteriores.”


Fonte: Estadão

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