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Processo de autoconhecimento reflete desejo ou não de ser mãe

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Jullyane Teixeira nao pensa em ser mãe agora

Quem é mãe diz que a maternidade é uma dádiva imensurável, que é um dos melhores sonhos que alguém pode ver realizado. Contudo, algumas mulheres têm outros grandes sonhos, que não necessariamente levam ao desejo da gestação, pelos mais variados motivos. Até por uma questão de mudança cultural, é cada vez mais comum haver mulheres que não têm o anseio da ‘maternagem’ como um plano prioritário em suas vidas.

Para algumas, essa decisão quanto ao desejo ou não de ser mãe passa por um processo de conscientização e autoconhecimento. A servidora pública Jullyane Teixeira, de 30 anos, diz que a possibilidade está cada vez mais distante, não porque ela não tenha vontade de gerar ou ter um filho um dia, mas por considerar aspectos ligados a enorme responsabilidade de ser mãe. 

Jullyane também pensa que pode chegar a ser mãe um dia sem necessariamente gestar um bebê; adotando. Ela acredita que assim pode realizar o desejo da maternidade amando um ser do mesmo modo que amaria se fosse gerado pelo seu útero, e que necessite de carinho e atenção tanto quanto um que fosse.

“Na verdade, eu toda minha vida quis ser mãe e hoje, essa é uma decisão que está muito distante do meu futuro.

“Na verdade, eu toda minha vida quis ser mãe e hoje, essa é uma decisão que está muito distante do meu futuro. É uma coisa que a cada dia eu sinto mais o peso da responsabilidade que isso é, que cada vez mais me questiono se realmente é o que quero para a minha vida. Então não é uma coisa que está descartada, mas se acontecer é daqui a bastante tempo”, explicou a servidora pública que já pensou também em fazer uma produção independente, só que mudou de ideia.

Jullyane, como esclareceu, não tem ainda uma ideia concreta sobre o desejo de ser mãe e garante que é uma questão que vê com muita tranquilidade, porque se conhece, reflete e pondera sempre sobre o tema. “Eu sempre pensei muito em adoção e eu pensava em ter um filho e adotar outro e hoje eu penso que, possivelmente, se eu tiver um filho, eu irei adotar. Até porque eu namoro uma mulher, tenho uma companheira, então a gente pensa em ou adotar ou ter um filho com a ajuda do meu irmão. São as nossas expectativas, mas que são assim, que estão muito em aberto. Pode acontecer como pode não acontecer. Não é uma coisa com a qual a gente se preocupa.

[...] A gente não tem essa ideia assim muito fechada de filhos, que os filhos serão apenas os nossos, que carregam nossos genes e a gente se questiona bastante se será que a gente quer isso mesmo. Será se eu quero passar pela experiência da gravidez? Será se vale a pena? Será se não é melhor adotar uma criança que está por aí, sem pai e sem mãe. A gente conversa bastante, mas mais como possibilidade, sem a pressão de que tenha que acontecer um dia”, destaca.

Em relação a toda questão cultural que envolve a maternagem, na concepção de Jullyane, a mulher se vê “compulsoriamente obrigada a gerar um filho a sua vida inteira”. De acordo com ela, a mulher sofre pressão social para ser mãe. “Então a mulher que é trabalhadora e que é mãe, ela sofre dupla, tripla jornada e uma imensa pressão social, primeiro para que seja mãe, e segundo para que seja mãe e cuide dessa criança. Muito embora essa criança possa ter um pai, isso é secundarizado. Às mulheres, é dada toda a responsabilidade da maternidade e é uma responsabilidade enorme e é uma coisa que hoje eu penso; isso cabe na minha vida? É isso que eu quero?”, reflete.

Como feminista, ela crê que muito dessa construção social de família é imposta às mulheres e muito prejudicial. “A questão da maternidade como um todo, da maternidade compulsória e desse modelo bem fechadinho do patriarcado de família, de pai e mãe e filhinhos, ela é de certa forma muito prejudicial para as mulheres, porque coloca toda essa cobrança nas mulheres. Assim como muitas pessoas colocam esse peso da maternidade para as mulheres, de que a responsabilidade é toda delas”. 

Para a servidora, é bastante difícil se afirmar como uma pessoa que não pensa em ter filhos, porque as posturas cultural e social vão contra isso. “Porque a sociedade acha que é polêmica, porque são pontos consensuais do senso comum, que quem se coloca contra é visto como uma pessoa doida, que gosta de polêmica, ou é porque nunca teve um filho, sendo que não é. Eu acho que as pessoas têm direito a ter suas convicções e infelizmente a sociedade empurra as mulheres para a maternidade e legitima muito a questão dos filhos biológicos”. 

No entanto, ela não se sente, de forma alguma, cobrada nesse sentido. “Não me sinto cobrada, eu não sei se porque eu acho que as pessoas que estão próximas a mim, no geral conhecem muito bem os meus posicionamentos, a minha crítica a boa parte da sociedade como um todo. Eu já me senti muito cobrada em relação a relacionamentos anteriores que tive com homens também e quando eu era mais nova eu me sentia mais cobrada. Mas hoje é uma questão muito bem resolvida e se qualquer pessoa vier fazer qualquer comentário, eu vou responder tranquilamente”.


Lorena Barradas não tem desperto o desejo de ser mãe
 

A psicóloga Lorena Barradas, de 27 anos, é outra mulher que, pelo menos ainda, não tem planos de ser mãe. De acordo com ela, neste momento pelo qual passa na vida, está focada em realizações profissionais. E ela tem posto isso como prioridade. Além disso, destaca que é preciso “disponibilidade interna” par desempenhar o papel de mãe.

“Na verdade eu não tenho nenhum dos dois, nem o sonho de ser mãe nem plano de ser. Não faz parte do meu planejamento de vida agora ser mãe ou se seria um sonho meu. Então não faz parte, e eu acredito que seja pelo momento que estou vivendo, de aperfeiçoamento profissional, de buscar uma carreira mais estável e também pela responsabilidade interna. Para você ser mãe não é apenas você ter filho, porque você pode ter a qualquer momento, mas ser mãe envolve uma série de outras coisas como disponibilidade de tempo, é você ensinar valores, é formar uma criança em um futuro adulto. Então eu acredito que é preciso disponibilidade interna para eu conseguir fazer isso com o ser vivo que eu vou colocar no mundo”.
 
Diferente de Jullyane, Lorena não pensa na adoção atualmente. Não porque não concorde com o ato de adotar, mas porque diz que não existe em si aspirações quanto à maternidade. “A possibilidade de adotar, não, porque primeiro eu sou psicóloga e entendo que a adoção é bem mais diferente. Porque necessariamente para quem precisa adotar, para quem não consegue ter filhos, vai considerar que terá uma criatura que vai ser seu filho. A adoção faz você ser mãe de verdade, não mãe adotiva. A questão minha seria igual tanto com um filho adotivo quanto com um filho meu, e eu ainda não tenho sentimentos ainda por esse futuro filho, nem por filho nenhum”, explica.

“Na verdade eu não tenho nenhum dos dois, nem o sonho de ser mãe nem plano de ser".

Embora não esteja atualmente em um relacionamento, ela diz que isso não a faz desistir da possibilidade de um dia ser mãe um dia, contudo afirma ser uma ideia bem distante para ela. “Não é que eu considere que não queira nunca ser mãe, eu não quero agora. Eu já pensei na possibilidade de um dia ter filho e não ter esse parceiro, e isso não me faz não querer ter ou desistir dessa possibilidade, ou que seja por adoção ou por gerar o próprio filho”.
 
Da mesma forma que muitas mulheres, Lorena também se sente cobrada, só que não de forma intensa. Ela atribui o sentimento ao fato do autoconhecimento, que lhe fez perceber que ela não precisa ter esse papel se não tiver vontade. 

“Porque já entendi que essa não é minha função. Hoje eu tenho 27 anos, mas quando eu tinha 20 eu acreditava que sim, que eu gostaria de no futuro ter um filho. Eu realmente queria por achar que esse fosse o meu papel, mas ao longo do tempo que eu fui tomando outras consciências, fui questionando algumas coisas. Eu entendi que essa não era minha função. [...] Então a forma como eu enfrento isso é colocando os meus desejos de uma forma muito natural para mim. Quando a gente consegue entender o que é o mais correto para si, a gente consegue passar isso para os outros com tranquilidade. É um pensamento consciente, não é emocional, revoltado”, diz a psicóloga.


  

Lyza Freitas
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