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Lar de Maria reduz em 95% o abandono do tratamento contra câncer infantil

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Foto: Arquivo Cidadeverde.com

Pedrinha Cruz tinha 14 anos quando descobriu um câncer agressivo no osso da perna, em 2001. Como ela mora em São Pedro do Piauí, o local mais próximo para o tratamento adequado era Teresina, que fica a 1 hora e 30 minutos de distância. Pela complexidade da situação, ela teria que morar na capital.

"Eu não tinha onde ficar e, por isso, a assistente social falou sobre uma casa de apoio que havia acabado de ser aberta. Era o Lar de Maria. Lá fui muito bem recebida e me senti muito à vontade, principalmente quando meu cabelo começou a cair, porque eu não queria ir para casa. Lá eu me sentia melhor. Se não fosse o Lar de Maria, eu não teria como fazer o tratamento. Eu não sei o que seria", conta Pedrina.

Na época em que esteve doente, Pedrinha precisou amputar a perna. Foram cerca de cinco anos de tratamento até vencer o câncer. Hoje, aos 34 anos, ela é casada, tem dois filhos - uma menina de 12 e um menino de 9 anos - e vive feliz em sua cidade, mas sem esquecer o carinho que recebeu na casa de apoio quando mais precisou.

"Eles são minha segunda família. Ainda hoje sempre que preciso, eles me ajudam com a manutenção da prótese. O trabalho que eles fazem é maravilhoso na vida das pessoas. Muda a vida demais, dá ânimo para continuar, dá esperança e faz a gente saber que existe gente boa no mundo", completa Pedrina.

Foto: arquivo pessoal / enviada por Pedrina

Pedrina e família, após vencer o câncer

 

20 anos de resultados a comemorar

 

Em 2020, o Lar de Maria completa 20 anos de existência. Ele surgiu para sanar um grave problema: 74% das crianças com câncer vindas de outras cidades abandonavam o tratamento porque não tinham como se manter em Teresina.

A presidente do Lar de Maria, Cármen Lúcia Campelo, conta que ter uma sede era um sonho que foi realizado por meio das campanhas para captar recursos. "Em 5 de junho de 2000 conseguimos inaugurar a primeira casa de apoio, que era na Rua Olavo Bilac, próxima ao Hospital São Marcos. Era uma casa cedida a título de comodato. Reformamos e instalamos, simultaneamente, o primeiro telemarketing de arrecadação filantrópica de Teresina, para auxiliar na manutenção dessa casa", lembra Carmen.

Foto: Arquivo / Cidadeverde.com

Cármen Lúcia Campelo, presidente do Lar de Maria

 

O nome Lar de Maria surgiu em homenagem a primeira pessoa que doou uma casa ao projeto. "A primeira casa foi doada pela senhora Maria Area Leão, na Rua Barroso, mas precisava de muitos reparos e adaptações, o que aumentava muito o custo. Por isso, o doutor Alcenor Almeida [médico fundador do Hospital São Marcos], nos cedeu um outro imóvel [atual sede, na Avenida São Raimundo, Piçarra]. E tivemos nossa principal mudança, que foi a construção dessa nova sede, inaugurada em novembro de 2007", acrescenta a presidente.

Com a luta diária, o Lar de Maria conseguiu o feito de reduzir o índice de abandono ao tratamento oncológico infantil de 75% para 4%. "Isso significa que os pacientes estão tendo a real chance de se tratar", comemora Cármen.

 

Como funciona o Lar de Maria

 

O Lar de Maria atende pacientes de 0 a 18 anos de idade em tratamento oncológico, que não têm condições financeiras de se manter em Teresina. O projeto inclui desde a hospedagem até a alimentação (seis refeições por dia) e o transporte para o hospital sempre que necessário, tanto para o paciente quanto para seu acompanhante, que pode ser pai, mãe ou qualquer outra pessoa que possa se responsabilize pela criança ou adolescente.

A vice-presidente da Casa, Graça Andrade, afirma que o Lar de Maria é totalmente mantido pelas doações dos teresinenses, sem qualquer apoio dos poderes públicos. "Hoje, nós temos 48 pacientes na Casa. Como os tratamentos são rotativos, conseguimos organizar tudo de uma forma que podemos atender a todos, nunca estamos completamente lotados. São crianças de fora de Teresina, às vezes até de outros estados, que não teriam como ficar, que abandonariam o tratamento se não tivessem onde ficar", explica Graça.

Além dos voluntários, que são maioria no local, o Lar de Maria contrata trabalhadores que são essenciais para o funcionamento, como a cozinheira, os motoristas para levar os pacientes ao hospital, e o pessoal para a recepção e a contabilidade. A manutenção do projeto custa R$ 100 mil mensais, valor que é pago pela generosidade da população de Teresina.

"Não temos qualquer ajuda do governo. Nossa renda vem toda de doações e o que mais ajuda é o nosso telemarketing e as nossas campanhas. Temos, hoje, cerca de 10 mil pessoas que doam a partir de R$ 10. E pra mim, a doação de R$ 10 tem o mesmo valor da doação de R$ 100 porque o importante é a ajuda que estamos recebendo para manter esse lugar e poder ajudar as pessoas", enfatiza Graça.

Ela, que é professora aposentada, mãe de 4 filhos, está no projeto de forma voluntária desde o comecinho, e compara o câncer a um túnel. "Todo mundo fala que existe uma luz no fim do túnel, mas no câncer, essa luz apaga e acende. Quando me aposentei, vi que precisava ajudar ao próximo, que esse era o momento. E hoje sou uma pessoa completamente diferente do que eu era 20 anos atrás. A luta das crianças me transformou, me mostrou o que realmente é importante na vida. Aqui as crianças tem data de entrada, mas não se sabe quando vão poder sair e voltar para casa", conta.

Foto: Yasmim Cunha / Cidadeverde.com

Graça Andrade, vice-presidente do Lar de Maria

 

Pelos olhos de uma mãe

 

Rodrigo tinha apenas 2 aninhos quando foi começou a sentir dores nas pernas, dor de cabeça e apresentar  febre alta e vômitos frequentes. Os pais o levaram para o hospital de sua cidade, em Luzilândia, onde ele ficou internado pelo avançado estado de anemia. Pouco depois, a criança foi transferida para Teresina, onde recebeu o diagnóstico de leucemia.

"Foi como se o mundo tivesse aberto um grande buraco. Eu não tinha ideia do que iria acontecer, até vir para o Lar de Maria e conhecer outras pessoas que estão passando pelo mesmo. Se eu não estivesse aqui seria muito mais difícil porque eu não teria onde ficar, eu não teria como pagar o transporte, a alimentação...", conta a mãe de Rodrigo, Maria do Socorro, que tem 27 anos.

Socorro largou o trabalho de empregada doméstica para ficar com o filho. Atualmente, a família vive com o Bolsa Família e o Benefício da Prestação Continuada (BPC). "E agora meu marido conseguiu um emprego", comemora Socorro, acreditando na melhoria das condições financeiras da família.

A rotina de mãe e filho agora é assim: eles passam alguns dias em casa, na cidade de Luzilândia, com o irmão de Rodrigo, o pai e o restante da família, e voltam para o Lar de Maria para seguir com o tratamento, que está na fase de quimioterapias semanais.

"Meu sonho é ver meu filho curado, para que ele possa voltar a brincar do que ele quiser, como era antes. Quero ter aquilo de volta. Ele vê o irmão brincando e quer brincar também, mas tem muitas coisas que ele não pode. Eu sonho em vê-lo rodeado de amigos, nas festinhas... ele não pode ir a festinhas porque tem muita gente, mas com fé em Deus as coisas vão melhorar. Eu acho que até o meio do ano, ele vai para o tratamento mensal e depois vai ficar curado", diz a mãe, esperançosa.

Foto: Yasmim Cunha / Cidadeverde.com

 

Como ajudar

 

Para conseguir manter a sede e os projetos sociais, o Lar de Maria se mantém em campanha permanente. Além do telemarketing beneficente, a Casa tem duas lojas, uma na sede própria e outra no Hospital São Marcos, onde vendem roupas novas e usadas que são doadas. Em março, o Lar de Maria inaugurará a loja virtual.

Foto: Yasmim Cunha / Cidadeverde.com

Também são feitos quatro bazares. O próximo está marcado para maio e será voltado para as mulheres. "Quem quiser nos ajudar, aceitamos doações de qualquer tipo e tamanho de roupa, desde que esteja em bom estado de conservação", afirma Graça.

Além disso, o Lar de Maria também tem o "Mercado do Bem", localizado no bairro Dirceu Arcoverde, zona Sudeste de Teresina, que é uma loja de móveis e demais coisas de casa, que são doadas pela população.

Quem quiser ajudar, pode entrar as doações no endereço Av. São Raimundo, n.º 1000, Piçarra ou entrar em contato pelo telefone: (86) 3226-2323. Veja abaixo as fotos da estrutura do Lar de Maria oferecida às crianças e acompanhantes.

 

 

Jordana Cury
[email protected]

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