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Retomada de atividades e eventos presenciais preocupa pacientes com câncer

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Foto: Folhapress




As festas do final de ano, em meio à retomada dos eventos presenciais, têm deixado pacientes que fazem parte do grupo de risco para a Covid apreensivos –principalmente imunossuprimidos, caso de pessoas em tratamento de câncer.

A queda na imunidade, causada muitas vezes tanto pela doença quanto pelo tratamento, aumenta o receio de uma possível contaminação, mesmo com a vacinação.

Segundo pesquisa da Pfizer/BioNTech, entre os totalmente vacinados, pessoas imunodeprimidas têm três vezes mais risco de contrair Covid e adoecer com quadros mais graves. Os pesquisadores analisaram 1,2 milhão de casos registrados nos EUA entre dezembro de 2020 e julho de 2021 e concluíram que, mesmo assim, o risco é pequeno em comparação com quem não está vacinado.

Aproximadamente 18% dos casos analisados eram de pacientes imunodeprimidos, ou seja, pessoas transplantadas, com HIV, tumores malignos, doenças autoimunes ou outras doenças imunológicas. Entretanto, aproximadamente 60% das hospitalizações e 100% das mortes foram entre pessoas desse grupo.

Maira Caleffi, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e presidente voluntária da Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), faz uma ressalva: o tipo de câncer faz muita diferença no impacto na imunidade e a pesquisa não especifica quais são os pacientes oncológicos referidos como imunodeprimidos.

Os dados apontam que o risco de uma pessoa saudável contrair Covid após ser imunizada com a vacina da Pfizer é de 6 em 10 mil, já para pacientes categorizados como imunocomprometidos esse número é três vezes maior, de 18 em 10 mil.

No caso dos pacientes oncológicos, a redução da imunidade pode acontecer tanto devido ao tumor quanto por alguns tipos de tratamento. Isso porque, ao mesmo tempo em que destrói as células malignas, quimio e radioterapia podem reduzir as células de defesa. Assim, gera-se um ambiente em que o sistema imunológico enfraquece e deixa o paciente mais suscetível a processos infecciosos, explica o oncologista André Fay, médico do grupo Oncoclínicas em Porto Alegre.

Maira Caleffi afirma que a preocupação com a vulnerabilidade deve ser maior no início, em geral o momento mais agressivo do tratamento, que pode incluir cirurgias, quimio e radioterapia, por exemplo. Depois, a terapia pode estender-se por até dez anos com medicamentos, mas não tem impacto na imunidade dos pacientes.

Quem passa pelo tratamento inicial percebe que, às vezes, até pequenas exposições podem ter complicações graves. "Para você ter uma ideia, depois que comecei a quimioterapia, em julho deste ano, já peguei gripe oito vezes", conta a administradora de empresas Jackeline Goldoni, 49, que vive em Capanema, interior do Paraná.

Jackeline descobriu o câncer de mama durante uma consulta de rotina em maio deste ano, época do pior período da pandemia no Brasil, que vivia um quadro de mais de 2.000 mortes diárias e tinha menos de 20% da população imunizada com a primeira dose.

"A primeira coisa que meu médico me disse foi para tomar a vacina contra a Covid. Ainda não tinha chegado a vez das pessoas da minha idade, mas ele me deu atestado médico e fui correndo", conta. Em junho, já vacinada e menos de um mês após o diagnóstico, fez cirurgia para retirada da mama e colocação de implante. No mês seguinte, iniciou a quimioterapia, que desde outubro deu lugar ao tratamento radioterápico.

Afastada do trabalho desde junho, quando "trancou-se em casa", Jackeline espera poder voltar à ativa neste mês, mesmo que fazendo jornadas mais curtas. Para ela, trabalhar é uma questão de necessidade. "Eu vou voltar, mas tomando cuidado, quero ter a minha vida normal. Vou fazer minha família ter consciência de que preciso voltar e preciso me cuidar."

A rotina será desafiadora, mas ela já enfrentou algo parecido quando o filho de 14 anos retornou às aulas presenciais (ela tem outro de 24). "Foi desesperador para mim. Ele chegava em casa e eu [falava] 'vai tomar banho e depois venha me dar um abraço'. Você já está num momento delicado e pensa 'Já imaginou pegar [Covid]?'"

E ela pegou, de fato, junto com seus pais, marido e filho. Todos se recuperaram bem, mas Jackeline e seus pais tiveram quadros mais graves: ela ficou internada por quatro dias, e eles, por oito dias.

Vizinha de Jackeline em Capanema e ainda sem a dose de reforço, a massoterapeuta Solange Ilkiu, 56, voltou ao trabalho como diretora do Departamento Municipal de Políticas para a Mulher ressaltando a importância do contato com as colegas e o público que atende.

Ambas destacam que não pretendem diminuir os cuidados gerais com a prevenção da doença, como o uso correto de máscaras, a preferência por ambientes ventilados e sem aglomerações. Fay afirma que as recomendações de cuidado devem ser individualizadas para cada paciente, levando em conta fatores da doença, do tratamento e do momento epidemiológico.

"Há situações onde há uma preocupação maior e ainda se recomenda um grau de restrição um pouco mais rigoroso; em outras, é possível retomar as atividades dentro dos cuidados usuais de toda a população, nem mais nem menos."

Hoje, entretanto, já se sabe que a vacinação contra Covid-19 é segura e produz imunidade em pacientes com câncer de mama. Para Maira Caleffi, a imunização plena recebe destaque na prevenção de infecções que podem agravar o quadro de saúde.

A médica orienta as pacientes a procurarem aconselhamento para manter as vacinas em dia, em consonância com o cronograma nacional. A recomendação não serve apenas para quem já está doente: o aconselhamento pode ser encontrado por qualquer um, gratuitamente, em qualquer UBS (Unidade Básica de Saúde).

Antes da preocupação com a Covid, os médicos já orientavam seus pacientes a tomar cuidados maiores para prevenir infecções durante o tratamento inicial. Fay recomenda, por exemplo, a preferência por refeições cozidas e não cruas, para evitar contaminação via ingestão, e não tirar a cutícula na manicure, para fugir de machucados que funcionam como porta de entrada para micro-organismos.

Na mesma linha, Caleffi destaca também a importância da higiene bucal, de onde pode vir a contaminação. "O acompanhamento regular com dentistas para evitar gengivites e detectar problemas infecciosos na boca e na gengiva é muito importante para o paciente que está preocupado."



Fonte: Folhapress

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