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Morador mantém características de casa onde vive há 64 anos no Centro de Teresina

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Wilson Cordeiro mora no Centro de Teresina há 64 anos. Filho de um oficial de Justiça, que se transferiu de Pedro II para a capital com a família, ele lembra dos momentos vivenciados na infância ao lado dos seis irmãos nos arredores da casa localizada na Rua Magalhães Filho. 

"Isso aqui tudo era residência ou os quintais das residências. Aqui tinha uma quinta, que tinha todo tipo de arvore frutífera, tinha até uva. Eu e meus irmãos corríamos por essas ruas na maior tranquilidade", diz Wilson.

Diferente de outras famílias da região, os Cordeiro resolveram manter a casa dos pais, preservando as características do imóvel.

A casa da família está em um terreno de 10 metros largura, por 40 de comprimento. Tem muro baixo com grades, uma tendência da época. Não há cerca elétrica e nem grades de proteção na porta de entrada e nas janelas do imóvel. As janelas ainda são as mesmas de quando a casa foi construída.

No interior da casa, há uma mescla de móveis contemporâneos com moveis antigos, herdados dos pais. E o ladrilho hidráulico, original da construção, foi preservado em todos os cômodos.

Na casa, vivem Wilson, sua esposa e uma de suas filhas, que estuda Arquitetura. "Quando ela tinha 10 anos, dei uma câmera para ela, para ela registrar as casas aqui da região. E hoje ela me dá aula sobre o tipo de arquitetura de cada imóvel e as influências",conta.

No local, também funciona o atelier de Wilson, que trabalha com o conserto e a restauração de brinquedos. Lá, o 'Dr. Boneco', como é conhecido, devolve sonhos a crianças e adultos, resgatando histórias através dos brinquedos.

Foto: Renato Andrade/Cidadeverde.com 

Segurança 

A segurança é o primeiro fator apontado por Wilson como dificultador de sua vida no Centro de Teresina. "Durmo apenas 4 horas por noite. Tenho dois cachorros que me avisam da aproximação de pessoas", afirma.

O morador, também, revela que passou a praticar a política da boa vizinhança com os moradores de rua.

"Fiz contato com eles, forneço o que eles precisam, alimentos e água. E, assim, mantemos um acordo não verbal de não-agressão. Hoje eu não posso viajar, não posso me ausentar daqui sem deixar uma pessoa na casa. Recentemente, tive que ir a minha cidade natal, Pedro II, e passei poucos dias, porque minha filha ficou aqui sozinha e ela não tem esse contato de proximidade com eles", explica.

Em uma volta pela rua onde mora, a apenas um quarteirão da Avenida Frei Serafim, Wilson contou a história da sua casa e de seus ex-vizinhos.

Segundo Wilson, o movimento de fuga de moradores do Centro, se deu, inicialmente, pela promessa de uma clima "mais ameno" na zona Leste de Teresina.

"Aqui no Centro estamos entre dois rios, realmente, isso faz daqui uma área mais quente. Lá é mais arejado, e isso atraiu as pessoas", relembra Wilson.

Com a saída dos moradores, as casas foram sendo locadas para pensões e empresas, mas ao longo dos anos elas foram sendo modificadas e perderam suas características originais. O valor dos alugueis foi crescendo ao ponto de nem o comércio suportar e os imóveis foram sendo fechados", analisa Wilson.

Outro ponto que Wilson denuncia em nossa caminhada é a depredação de imóveis históricos no Centro de Teresina.

"Alguns eu consegui fazer fotos antes da depredação, outros não. Portas, janelas e gradeados históricos são arrancados pelos usuários de droga, inicialmente, para ter acesso às residências fechadas e depois esses itens são vendidos por algum dinheiro, para sustento deles", revela Wilson.

Os moradores que, ainda, permanecem no Centro de Teresina, enfrentam problemas no que tange ao acesso de produtos e serviços.

Não existe na área, por exemplo, espaços de lazer.

"Não tem diversão no Centro, um morador, em uma dos estudos que fiz que confidenciou isso. Até as casas de show, que usavam estacionamentos para fazer shows, fecharam. Veio um juiz e disse que no Centro só pode ter barulho só até meia noite", revelou Wellington Camarço, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí.

O acesso a farmácia e supermercados, também, é reduzido ao horário comercial.

Às 18h a farmácia fecha e não é possível comparar mais nada após esse horários. As pessoas precisam buscar alternativas e as alternativas não estão mais no Centro", diz Camarço.

Quem também destaca esse aspecto é a professora Jasmine Malta. Durante o dia, restaurantes e lanchonetes funcionam no Centro, mas segundo a professora faltam outros atrativos. "Faltam farmácias, supermercados, opções de estabelecimentos que possam atender clientes à noite, e até a própria questão dos entregadores, que muitas vezes recusam viagens para essa área da cidade, no turno da noite", reflete a professora.

Foto: Renato Andrade/Cidadeverde.com 

Um bom lugar para se viver

Wilson Cordeiro fala com alegria da vida que teve em sua casa, em mais de seis década, e revela que gostaria que outros herdeiros, também, tivessem a disposição de cuidar dos imóveis que um dia abrigaram sua família.

Wilson diz que o bom de morar no Centro é ter tudo por perto.

"Aqui eu tenho acesso a hospitais, os melhores da cidade, tem comércio onde posso comprar de tudo. Eu não tenho nem carro. Minha filha diz que me acomodei nessa vida sem carro e, que, por isso eu não quero sair daqui. E, isso, é verdade", diz Wilson sorridente.

Wilson revela que um acordo entre os irmão mantém o imóvel de pé.

"Somos sete irmãos e sempre fomos muito unidos. O que todos nós queremos é manter essa casa de pé. Até a década de 1990 uma outra irmã minha morava no imóvel. Ela precisou sair e eu assumi. Essa é uma casa histórica, não só pela sua arquitetura, ou pelo valor sentimental que existe na nossa família. Essa casa não pode ser abandonada. Trabalho com cultura e esse é um ponto de encontro das pessoas que fazem cultura em Teresina. Aqui nasceu o grupo Coisa de Negro, por exemplo", relembra Wilson.

 

 


Adriana Magalhães
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