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Um dos maíores ícones da MPB completaria 84 anos nesta terça

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As eternas Águas de Março nasceram de suas mãos, mas não com ele. No dia 25 de janeiro de 1927, às 23h15, sob uma forte tempestade na Tijuca, veio ao mundo o primeiro rebento do casal Jorge Jobim e Nilza Brasileiro de Almeida, que viria a se tornar um dos maiores ícones da música nacional: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou simplesmente Tom Jobim.

Aquariano com ascendente em libra, signos ligados ao ar, assim como os seres alados que admirava, Tom era também do signo de gato no horóscopo chinês, o que talvez possa explicar seus constantes deslocamentos, mudanças e quebras de ritmos em sua vida. Uma delas foi assistir a separação dos pais, em seguida suportar a perda do pai e o ganho de um padrasto, Celso Frota Pessoa, a quem o músico atribuiu a função paterna até o fim de sua vida. O apelido, Tom, foi dado por Isaura, sua irmã mais nova.


Tom Jobim ao lado do piano, parceria de grande sucesso// foto: Divulgação

O gosto pela música se manifestou ainda na infância. Ele parava em frente ao mar, praças e lagoas para contemplar os lugares. A música "acontecia" em sua cabeça naqueles momentos. Seu primeiro contato com um instrumento musical foi o piano, mas ele relutou a princípio, pois considerava coisa de menina.

Ao se aproximar e dedilhar o teclado com certa cautela, a paixão lhe tomou conta e ele se sentiu fisgado pela musicalidade proposta pelo instrumento. A partir dele, vieram as aulas para estudar flauta, violão e harmônica de boca. Ele chegou a formar uma dupla com Newton Mendonça, gaitista cuja ribalta era a praça General Osório, em Ipanema.

A música lhe surgiu como trabalho quando decidiu se casar com Thereza Otero Hermanny. Antes, tentou seguir na carreira de arquiteto, por considerar mais segura, mas foi infeliz em sua tentativa, e foi convidado para trabalhar na Rádio Clube, em Petrópolis, em 1949, como pianista. Para aumentar a renda, fazia bicos em casas noturnas, que passaram a ser mais rentáveis e o fizeram deixar a emissora.

Percebendo que a vida noturna não lhe garantiria um futuro, obteve a ajuda do padrasto para se aperfeiçoar na música. Tom fez importantes contatos ao longo dos anos, trabalhou na Editora Euterpe escrevendo arranjos para pequenos conjuntos e caiu nas graças de Radamés Gnatalli, pianista, regente e compositor, que o adotou como afilhado musical.


Se estivesse vivo, Tom Jobim completaria 84 anos nesta terça-feira (25)// Foto: Futura Press

Em 1953, Tom estreou seu disco como compositor, com o samba-canção Incerteza, feito em parceria com Newton Mendonça e gravado por Mauricy Moura. No dia em que completou 28 anos foi convidado para participar do programa Quando os Maestros se Encontram, da Rádio Nacional, e apresentou a peça sinfônica Lenda, de sua autoria, dedicada à memória do pai. Essa música nunca foi gravada por Tom Jobim.

Após inúmeras parcerias de sucesso, enfim, o esperado reconhecimento: Tom entrou na lista dos melhores arranjadores da temporada, apontados pelo crítico Ary Vasconcellos, dividindo a segunda colocação com Pixinguinha e Renato de Oliveira.

Em 1956, nasceu uma das amizades mais ricas para a cultura nacional. Vinícius de Moraes buscava um parceiro para compor uma música de uma ópera negra carioca e lhe apresentaram Tom Jobim. Dos encontros embrionários, clássicos foram produzidos: Se Todos Fossem Iguais a Você, Mulher Sempre Mulher, Um Nome de Mulher, Eu e Meu Amor e Lamento do Morro. A peça Orfeu da Conceição estreou no Theatro Municipal do Rio em 25 de setembro de 1956 e permaneceu até o dia 30, com os ingressos de todas as apresentações esgotados.

A dupla Tom & Vinícius foi apresentada a outros intérpretes, que gravaram discos com músicas compostas exclusivamente por eles, como Elizeth Cardoso, que a princípio torceu o nariz para a ideia. As cantoras Lenita Bruno e Silvinha Telles gravaram LPs com músicas compostas somente por Jobim, mas nenhuma delas fizeram tanto sucesso quanto o disco Chega de Saudade, de João Gilberto, que marcou o nascimento da Bossa Nova. Ary Barroso, resistente ao novo gênero musical, acabou dando o braço a torcer ao talento do percussor em um programa de TV. "Tom Jobim é, disparado, o melhor de todos os novos compositores brasileiros".

Jobim compôs trilhas musicais para peças teatrais e filmes. Chegou a se arriscar na TV em 1959, fazendo as honras semanalmente no programa O Bom Tom, na TV Paulista. Foi seduzido pelo cinema e os fãs puderam conhecer a faceta ator de Tom Jobim no longa italiano Copacabana Palace, gravado no Rio de Janeiro.

Somente em 1962 Tom Jobim voltara a fazer shows. Intitulado Encontro, nome propício para o espetáculo promovido por ele, Vinícius, João Gilberto e o conjunto vocal Os Cariocas, nasceram cinco dos maiores clássicos da Bossa Nova: Só Danço Samba, Samba do Avião, Samba da Benção, O Astronauta e Garota de Ipanema.

O ritmo tomou conta dos Estados Unidos e a apresentação oficial aos "gringos" aconteceu oficialmente no dia 21 de novembro de 1962, no Carnegie Hall, em Nova York, promovido pelo consulado brasileiro e Sidney Frey, dono da gravadora Audio Fidelity. Tom se mostrou resistente devido à má organização e só chegou ao país no dia do concerto. Chegou a fazer shows nas terras do Tio Sam, elogiado pelos críticos locais, mas não ganhou dinheiro. Por insistência de sua mulher, Thereza, abriu a editora Corcovado Music. Gravou seu primeiro disco americano, o instrumental Antonio Carlos Jobim - The Composer of Desafinado Plays.



Em meados de 1963, Tom fez algo inédito em sua carreira: gravou um disco como cantor em parceria com Dorival Caymmi e os filhos do compositor baiano, Danilo, Nana e Dori, intitulado Caymmi Visita Tom. No final de 1964, novos reconhecimentos por seu sucesso. Jobim foi consagrado com três Grammys: pela autoria de Desafinado e Garota de Ipanema e pelos arranjos de Brazil's Brilliant João Gilberto.

Quando pensou que seu trabalho já havia atingido o topo do reconhecimento, o clássico chope com os amigos foi interrompido com um telefonema inesperado. Frank Sinatra, "The Voice", o procurou para gravar um disco somente com músicas de sua autoria. O "sim" foi instantâneo e em 1967, após uma crise conjugal do astro americano, o trabalho foi iniciado com duas músicas inéditas, Wave e Triste. O álbum Albert Francis Sinatra & Antonio Carlos Jobim foi muito elogiado pela crítica americana e sucesso de vendas, perdendo apenas para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. Desta parceria nasceu uma amizade e com ela um segundo trabalho, o Sinatra & Company. A NBC, em setembro de 1967, fez uma homenagem a Sinatra e não deixou de convidar o brasileiro. O americano abriu a atração cantando Corcovado.

Em 1977, Tom Se separou de Thereza após se apaixonar pela fotógrafa Ana Beatriz Lontra, de 19 anos, época em que gravou Urubu. A moça deu um toque de juventude na vida do músico, que passou a se sentir mais estimulado ao trabalho e compôs novos sucessos em curto tempo. Durante uma lua-de-mel do casal, as pérolas Você Vai Ver, Falando de Amor e a versão em inglês de Águas de Março nasceram.

No dia 15 de março de 1989 celebrou-se o jubileu de prata da gravação de Garota de Ipanema no Carnegie Hall com a presença de Jobim. Em 25 anos, a música ultrapassara 3 milhões de execuções em emissores de rádio e televisão, fazendo do músico o segundo estrangeiro mais executado nos Estados Unidos. Apesar de ter perdido três pessoas de grande estima na década de 80 (Vinicius, em julho de 1980, D. Nilza, em novembro de 1989, e tio Marcelo algumas semanas depois), o período se encerrou de forma positiva para ele. Os anos seguintes seriam dedicados a shows no Brasil e no exterior, pois todos faziam questão de ouvir a pai da Bossa Nova.

Em 1993, Tom Jobim recebeu uma espécie de tributo à sua obra, com participação de Herbie Hancock, Shirley Horn, Ron Carter, Joe Henderson, Gonzalo Rubalcaba, Jon Hendricks, Gal Costa e Oscar Castro Neves. Deste encontro, o novo e último disco Antonio Brasileiro, com participações especiais de Dorival Caymmi e Sting. O disco só foi lançado em novembro de 1994 e até a data Tom subiu aos palcos somente mais três vezes.

No dia 15 de setembro, jobim viajou até Nova York para se submeter a uma angioplastia e descobrir o real estado de seu sistema circulatório. Em um dos diversos exames, descobriu-se um tumor maligno na bexiga e marcou uma cirurgia para o dia 6 de dezembro, no Mount Sinai Medical Center. No dia 8, enquanto se recuperava da cirurgia, sofreu uma parada cardíaca provocada por uma embolia pulmonar, causando-lhe a morte.
O corpo de Tom Jobim desembarcou no Rio de Janeiro no dia 9 e foi velado no Jardim Botânico e levado para o cemitério de São João Batista, após desfilar em cortejo pelo Rio de Janeiro.


Fonte: TERRA


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