Cidadeverde.com

'Sou abençoada', diz Josimara, mãe de quatro crianças com microcefalia

"Eles são uma benção de Deus. Ele escolhe as mães para cuidarem desses anjinhos. Eu me sinto escolhida. Sou abençoada, e não largo meus filhos por nada nesse mundo", enfatiza Josimara Ramos Alves, de 25 anos, após dar mamadeira para os quatro filhos que possuem microcefalia. A família, composta pelos pais e cinco crianças, mora em Vilhena, cidade localizada a 700 quilômetros de Porto Velho. A mãe afirma que a doença das crianças não tem relação com o vírus da zika.

Sorridentes, carinhosos e sensíveis são algumas das características dos "anjinhos", como diz a mãe. A história das crianças começa há 10 anos, quando Josimara engravidou do companheiro, Elias Cruz Rodrigues, agora com 31 anos.

Com 15 anos, ela teve a primeira filha, Ketrulin, que nasceu com sete meses de gestação. "Não conhecia a doença. Quando o doutor disse que ela tinha microcefalia, fiquei muito assustada, chorei muito. A minha primeira menininha vinha com problemas. Mas pedi a Deus, e ele foi me dando forças", lembra.

Depois de Ketrulin, veio Lucas de nove anos; Alerrandro de quatro anos; Maria de três anos, e o caçula Elias Davi, de 11 meses. Alerrandro é o único filho que não apresentou a doença. De família humilde, a mãe fala que não sabe ao certo o motivo das quatro crianças nascerem com microcefalia. Ela diz que realizou o pré-natal de todas as gestações, que o diagnóstico foi dado após o nascimento, e que é o primeiro caso da doença na família.

"O doutor sempre disse que era genético. Eu e meu esposo fizemos exames para ver o que era o problema, mas não conseguimos achar. Continuamos tentando ter um filho sadio. Foi a maior felicidade do mundo. Mas veio os especiais também, e eles são todos as nossas bênçãos", explica.

Os maiores gastos dos pais são com fraldas, leite e remédios. A mãe explica que as crianças têm dificuldades de engolir, então o principal alimento é o leite. Ao todo, são 20 mamadeiras por dia. A família sobrevive com o salário mínimo do marido, mais um salário da pensão de Ketrulin.

Rotina
A rotina da família começa às 5h, quando o marido sai para trabalhar em um posto de gasolina como lavador e retorna às 19h. Enquanto isso, Josimara fica em casa com os quatro filhos, pois Ketrulin é cuidada pela avó. "Morávamos junto com minha mãe, e Ketrulin se acostumou com ela. Quando ganhamos a casa popular, há três meses, minha mãe continuou nos ajudando nos cuidados com ela", diz.

A mãe conta que Alerrandro também ajuda na casa, em pequenas tarefas, como pegar mamadeiras, fraldas, e até lembra a hora dos remédios dos irmãos.  Ela também revela que nunca sofreu preconceito por causa da condição de seus filhos, mas admite o cansaço do dia a dia.

"Eu não vou mentir, às vezes bate o cansaço. Já tivemos várias dificuldades, já fiquei com os quatro internados. Choro, peço forças a Deus e volto à rotina. Eles são meus anjinhos. Vão ser crianças até ficarem velhinhos. Vai ser muito tempo trocando fraldas e dando mamadeira", conclui.

Microcefalia 
O pediatra Juan Fredy Ebert Valenzuela explica que a microcefalia é uma condição neurológica em que o bebê nasce com o crânio menor do que o normal. A microcefalia é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32 centímetros.

De acordo com o médico, a microcefalia pode ser causada por doença adquirida ou congênita. Algumas das alterações adquiridas acontecem por infecções como as causadas pela rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose e pelo vírus da zika. "Ingestão de drogas ilícitas, álcool e medicamentos como a talidomida também provocam efeitos colaterais durante a gravidez", complementa.

Já a congênita, pode ter característica hereditária ou genética. "No caso dos filhos da dona Josimara, o diagnóstico apontou para hereditária, ou seja, a microcefalia necessariamente passará de uma geração a outra. Se fosse genética, haveria apenas uma probabilidade do gene se manifestar e não uma certeza", ressalta.

O profissional alerta para a importância da mulher fazer o planejamento e passar por avaliação médica, junto com o parceiro, antes da gestação. Ao engravidar, ele enfatiza que a gestante precisa fazer o pré-natal, quando se é possível prevenir ou detectar doenças infecciosas.

"As complicações para uma criança com microcefalia são muitas, como dificuldades na fala, audição, locomoção, coordenação e equilíbrio. Precisa de um tratamento regular com médicos especialistas para ajudar na qualidade de vida da criança", conclui.

Fonte: G1

Você pode receber direto no seu WhatsApp as principais notícias do CidadeVerde.com
Siga nas redes sociais