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Coluna 23/02/24

Ciro Nogueira, um perfil

O cãozinho Harry era unha e carne com o senador e presidente nacional do Progressistas, Ciro Nogueira. Se alguém ousasse chegar perto de Ciro ou tentasse sentar nos lugares favoritos do senador pela casa, estaria comprando uma briga daquelas com Harry. Como naquelas histórias em que tudo está bom demais para ser verdade, o xodó de Ciro se foi de maneira trágica. Há alguns anos, Harry faleceu atropelado pelo motorista do senador. “Foi um acidente, eu jamais culparia meu motorista, que é meu amigo”, relatou Ciro a interlocutores. 

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Firme e flexível

Mesmo assim a dor foi enorme, o senador ficou abatido e inconsolável: “Quase como perder um filho”, comparou. Passou anos sem querer criar um cãozinho de novo. Até que agora, deu o braço a torcer. Adotou um cachorro e o chamou de Caramelo. Está feliz de novo. Ciro é de decisões firmes, mas sabe dar o braço a torcer na hora certa.

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Don Ciro

Uma cena icônica do filme “O Poderoso Chefão”, dirigido por Francis Ford Coppola, é a que mostra Don Vito Corleone (Marlon Brando) acariciando um gato no colo. É bem no início da película, e já ficamos sabendo que Corleone não é um personagem comum. Enquanto Vito fala sobre favores e acordos, o gato expressa ao telespectador, emoção e ambiguidade. Não à toa esse é o filme favorito de Ciro Nogueira. Não é que Ciro tenha assistido ao filme centenas de vezes. Isso ele fez. É que foi além, visitando as principais locações na Itália. Ciro é intenso, tudo ou nada. 

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Respira poder

Disputas de poder, lealdade e moralidade são o pano de fundo da trama de "Yellowstone", a série de TV favorita do presidente do Progressistas. A trama mostra John Dutton (Kevin Costner), proprietário do rancho Yellowstone, e sua família. Eles tentam manter o controle de suas terras em meio aos conflitos com reservas indígenas, políticos locais e rancheiros. Ciro parece se enxergar em homens complexos em meio a batalhas contra inimigos a todo lado. Ele respira política e poder, até nas horas vagas.

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O único objeto que você salvaria de um incêndio

Se um dia a casa de Ciro Nogueira Filho pegasse fogo e ele só pudesse salvar uma imagem, seria a foto do pai, o ex-deputado federal Ciro Nogueira, de quem herdou o nome. O pai foi deputado entre 1983 e1987 e entre 1991 e 1995. Foi um político importante, mas o filho alçou postos maiores em influência nacional e superou politicamente o pai – algo raro em terras piauienses. Essa imagem - o único objeto que valeria a Ciro hipoteticamente salvar - é o pano de fundo do celular do senador. A foto foi tirada no dia em que soube que o pai tinha o diagnóstico de câncer, doença pela qual veio a falecer.

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Pragmático nível mil

Quem conheceu o pai de Ciro aponta que eles pareciam em um aspecto: o pragmatismo. “Vamos dizer que o Ciro Filho é o pai, só que mais aprimorado. O pai era mais regional, mas também era objetivo. Já o Ciro Filho é 8 ou 80”, comparou um aliado à coluna. Todos concordam que Ciro pai era mais moderado e também contra empresário entrar na política. O filho, amando e respeitando o pai, não seguiu esse conselho. É empresário bem-sucedido em dezenas de empresas no Piauí e na política, pensa alto: quer ser vice-presidente da República de um candidato da direita em 2026. Se conseguirá ou não, são outros 500...

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Online 24h

Se nas redes sociais – especialmente no X (antigo Twitter), Ciro é duro, às vezes sarcástico demais com o governo Lula e não se poupa a enfrentamentos, pessoalmente o senador fala baixo, quase num sussurro, chamando a todos de “querido” ou “querida”, assim como “amor”, para quem tem um pouco mais de intimidade. Responde a, literalmente, todas as mensagens que chegam ao seu telefone. São muitas. Quando não consegue concluir uma rodada no dia, ao acordar às 6h, pega o celular na cabeceira da cama e não deixa ninguém sem resposta. É ligado nas redes sociais e nada no seu perfil do Instagram é postado sem sua aprovação prévia, por exemplo. 

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Saudades da PUC-RJ

A vida do presidente do Progressistas, partido que garante governabilidade a qualquer presidente da República, de direita ou de esquerda, é frenética. Mas tem suas pausas. Quando precisa respirar, Ciro Nogueira gosta de entrar em igrejas, inclusive nas pequenas cidades do interior do Piauí. O leitor dificilmente encontrará registros de Ciro nesse momento. Ele sempre pede à própria equipe para não ser fotografado rezando. Mas o lugar preferido de Ciro, seu templo particular de meditação, são os corredores da PUC-RJ, onde se formou em Direito.

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Garoto de Ipanema

Em 2022, no meio de uma agenda carioca enquanto era ministro da Casa Civil do Governo Bolsonaro, pediu para o motorista parar e deixá-lo na PUC. Precisava meditar, se reconectar consigo, pensar. O período no Rio, sem dúvidas, foi o mais feliz da vida dele. Conhece o deputado federal Júlio Arcoverde (PP-PI), desde os 12 anos. Júlio era vizinho da casa do avô de Ciro. Juntos, foram para o Rio, onde Júlio estudou na tradicional UFRJ. Arcoverde morava em Ipanema, num apartamento sem telefone (e sem celular) e Ciro em Copacabana. Época de faculdade, muito chop e praia.

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GOAT

“Ele (Ciro) só chia quando dá entrevista. Mais de 30 anos que ele saiu do Rio de Janeiro, e ainda chia. Só tique nervoso. A gente brinca muito com isso”, relembra Júlio, às gargalhadas. Ciro era uma criança viciada em esporte, especialmente futebol. A vida é uma linha de continuidades. Hoje, é um adulto viciado em esporte, menos em praticar, mais em assistir. Ele e Júlio Arcoverde acompanham obcecadamente o River piauiense. Ciro Nogueira ajuda o partido também financeiramente. Ciro é dos laços. Olha para frente, mas é amarrado aos fios invisíveis do passado.

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Como se sobressair 

Ciro Nogueira chegou em Brasília como mais um dos 513 deputados federais que circulavam no Salão Verde. Para se sobressair num mar de tubarões, ou se é um grande técnico, que domina uma área relevante como a Economia, ou se faz grandes amizades. Pois bem, Ciro fica na última categoria: é um homem de muitos amigos. Ao contrário dos políticos que vivem no Piauí e passam dois dias por semana em Brasília, Ciro vive em Brasília e passou a estar dois dias por semana no Piauí. Foi nos almoços, jantares e finais de semana em Brasília que fez seu nome e uma forte agenda. Afinal - e aqui vai uma frase de "O Poderoso Chefão" - "os homens mais ricos são os que possuem os amigos mais poderosos". É ou não é?

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Benjamin Button

Aos 55 anos, também tem um certo espírito jovem, pode-se dizer assim. Adora o sertanejo Gusttavo Lima, mas também o samba de Benito de Paula, “Retalhos de Cetim”. Os amigos da faixa dos 30 anos, ajudam nisso, como os deputados federais Hugo Motta (Republicanos-PB) e André Fufuca (PP-MA, ministro dos Esportes). No Piauí, anda sempre com Victor Linhares, suplente de vereador em Teresina e, dizem, futuro candidato a deputado estadual pelo Progressistas em 2026. Ciro é lá e cá. Fez um aniversário para dezenas de prefeitos do Piauí em sua casa, em Teresina, em 2023, e outro, privado, em Milagres (BA), reunindo o jet-set da política nacional – esse último, sem fotos públicas.

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Chique ou rústico (ou ambos)

Está sempre de dieta, outra verdade. Pede para que não lhe mostrem sobremesas, pois não resiste, já que é viciado em doce, especialmente cartola (um doce em camadas, com canela). Vive, se veste e tem tudo do bom e do melhor, mas onde Ciro desce para comer, os funcionários que o acompanham também comem no mesmo local. Ao seu staff, fica chateado se não lhe lembram do aniversário de cada funcionário, da cozinheira ao motorista. Ele faz questão de ligar ou mandar um áudio de felicitações. 

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Autógrafo de Montblanc

Num passado não muito distante, Ciro buscava o apoio dos evangélicos piauienses para uma disputa de tudo ou nada. Foi apresentado a um influente pastor, conta um político da época. O homem era duro e estava preocupado com a citação de Ciro em casos da Operação Lava Jato. Ciro foi sabatinado pelo conselho de pastores, mas foi brifado antes. Sabendo que o pastor, líder maior, era um escritor de livros vaidoso, chegou assim, conta a testemunha: “Estava um dia desses na Europa e fiquei lembrando dos seus livros. O senhor é um grande autor”. Ali, Ciro ganhou pastor. 

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A esfinge 

“O Ciro é igual ao Firmino (Filho) e ao Rafael (Fonteles). Um jogador nato, é difícil ler a mente, você não tem como identificar se o CN está blefando ou não, porque deixa muito no ar. É indecifrável internamente”, relata um político que já fez bons acordos com Ciro no passado. 

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Amigo oculto

Um sonho não realizado de Ciro é mesmo o de ser governador do Piauí. O cenário não é nada favorável, pois o governador Rafael Fonteles é bem avaliado e o Nordeste vota maciçamente em Lula, a quem Ciro faz oposição publicamente, mesmo com ministros do seu partido no Governo Lula. Apesar desse detalhe, considera-se amigo, na capital federal, do senador e líder do Governo, Jacques Wagner e dos ministros de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e Fazenda, Fernando Haddad. Conversam com frequência, mas sem registros públicos. É a política dos adultos... Como disse Michael Corleone (Al Pacino): “Não odeie seus inimigos. Isso afeta seu juízo” 

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O custo Bolsonaro

O custo político de fazer a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro é alto no Piauí. A força de Ciro Nogueira é crucial para garantir recursos aos pré-candidatos a prefeito e vereadores do PP e de siglas aliadas no estado de origem do senador. Mas a vinculação da imagem de Ciro com políticos como o ex-prefeito Sílvio Mendes, é evitada para não levar até Sílvio a pecha radioativa de bolsonarista. Ciro sabe disso e fez uma escolha: ser um político nacional, sob a pena de ter dificuldades de se eleger no próprio estado. A aposta, mais uma vez, é tudo ou nada.

*O primeiro perfil dessa série, publicado pela colunista, foi o secretário estadual de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas. Clique aqui para ler ou reler. Os perfis seguirão sendo publicados na coluna, trazendo personagens de todos os espectros ideológicos. Aguarde o próximo, leitor. 

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Para ler, ver e ouvir

A colunista tem um defeito (dentre vários, aliás): nas artes, prefere aquilo que recai no mais cru realismo. Muita abstração, não. Mas, como sempre contrariando as próprias regras, deu uma segunda chance e foi ver o tão falado filme “Pobres Criaturas” (cinema). E, pasme: a película é um estupor de imagens belas e mensagens fortes. Uma jovem, Bella Baxter (Emma Stone, impecável), volta à vida através das mãos do cientista Dr. Godwin Baxter. Com a inocência de uma criança, e sem os preconceitos da época, Bella vai descobrindo o mundo, suas belezas e horrores. É uma jornada de libertação e como se tornar o melhor de si mesmo. Genial em todas as suas acepções.

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Senta que lá vem história

O então presidente Donald Trump ficou colérico quando o jornal New York Times divulgou um editorial de autoria anônima em que um alto funcionário do seu Governo relatava que Trump “agia de forma prejudicial à saúde de nossa República” e que os membros do gabinete trumpista cogitavam convocar a 25ª Emenda à Constituição americana - um último recurso para tirar do cargo um presidente considerado desonesto ou incapacitado. O governo era pintado como uma “creche de adultos”. 

Trump colocou a descoberta da fonte anônima como uma prioridade absoluta do Governo e mandou o Departamento de Estado investigar a autoria, como relatam Philip Rucker e Carol Leonning, autores de “Um gênio muito estável”. O presidente ficou paranoico e obcecado se estivesse cercado de alguém que não conhecesse. Apesar disso, a identidade da alta fonte não foi descoberta. E assim se faz o bom jornalismo...

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Cifrada das Leis da Economia

Pequenos candidatos (nem tão pequenos assim, aliás), com previsão de mil a mil e quinhentos votos, estão com a corda toda em Teresina. É que eles têm recebido ofertas tentadoras para entrar nas chapas proporcionais de partidos médios e grandes. “R$ 800 mil em obras de orçamento, mais uma ajuda mensal de uns R$ 6 mil e ainda o Fundo Partidário. Mas tô achando pouco”, relatou uma fonte empenhada em se eleger e convidada por três legendas simultaneamente. Quem chega por último, paga mais caro mesmo! É a economia, estúpido!

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Se conselho fosse bom

A vida é sobre vender a si mesmo. Há a venda fácil (indireta) e a venda difícil (direta). Comecemos pela última, que consiste em falar de si, divulgando seus feitos e argumentando suas realizações. Chato. Muitos vão se sentir até mesmo ofendidos e questionarão por que você se empenha tanto? A venda suave, por sua vez, consiste em conduzir um espetáculo que relaxe seu público, dando prazer em troca de atenção. Pare de reagir e comece a tramar. Você obterá o máximo em contrapartida.

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Foto do dia

Uma federação entre o PSDB e o Solidariedade está bem encaminhada para 2026. Isso é um dos argumentos levantados pelas cúpulas dos dois partidos na disputa pelo comando do PSDB em Teresina. A ala de Luciano Nunes e dos firministas que estão com Fábio Novo, sabem que a boa relação do presidente estadual do SDD, deputado Evaldo Gomes, com o presidente nacional, Paulinho da Força, conta pontos a favor de deixar o partido no mesmo campo político de centro-esquerda no Piauí. 

Esse jogo tem muitas peças e as maiores envolvem sempre Brasília e quem tem mais possibilidades de eleger um deputado federal na próxima eleição. Evaldo Gomes tem se movimentado como nunca! No registro da coluna, com o corretor e empresário Gustavo Cavalcante, que tem o apoio da ex-deputada Marina Santos e do ex-prefeito Marcus Vinícius para disputar uma vaga de vereador em Teresina.

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A frase para pensar

“Sempre que alguém rosna mais forte nos seus calcanhares, Getúlio atira um osso para quem resmunga se aquietar”, Agildo Barata (1905-1968), um dos líderes da Revolução de 1930.

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