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Bacanal ancestral

O começo da humanidade tem sido um desafio para a Ciência. Talvez que seja por isso que muitas pessoas não gostem de quebrar a cabeça pensando e já vão logo acreditando de cara nas saídas mais simplistas como o Paraíso de Adão e Eva e até que Terra é plana, para não ter que pensar muito!

De uns anos para cá descobriu-se muito sobre o nosso passado recente e algumas destas descobertas tem sido surpreendente. Há bem pouco tempo, cerca de 30 mil anos antes do presente (quando falamos em tempo geológico, 30 mil anos é uma fração bem pequena do tempo), a Terra era habitada por pelo menos seis espécies bem similares ao homem atual. Além de nossa espécie (Homo sapiens sapiens) viveram: Homem de Neanderthal, Homem da Ilha de Flores, Homem de Denisova, Homo luzonensis e o Homo erectus. Nós temos falado vez por outra sobre estas descobertas, porque elas atraem muito a atenção da comunidade de cientistas e também curiosos de outras categorias. Veja o que falamos sobre o mais recente descoberto das Filipinas e veja também aqui e aqui.

A descoberta da vez agora é que alguns destes hominíneos se intercruzaram. Já se desconfiava que Neanderthais e a nossa espécie já teriam tido esta experiência, a partir de descobertas feitas de fósseis da mesma idade em cavernas da França e da Espanha. Mas um artigo publicado na semana passada revista Science conta outras relações entre alguns destes hominíneos.

Genes de fósseis mostraram que os ancestrais de muitas pessoas vivas acasalavam com os neandertais e com os denisovanos, um misterioso grupo de humanos extintos que viveu na Ásia. Agora, uma enxurrada de artigos sugere que os ancestrais dos três grupos se misturaram pelo menos duas vezes com linhagens "fantasmas" ainda mais antigas de hominíneos extintos desconhecidos. Um candidato: o Homo erectus, um humano primitivo que deixou a África há 1,8 milhão de anos, se espalhou pelo mundo e poderia ter se acasalado com as ondas posteriores de ancestrais humanos.

Os novos estudos genômicos se baseiam em modelos complexos de herança e mistura populacional, e eles têm muitas incertezas, inclusive as identidades precisas dos estranhos companheiros de nossos ancestrais e quando e onde os encontros ocorreram. Mas, juntos, eles constroem um forte argumento de que mesmo antes que os humanos modernos deixassem a África, não era incomum que diferentes ancestrais humanos se encontrassem e se acasalassem.

A técnica ideal para detectar cruzamentos com seres humanos arcaicos é sequenciar o DNA antigo de fósseis do grupo arcaico e, em seguida, procurar traços dele nos genomas modernos. Os pesquisadores fizeram exatamente isso com os genomas neandertal e denisovano de até 200.000 anos da Eurásia. Mas ninguém foi capaz de extrair genomas completos de ancestrais humanos mais antigos. Assim, os geneticistas populacionais desenvolveram ferramentas estatísticas para encontrar DNA incomumente antigo nos genomas de pessoas vivas. Após quase uma década de avistamentos tentadores, mas não comprovados, várias equipes agora parecem estar convergindo em pelo menos dois episódios distintos de cruzamentos muito antigos.

Na Science Advances desta semana, Alan Rogers, geneticista da população da Universidade de Utah, Salt Lake City, e sua equipe identificaram variações em locais correspondentes nos genomas de diferentes populações humanas, incluindo europeus, asiáticos, neandertais e denisovanos. A equipe testou oito cenários de como os genes são distribuídos antes e depois da mistura com outro grupo, para ver qual cenário melhor simulava os padrões observados. Eles concluem que os ancestrais dos neandertais e denisovanos - a quem chamam de neandersovanos - cruzaram com uma população "super-arcaica" que se separou de outros seres humanos cerca de 2 milhões de anos atrás. Os candidatos prováveis incluem os primeiros membros de nosso gênero, como H. erectus ou um de seus contemporâneos. A mistura provavelmente aconteceu fora da África, porque foi aí que surgiram os neandertais e os denisovanos, e poderia ter ocorrido pelo menos 600.000 anos atrás.

A pesquisa entra agora num novo patamar, para detectar até onde esta mistura genética se deu. Pelo sim, pelo não é como se estas populações tivessem passado por um verdadeiro “bacanal” genético para chegarmos até onde estamos. Tem-se muito para descobrir ainda.

Bom carnaval para todos (as)!!!

(Com informações da Revista Science)

 

 

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