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E a Reforma do Ensino Médio?

Já tem algum tempo que escrevo sobre as polêmicas que envolvem a importante e necessária reforma do Ensino Médio. Escrevi um texto em 2017 sobre a Reforma em si (veja aqui). Em 2018, escrevi sobre a Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio (veja aqui). E há poucos dias opinei sobre a possibilidade de interrupção (veja aqui). O tema não é muito fácil de se discutir porque insere implicações conceituais, concepções de natureza política e interesses de segmentos que operam todo o sistema.

Ao leitor que gosta de temas relacionados a Educação deixo uma pergunta: o Ensino Médio serve para que, na vida do estudante? De imediato, um leitor com 30 e poucos anos de idade ou mais vai esbarrar na pergunta e não vai sair dela. O Ensino Médio prepara para ingresso à Universidade? Prepara para ingresso no Mercado de Trabalho? Prepara para a vida? Eu diria, do alto dos meus quase 40 anos de sala de aula que, na média, a resposta seria NÂO para todas estas perguntas.

Da forma como vinha sendo colocado na escola, o ensino médio não passa de uma fase de aprofundamento (muito raso, por sinal, em alguns aspectos) do que foi estudado no Ensino Fundamental. O estudante vê por três anos alguns dos temas que desenvolveu na base. Acrescenta algumas coisas, por vezes desnecessárias e pronto: está pronto para nada! Porque não há nenhum diferencial para o trabalho e nem abre tantas perspectivas assim para o Ensino Superior. Temos recebido um contingente cada vez maior de analfabetos funcionais nas universidades.

A reforma proposta não é ruim. O ruim dela tem sido a execução: a toque de caixa como se diz de algo que não foi planejado com esforço. Tão ruim quanto a decisão de paralisar por 60 dias (não vejo como isso vai mudar alguma coisa)! Tenho assistido muitos entendidos criticarem. Entendidos e “intindidos”. Há sempre o viés político que precisa ser compatibilizado para que se entenda o sentido verdadeiro da escola. Mas suprimindo todos estes poréns a reforma foi pensada para dar sentido ao ensino médio, como a transição entre a adolescência e o ser adulto. Mas penso que, em muitos aspectos, poderia ser diferente. Vejamos alguns pontos da minha opinião:

1) Exame Nacional de Ensino Médio - ENEM

Acho que deveria ser a primeira coisa a ser pensada na Reforma, e não a última. As escolas e sistemas precisavam entender primeiro para que deveriam estar formando. Se o ENEM vai continuar permitindo o acesso à Universidade, então quais as habilidades seriam importantes serem trabalhadas nos estudantes? O principal farol de muitas instituições ainda é o acesso à Universidade. Este ponto é muito importante.

2) Mercado de Trabalho

O mundo do trabalho está em transformação. Se os estudiosos já disseram que as crianças que começam hoje nas escolas, quase 70%, ocuparão profissões que ainda não foram inventadas, em que contribui uma reforma que não leva em conta estes aspectos? Na educação técnica, observam-se tendências do momento. Por isso a reforma tem que dar um espaço para que se pense sobre isso. Ou será que as pessoas não perceberam assim?

3) Formação de Professores

Se os professores vão implementar a reforma, porque a formação da futura geração de professores não foi pensada para antes da reforma? Os professores que formam professores sabem da reforma? A pergunta é provocativa, mas a resposta é mais provocativa ainda.

Em muitos pontos a reforma tem a minha absoluta simpatia. Propor que o ensino se baseie em premissas como Investigação Científica, Empreendedorismo, Processos Criativos e Intervenção sociocultural é a cara do jovem de hoje. Antenado, conectado e que precisa ser estimulado a aprender a resolver problemas. Os responsáveis pela reforma poderiam pensar no principal alvo dela: os estudantes. Venderam a ideia de que o estudante ia escolher o que estudar. Talvez a premissa principal não seja o que vai escolher. Não sei se aos quinze anos de idade a gente já desenvolveu perspicácia suficiente para escolher que não quer saber nada sobre Matemática, mas quer se tornar um gamer. Será que são temas tão dissonantes assim, para percepção de um jovem de 15 anos?

Penso que as coisas precisam melhorar muito para serem chamadas de ruins.

Sou a favor da Reforma do Ensino Médio. Mas a favor de uma reforma que ensine a pensar, que permita ao estudante que vislumbre os seus sonhos, de um mundo pródigo e de oportunidades para todos. Os jovens precisam de oportunidades que às vezes não estão aos seus alcances. Isso não é tão complicado. É preciso apenas um olhar acurado.

Até o próximo post...

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