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Diversidade

"Amor foge a dicionários e regulamentos vários"

Amar - Florbela Espanca

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui, além

Mais este e aquele, o outro e toda a gente

Amar! Amar! E não amar ninguém!

 

Recordar? Esquecer? Indiferente!

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disser que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

 

Há uma primavera em cada vida

É preciso cantá-la assim Florida

Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

 

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada

Que me saiba perder, pra me encontrar

 

Bilhete - Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

 

 

Amar - Carlos Drumond de Andrade

Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer, amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados, amar?

 

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal,

senão rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,

é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

 

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,

e amar o inóspito, o cru,

um vaso sem flor, um chão de ferro,

e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e

uma ave de rapina.

 

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.

 

Amar a nossa falta mesma de amor,

e na secura nossa amar a água implícita,

e o beijo tácito, e a sede infinita.

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