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Diversidade

Lgbtfobia e liberdade de expressão: armadilhas do discurso

Por Herbert Medeiros

O colunista do portal Metrópole, Guilherme  Fiúza, produziu um texto cujo título é sugestivo: “Linchadores da boa aparência”. O mote textual é a reação às postagens em redes sociais   do jogador de vôlei Maurício Sousa quando se mostrou ‘indignado’ com bissexualidade do super-herói Superman, anunciada pela DC Comics. A meu ver, Fiuza faz um malabarismo discursivo para   defender o indenfensável: o atleta  vem desde 2014 fazendo  postagens depreciando e recusando-se a respeitar  a vida de lgbt (ver aqui https://www.otempo.com.br/superfc/volei/mauricio-souza-central-do-minas-tem-historico-de-postagens-homofobicas-veja-1.2561412) .

O   raciocínio do colunista  é sorrateiro ao seduzir o  leitor e envolvê-lo  para  enquadrar o fato em sua visão parcial dos acontecimentos: primeiro cita  argumentos  para mostrar  que  lgbtfobias não têm  lugar em sociedades livres e democráticas: menciona  as lutas  em São Francisco(Califórnia)  pautando  conquistas legais e culturais para comunidade  lgbt+;  a grande aceitação pelo público  do artista  Paulo Gustavo como gay assumido.  

Ao citar movimento lgbts nos anos 60 do século 20, Fiuza desconsidera o fato histórico  de que os atos de que o movimento contra  intolerância e repressão à comunidade da Diversidade Sexual ocorreram em Nova York (1969) no levante de Stonewall. E ainda importante frisar: Alfred Kinsei, pesquisador norte-americano,  abriu novas perspectivas de investigação e  compreensão  sobre comportamento sexual humano ao lançar resultados de seus estudos  conhecidos como Relatório Kinsey.   As pesquisas foram financiadas pela Fundação Rockefeller, permitindo ampliar aspectos da sexualidade bem como influenciando ações políticas futuras em favor da Diversidade Sexual.  

De volta ao texto publicado no Metrópole, a  pegadinha para ‘justificar’ as posições do jogador de vôlei começa quando autor diz “O sucesso estrondoso de Paulo Gustavo não seria possível numa sociedade reacionária.” A partir daqui, ele(Fiuza)  passa a rotular de reacionário, demagogo,  censores  da ‘liberdade de opinião’,  ‘politicamente corretos’ e oportunistas  quem criticou e desmascarou a homofobia do atleta.

A análise  do colunista  reforça certo discurso de jogar para plateia da opinião pública o desejo (in)confesso de naturalizar lgbtfobia disfarçada de liberdade de expressão.  O mesmo Fiuza defensor das liberdades e  reconhecimentos de lgbts é o mesmo que  quer naturalizar  teor da postagem homofóbica do jogador. Nas entrelinhas da análise do artigo de opinião de Guilherme Fiuza, observa-se um não-dito tipo: essas reações  são mimimi e  vitimismo de quem quer calar liberdade de expressão.

Fiuza usa espaço de debate público para reforçar opiniões lgbtfóbicas, minimizar impactos de discursos recorrentes desqualificando a existência de lgbt+. É como se desse aval para  liberdade de humilhar, estigmatizar, rebaixar a existência de alguém por sua orientação sexual, identidade de gênero, condição sociorracial.  .

Outro ponto,  percebo a omissão  deliberada para não  usar sigla LGBT+. Tal jogo de linguagem representa forma de despolitizar  a luta política dos segmento da Diversidade Sexual por Direitos e Cidadania, considerando o fato de que não é só uma sigla, é um processo cultural, social e histórico para discursivamente pautar, conquistar  visibilidade e cidadania  de segmentos estigmatizad@s ao longo da História e os processos de violação de Direitos.

Por fim, liberdade de opinião não é liberdade pra constranger minorias sexuais, para desrespeitar suas condições de vida, para estimular parcela grande da sociedade a continuar discriminando negros/as e lgbts, ou seja, a serem racistas e homofóbicas. Como diz poeta Gonzaguinha: A gente quer viver pleno direito, a gente quer viver pleno respeito.

 

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